20:00 h – Posse de Novos Conselheiros Cariri Cangaço
1.Lúcia Maria de Souza Holanda “LUMA HOLANDA”
Entrega de Diploma por PROFESSOR PEREIRA
2. EDSON BARRETO
Entrega de Diploma por VALDIR NOGUEIRA
3.JAIR TAVARES
Entrega de Diploma por NARCISO DIAS
4.FLÁVIO MOTTA
Entrega de Diploma por EMMANUEL ARRUDA
5.Tenente Coronel RAIMUNDO MARINS
Entrega de Diploma por GERALDO FERRAZ
6.MARCUS VINICIUS MORAES
Entrega de Diploma por JORGE FIGUEIREDO
7.BISMARCK OLIVEIRA
Entrega de Diploma por IVANILDO SILVEIRA
8. CARLOS ALBERTO DA SILVA
Entrega de Diploma por MANOEL BELARMINO
20:10h – Entrega de Comendas de Mérito Cultural In Memoriam
JANIO FERREIRA SOARES In Memoriam
Entrega de Comenda por JOÃO DE SOUSA LIMA
JOSE SABINO BASSETTI In Memoriam
Entrega de Comenda por ÂNGELO OSMIRO BARRETO
VOLDI MOURA RIBEIRO In Memoriam
Entrega de Comenda por LUIZ RUBEN BONFIM
20:20h – Entrega de Diplomas Cariri Cangaço
1.Prefeitura Municipal de Paulo Afonso
Entrega de Diploma por Deputado INÁCIO DE LOIOLA
2.IGH - Instituto Geográfico e Histórico de Paulo Afonso
Entrega de Diploma por ELANE MARQUES
3.Gerência Regional da CHESF
Entrega de Diploma por CELSINHO RODRIGUES
4.ALPA - Academia de Letras de Paulo Afonso
Entrega de Diploma por RAUL MENELEU
5.Casa da Cultura
Entrega de Diploma por JOÃO DANTAS
6.Secretaria Municipal de Educação
Entrega de Diploma por RANGEL ALVES DA COSTA
7.Comando da 1ª Cia. de Infantaria
Entrega de Diploma por JOÃO DE SOUSA LIMA
8.Secretaria Municipal de Cultura
Entrega de Diploma por FLÁVIO MOTTA
9.Ivan Caitano Silva
Entrega de Diploma por JOÃO DE SOUSA LIMA
10. Folha Sertaneja
Entrega de Diploma por LUIZ FERRAZ FILHO
Dia 25 de Março - Sexta-feira
8:00h – Saída para Visitação
Visita Técnica e Conferências de Campo
1.Fazenda Dona Generosa
2.Museu Casa de Maria Bonita
Comenda Museu Casa de Maria Bonita
JOÃO DE SOUSA LIMA e MANOEL SEVERO
3.Serra do Umbuzeiro
4.Lagoa do Mel
14:30h – Saída para Visitação
Visita Técnica e Conferências de Campo
1.Casa da Cangaceira Lídia
2.Povoado do Juá
18:30h – Memorial da CHESF
18:40h – Conferência
“Os Anos de Pesquisa nas Estradas de Paulo Afonso”
JOÃO DE SOUSA LIMA
Mesa:
JORGE REMÍGIO
WESCLEY RODRIGUES
CLÊNIO NOVAES
19:30h – Lançamentos
“Maria Bonita a Rainha do Cangaço”
Por JOÃO DE SOUSA LIMA
“Cangaceiros de Lampião de A a Z”
Por BISMARCK OLIVEIRA
“Lampião em Serrinha do Catimbau”
Por JÚNIOR ALMEIDA
20:00h – Sessão Solene da ABLAC
Academia Brasileira de Letras e Artes do Cangaço
Apresentação da ABLAC e Posse de Novos Membros
Presidente ARCHIMEDES MARQUES
DIA 26 DE MARÇO – SÁBADO
8:00h – Saída para Visitação
Visita Técnica e Conferências de Campo
8:30h – Usina Angiquinho
“Quem Foi Delmiro Gouveia”
EDVALDO NASCIMENTO
“A Usina de Angiquinho”
FLÁVIO MOTTA
11:30h Lançamentos
“Quem Matou Delmiro Gouveia”
Por GILMAR TEIXEIRA
“Lampião e Historiografia de Sergipe - Vol 3”
Por ARCHIMEDES MARQUES
“Entre Rezas e Bacamartes”
Por VALDIR NOGUEIRA
14:00h – Saída para Visitação
Visita Técnica e Conferências de Campo
Complexo de Usinas da CHESF
FLÁVIO MOTTA e EDUARDO ANTONIO DA CRUZ
18:30h – Memorial da CHESF
18:40h – Conferências
“Lugares de Memórias como Testemunhos do Cangaço das Mulheres Pauloafonsinas”
LUMA HOLANDA
” A Ação das Volantes Baianas contra o Cangaço”
Tenente Coronel RAIMUNDO MARINS
Mesa:
MOACIR ASSUNÇÃO
MOUSTAFA VERAS
SULAMITA BURITI
20:30h – Lançamentos
“O Cangaço no Cordel na visão de uma Cangaceira Cultural”
Por CELIA MARIA
“As Pegadas de Padre Cícero”
Por HÉLIO ARAUJO
“Os Homens que Mataram o Facínora”
Por MOACIR ASSUNÇÃO
“Império do Bacamarte”
Por Joaryvar Macedo in memoriam
HÉLIO SANTOS
NOTA IMPORTANTE - CARIRI CANGAÇO
Para um melhor esclarecimento sobre o Cariri Cangaço Paulo Afonso, ressaltamos que toda a agenda do evento é totalmente grátis, sem necessidade de inscrição prévia nem pagamento de nenhuma taxa. Os participantes serão responsáveis por suas próprias despesas; de hospedagem e alimentação. A Comissão Organizadora do Cariri Cangaço Paulo Afonso 2022 coloca a título de sugestão a indicação de dois hotéis, que estarão concentrando a grande maioria de nossos convidados; sendo: Hotel Belverede - Av. Apolônio Sales, 457 - Centro, Paulo Afonso - BA, Telefone: (75) 98833-3545 e Hotel Bela Vista - Av. Apolônio Sales, 385 - Centro, Paulo Afonso - BA, Telefone: (75) 3281-1339.
Esclarecemos ainda que, continuamos atentos à movimentação do quadro de pandemia de COVID 19 , e seguiremos rigorosamente as recomendações sanitárias e governamentais. Qualquer mudança em nossa agenda caso as condições sejam desfavoráveis, estaremos comunicando a todos. Não se preocupe, nosso compromisso é com você , sem dúvidas nosso maior patrimônio. Sejam todos muito bem vindos ao Cariri Cangaço, Território de Grandes Encontros.
Manoel Severo Barbosa - Curador do Cariri Cangaço João de Sousa Lima - Presidente da Comissão Org. do Cariri Cangaço Paulo Afonso
Tenaz perseguidor ao grupo de Antônio Inácio da Silva o cangaceiro " Moreno ".
Por ordem do chefe maior do cangaço, Lampião, o cangaceiro moreno encontrava-se no sul do Cariri cearense, por volta do ano de 1937 a início de 1938. O cangaceiro Moreno e seu grupo, tinham com finalidade um acerto de conta com o fazendeiro Antônio Teixeira Leite seu Tonho da Piçarra. Uma dívida do passado, a morte do Cangaceiro Sabino Gomes, lugar tenente em 27 de março de 1928. Essa missão foi determinada por Lampião a Moreno, por ele conhecer muito bem a região, antes mesmo de ingressar no cangaço, morou no município de Brejo Santo, bem próximo da Fazenda Piçarra.
Essa missão imposta por Lampião ao cangaceiro Moreno, era matar Antônio da Piçarra e levar a orelha como prova cabal do assassinato. Depois de várias tentativas,o cangaceiro Moreno terminou desistindo, e seu Tonho continuou vivo com sua invejável lucidez, memória e simpatia irradiante.
Moreno
Em perseguição ao grupo de cangaceiros que assolavam a região, o tenente Alfredo Dias, montou pontos estratégicos para prender ou até mesmo eliminar o grupo. A primeira estratégia sugerida pelo tenente, segundo informações dos moradores do antigo Macapá atual Jati, foi: vigiar todos as fontes d'águas da região, proibiu a venda de feira grandes, que na época era suspeitas, feira pra cangaceiros. Segundo moradores da região, era oferecida posição de destaque perante a força do governo, a quem fornecerá informação privilegiada.
Na passagem do Cangaceiro Moreno pela região, houve um desentendimento entre os moradores: Manoel Gomes da Rocha, Nóia Gomes e Pedro Carolino de Sousa no sítio São Francisco em Macapá, Jati.
Esquerda p Direita, circulados Manoel Gomes da Rocha, Nóia Gomes, Pedro Carolino de Sousa e o Tenente Alfredo.
Aconselhados pelo tenente Alfredo Dias, Nóia Gomes e Pedro Carolino, procuraram o Q.G. Quartel General da Cidade de Juazeiro do Norte, incorporaram a volante do tenente Alfredo Dias da Cruz e deram continuidade a campanha de combate aos cangaceiros em solo nordestino.
*É Diretor de Cultura no município de Jati, CE/19/02/22/.
De 1915 a 1922, Sinhô Pereira combateu os seus inimigos sem desfalecimento. Em 1921 ele aceitou em seu bando de cangaceiros três rapazes, Virgulino Ferreira e seus dois irmãos, Antônio e Livino, os quais deram um maior poder de fogo ao grupo de Sinhô.
Durante o ano em que Virgulino Ferreira e os irmãos lutaram sob o comando de Sinhô Pereira, os combate contra os Carvalho e a polícia, intensificaram-se.
Sinhô curtindo a velhice
Neste período, um dos combates mais duros foi o da serra da Forquilha, em São Francisco, onde Sinhô Pereira foi cercado numa casa por 126 soldados, contando ele com apenas 11 cangaceiros, entre os quais os irmãos Ferreira.
O cerco foi rompido, sem nenhuma baixa por parte dos cangaceiros.
Foi neste combate que Virgulino Ferreira ganhou o apelido com o qual passaria a ser conhecido na história do cangaço.
Durante o tiroteio entre os cangaceiros e os policiais, observou-se o fato de que o rifle de Virgulino Ferreira, de tanto atirar para dar saída aos homens de Sebastião de dentro da casa em que se encontravam, mais parecia um candeeiro ou um LAMPIÃO ACESO, resolveram dar-lhe o apelido de "Lampião".
Neste e em outros combates, Sinhô Pereira teve oportunidade de observar Lampião em situações limite e, quando resolveu abandonar a vida do cangaço, em 1922, não hesitou em nomear o jovem rapaz como seu sucessor.
Lampião em setembro de 1922
Do livro: Sertão Sangrento - Luta e Resistência De: Jovenildo Pinheiro
Ela é Maria da Anunciação ou como dizem outras fontes, Antônia Maria de Jesus. Era companheira do cangaceiro Baliza III(último da alcunha), morto na Várzea da Ema(BA) em Março de 1933.
A morte de Baliza foi um verdadeiro show de horrores, inicialmente ele foi preso junto a sua esposa pelo cabo Justiniano, depois de alguns dias iriam ser transferidos para Santo Antônio da Glória, atual Glória(BA), quando no meio do caminho toparam de frente com a força do Tenente Santinho, conhecidamente um dos mais ferozes e perversos militares deste fenômeno que foi o Cangaço. Santinho pediu que lhe entregasse o prisioneiro e o cabo assim o fez, começando a seção de tortura contra o cangaceiro.
"Em determinado momento, os soldados do tenente Santinho, acatando suas ordens, o amarram em uma árvore. O laço da corda de fibras de agave, sisal, e colocado na altura dos tornozelos do cangaceiro. Arrastam-no como se arrasta um tronco de madeira e amarram-no de cabeça para baixo num galho de uma árvore próxima.
Após está dependurado, é colocado pedaços de madeira bem perto da sua cabeça. Uma fogueira estava arrumada, a qual, logo, logo, estaria acesa, pelo próprio tenente Santinho.
O prisioneiro debate-se, gira para um lado, depois para o outro... Contorcendo-se feito uma cobra na areia quente, na tentativa vã de esquivar-se das chamas que consumiam seu corpo, Venceslau Xavier, tenta amenizar as dores causadas pelo calor das labaredas que assam, no sentido próprio da palavra, seu corpo.
No princípio, ouvem-se gritos horripilantes saídos das cordas vocais do cangaceiro Baliza, acompanhado do odor de cabelos chamuscados, para em seguida, a fumaça levar um cheiro de carne assada pelos campos sertanejos. Por fim, o suplício tem seu término, Baliza está morto."
Fontes: “Corisco - A Sombra de Lampião”- DANTAS, Sérgio Augusto de Souza. Página 145. 1ª edição, editora Polyprint Ltda, Natal-RN, 2015.
(CANGAÇOLOGIA.BLOGSPOT)
"Lampião e os Interventores" - Luiz Ruben F. de A. Bonfim.
Do mais antigo ao mais recente, nossos posts ainda seguem consultados, com regular periodicidade.
E um destes, A LITERATURA NA ÉPOCA DO CANGAÇO como um dos mais acessados, foi visto pelo amigo Eduardo Souto, do Rio, que notou no texto a falta de um certo titulo na coleção do pesquisador Angelo Osmiro, diga-se de passagem a maior do país, e imediatamente nos contactou para preencher esta lacuna.
Eduardo é neto do escritor G. Pinto que dentre suas obras escreveu O sertão, a Política e os Cangaceiros (1921). Pois bem, cumpade Eduardo, o livro já se encontra no gabinete do coroné em Fortaleza,CE.
A coleção está quase completa, graças a sua colaboração.
Fonte – Revista O Cruzeiro, Edição de 05 de dezembro de 1964, págs. 28 a 33.
Esse material que transcrevemos foi produzido em 1964 pelo
falecido jornalista Audálio Dantas, quatro anos antes da finalização da
construção do açude Cocorobó, uma obra do Governo Federal que cobriu a
antiga Canudos. Audálio foi até o sertão baiano para conhecer aspectos e
fatos do lugar antes da obra ficar pronta e percebeu que aquela
barragem não conseguiria apagar a História de um dos maiores e mais
sangrentos conflitos brasileiros. Quando ele lá chegou haviam se
passados 67 anos do final da Guerra de Canudos, mas o jornalista Audálio
conseguiu interessantes relatos de poucos sobreviventes ainda vivos e
até mesmo de um ex-combatente, um menino na época da guerra, chamado
Antônio Bruega. Realmente um relato muito interessante.
No ano 1896, meados de novembro, o Governo, que morava e dava
presença somente nas “terras grandes” de perto do mar, chegou pela
primeira vez às terras do sertão de Canudos, num ranger de dentes, para
combater o povo de lá, que andava de cabeça virada por causa de um certo
Antônio Vicente Mendes Maciel, mais conhecido como “O Conselheiro”.
O governo era a República, há pouco nascida; e, até então, como no
“tempo do Rei”, o sertão vivia ignorado. Foi preciso que um homem de
longos cabelos desgrenhados, vestido num camisolão azul atado à cintura
por um cordão de frade franciscano, gritasse por todo o sertão o seu
grito louco de “enviado de Deus”, a anunciar terríveis profecias e
depois amaldiçoar a República — a “Lei do Cão” — para que o Governo
desse presença no sertão de Canudos, síntese de muitos sertões.
Só que aquele sertão estava em pé de guerra “de nação contra a mesma
nação” — a guerra mais terrível que já se travou em terras do Brasil.
Tenente Pires Ferreira, com 104 soldados, foi quem primeiro chegou lá,
em nome da República, para dar combate ao grupo de “fanáticos
monarquistas” de Antônio Conselheiro, gente que do rei só ouvira falar.
Chegar a Canudos, que ficava, com seus cinco mil casebres, no meio do
sertão mais brabo da Bahia, os soldados não chegaram. Voltaram de Uauá,
depois de uma batalha terrível; a tropa fora assaltada de surpresa por
um bando de jagunços que até ali chegara de madrugada, numa fantástica
procissão em que se misturavam aos estandartes religiosos as
espingardas, os facões, os chuços de vaqueiros, as foices — as armas que
possuíam para enfrentar a “força do governo”, bem aparelhada com armas
de repetição.
Foi uma luta desigual, muita gente do sertão caiu, dez
soldados também.
O chão do Uauá ficou encharcado de sangue — o primeiro
sangue que correu na guerra fratricida. E muito mais sangue correria, do
ano 1896 ao 1897, mês de outubro, quando Canudos — Jerusalém cabocla,
tapera mártir — foi arrasada a ferro e fogo sem se render, porque homem
nenhum de lá ficou de pé. Lutando por um Deus vingativo que lhes
anunciava Antônio Conselheiro e vagamente por um regime de governo que
para eles fora sempre uma abstração, aqueles sertanejos broncos
escreveram páginas incomparáveis de heroísmo.
Durante quase um ano, a
guerra ensanguentou o chão seco do sertão, para onde convergiram forças
militares de todo o país. E, depois de sucessivos reveses sofridos pela
“força do governo”, que os jagunços, diante de suas vitórias, já
chamavam de “fraqueza do governo”, houve o grande cerco final, a
fulminante investida de milhares de soldados contra a fortaleza de
Canudos. E não restou pedra sobre pedra: ficaram “muitos chapéus e
poucas cabeças”, conforme anunciara muitas vezes, em suas delirantes
profecias, Antônio Conselheiro.
A República, que ignorava aquele povo e não soubera julgar as
verdadeiras razões de sua loucura coletiva, cometera o que Euclides da
Cunha, o grande intérprete dos sertões, tão bem classificou de “crime da
nacionalidade”. Mas a honra da República fora salva. Canudos, a imensa
tapera que se erguera à beira do rio Vaza-Barris como uma cidade
sagrada, para acolher o “povo escolhido de Deus”, transformou-se num
montão de ruínas e de cadáveres insepultos. Os “monarquistas fanáticos”
haviam finalmente sido exterminados. Mas um dia, poucos anos depois da
tragédia, gente daquele mesmo povo voltou e ergueu no mesmo local — o
imenso cemitério em que se transformou Canudos — outro povoado. De gente
pacata, talvez a mais pacata desta nossa vasta República.
Canudos viveu, desde o seu ressurgimento, por volta de 1907, até
1951, a sua vida “sem muita vida”, a modorrar sob a soalheira que faz o
mundo tremer. Vida igualzinha à de centenas de outros povoados dos
sertões. Continuava esquecida pelo governo da República.
Gente de lá só era lembrada de vez em quando, após a passagem de um
repórter ou de um turista mais contemplativo. Ainda se encontrava
jagunço brigador com nome bem grande gravado na História, como Pedrão e
Manuel Ciríaco, que saíram antes do extermínio. E poetas sertanejos,
contando e cantando em versos as histórias dos Belos Montes do
Conselheiro e das lutas ferozes que se travaram nas caatingas. Gente de
lá, basicamente a mesma dos tempos do Conselheiro, só não sabia era
explicar aquelas histórias. Os mais velhos, no seu jeito desconfiado,
ainda evocavam a figura do grande místico com uma simpatia mal
disfarçada. Alguns deles até se lembravam de frases pronunciadas pelo
Conselheiro nos sermões pregados na igreja nova, que também foi
fortaleza e terminou sendo destruída por balaços de canhão. Palavras que
têm também assentamento fiel na História, como aquela profecia, que
escreveu assim: “Em 1896 hade rebanhos mil correr da praia para o
certão, então o certão viverá praia, e a praia viverá certão”.
O sertão do Conselheiro, pregador inculto que se abeberara nuns poucos livros litúrgicos, como Horas marianas e Missão abreviada,
era ainda mais sertão, assim escrito: “certão”. Um sertão que seria
redimido no dia em que o rebanho de gente das “terras grandes” de perto
do mar visse a grande transformação e corresse para lá, terra que
deixaria de ser “certão”.
Pois o povo mais velho de Canudos contava essas histórias, a olhar
para os lados do Vaza-Barris, rio que corre por lá, quando o governo da
República chegou pela segunda vez e anunciou: “Canudos será destruída”.
Acreditaram uns, não acreditaram outros: só se fosse ainda por castigo.
Mas a sorte de Canudos estava selada, escrita nuns papéis trazidos por
um doutor engenheiro — o projeto de uma barragem para represar as águas
do Vaza-Barris, na garganta de Cocorobó, e sepultar sob as águas todo
aquele trágico pedaço de chão.
Quase certo, gente mais velha de lá deve ter pensado que a profecia
do Conselheiro estava por se cumprir e que chegada estava a hora de o
sertão virar praia. Um poeta sertanejo logo escreveu versos saudando as
águas que viriam, purificadoras, para matar a sede e criar vida e para
fazer praias enfeitadas com muita fartura de legumes nos lugares onde só
há mandacaru e xiquexique. As águas que chegariam “procurando dar aos
sertanejos agasalho e dos mortos de Canudos apagando o pó”. E outros
versos compôs o poeta, chamado José Aras, enquanto os engenheiros faziam
os primeiros estudos no local destinado à barragem:
O vasto cemitério de Canudos
Coberto d’água será um dia
A lua melancólica e os astros mudos
Glorificarão os mortos em harmonia.
Foi assim, em alvoroço sertanejo, que o povo do sertão de Canudos
recebeu os homens do governo que lá chegaram com a missão de destruir
pela segunda vez o arraial. A República se fizera novamente presente, só
que agora a missão era de paz. Em lugar de canhões e das “manulichas”,
vieram máquinas de escavar terra, que logo começaram, como enormes e
estranhos bichos, a roncar nas margens do Vaza-Barris, na garganta do
Cocorobó, exato lugar onde os jagunços comandados por Pedrão lutaram uma
luta terrível contra cinco batalhões comandados pelo General Savaget.
Pedrão, a quem Euclides da Cunha chamou de “o terrível defensor de
Cocorobó”, ainda estava vivo (morreu em 1958) e foi muitas vezes
assistir àquela invasão. Olhava, com admiração quase infantil, o
trabalho daquelas máquinas — a nova “força do governo” — que roncavam na
beira do Vaza-Barris, cujas águas vira muitas vezes tintas de sangue.
Pedrão morreu e não viu o açude, as águas claras da paz a fazer o sertão virar mar.
Porque a missão de paz do governo em Canudos foi, aos poucos,
transformando-se numa guerra contra o povo de lá. Dessa vez, apenas uma
irritante guerra burocrática, de marchas e contramarchas, enquanto se
joga dinheiro na garganta do Cocorobó e — diz o povo, voz de Deus —
também em gargantas muito maiores, de gente que manobra com ele.
Em 1954, três anos depois de iniciadas as obras da barragem, o
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas — Dnocs — já promovia
desapropriações de casas e roças no povoado de Canudos e em toda a área
prevista para ser inundada (26 quilômetros quadrados). Pela casa de
Maria Mendes, irmã de Manuel Ciríaco, sobrevivente da guerra anterior,
deram 2.600 cruzeiros, que terminaram se reduzindo a 1.900, porque um
tal de procurador que foi receber o dinheiro em Salvador cobrou 700 pelo
trabalho. Quem tinha roça de beira de rio, com muito legume crescendo,
também recebeu seus “poucos contos de réis” e ficou desorientado, sem
saber se continuava ou não, pois, enquanto uns diziam que “o açude vai
ficar pronto no ano que vem”, o pessoal do governo não informava nada
com precisão. Muitos abandonaram casas e roças, antes que um dia vissem a
inundação. Em muitos casos o dinheiro recebido a título de indenização
não deu nem para as despesas da mudança. Desse jeito, em verdade, o
açude de fazer o sertão virar mar não era construído para o povo de
Canudos, indiretamente expulso do seu pedaço de chão — o chão seco e
triste da caatinga, mas o chão amado de sempre.
Há os que ficaram, à espera da água (Canudos ficará sob 11 metros de
água), e há os que vieram ocupar casas vazias, gente retirante de outros
sertões. Enquanto isso, a barragem subia, a barragem descia, porque
primeiro ia ser uma barragem em curva, mas depois os técnicos
descobriram que era melhor uma barragem reta. E recomeçaram tudo, entra
engenheiro, sai engenheiro, obras param e obras recomeçam, até hoje,
treze anos depois daquele dia em que o governo da República chegou a
Canudos em missão de paz.
Nem um engenheiro nascido nas mesmas terras de Canudos, chamado
Accioly, conseguiu levantar a barragem. Saiu de lá em julho deste ano e
foi responder a um inquérito, acusado de desvio de verbas e material.
Agora, lá estão dois novos engenheiros — Waldemar Correia Lopes e
Antônio Carlos de Mello — em nome do governo atual. São moços e estão
com vontade de trabalhar. Mas não sabem — nem podem dizer — quando o
açude estará terminado. Tudo dependerá, naturalmente, da boa vontade (e
das verbas) do pessoal das “terras grandes” de perto do mar e agora
também das terras de outro sertão — Brasília.
O açude que o povo de Canudos espera será possível quando estiver
concluída a barragem reta, a última a ser projetada, de 1.300 metros de
extensão, 32 metros de altura e 196 metros de largura (na base). Os dois
novos engenheiros encontraram as obras na seguinte situação: prontas as
fundações e iniciados os trabalhos de construção de um enrocamento de
sustentação da barragem, que será de terra. Atualmente se processa
também o tratamento de rocha das fundações, por meio de injeção de
cimento. Isso feito, a barragem poderá ser erguida acima do nível do
rio. Se houver os recursos necessários, será possível barrar as águas do
Vaza-Barris no próximo ano, aproveitando-se o período entre duas
enchentes (o rio é seco praticamente durante dez meses). Se isso for
conseguido, em janeiro de 1966, quando se comemora o centenário de
nascimento de Euclides da Cunha, as terras de Canudos começarão a ser
cobertas pelas águas que apagarão, simbolicamente, uma imensa nódoa em
nossa História. Os senhores das verbas poderão prestar essa homenagem ao
nosso grande escritor, ao mesmo tempo que acabarão com a angústia do
povo que tão bem ele soube interpretar. Depois, o açude não será só “um
mar no meio do sertão”; será, principalmente, fator de melhoria para o
povo de lá. A Várzea do Canché, de terras planas e boas a se estenderem
até os limites de Jeremoabo, está incluída no plano de irrigação (10.000
hectares) que empregará as águas represadas. Não se destruirá Canudos
em vão.
A Canudos da espera, do sai não sai, é uma cidade que morre aos
poucos, por causa desse açude que o governo mandou fazer em Cocorobó.
Uma agonia que se prolonga há treze anos. Gente de lá, hoje, vive como o
próprio lugar: bocejando à espera do último dia, que poderá ser daqui a
um ano, ou dois, ou dez, quem sabe?
São umas noventa casas, a maioria em ruínas. Umas vinte e poucas
famílias têm morada lá, umas vivendo de plantar em tempo de chuva e
criar bode; outras, do trabalho na estrada que passa perto ou nas obras
do açude (em Cocorobó moram umas 2.000 pessoas, gente dos trabalhadores
nas obras); e outras, “do que Deus for servido”. Ao sol, presença
constante de todos os dias, Canudos é já uma cidade morta. A paradeira, o
mormaço a tudo encobrem — casas e gentes. Vez ou outra, uma velha de
xale negro à cabeça atravessa a praça, em pleno tremer do sol sobre o
chão avermelhado e seco. Mas passa como uma sombra, quase irreal, e logo
desaparece, engolida por uma porta qualquer.
Sinal de vida, vida, que ainda há são os meninos que aparecem quando o
sol se faz menos presente, nos fins de tarde, a brincar no vazio da
praça ou por entre as ruínas do que já foi casa de moradia. Esses
meninos, que se misturam aos bodes saltadores em seus brinquedos,
ignoram a agonia de Canudos, como ignoram o drama terrível que ali se
desenrolou. Essas casas que restam intactas e as ruínas em meio às quais
eles brincam foram edificadas com o barro embebido de sangue e sobre os
ossos dos que tombaram, indomáveis. Essas crianças e esses bodes pulam,
alegres, no chão do maior cemitério nacional. Um cemitério que se fez
um povoado e agora agoniza. Até o dia de ser sepultado para sempre sob
as águas.
Memória de Antônio Bruega, que dá testemunho de tudo
E disse Antônio Bruega, que foi menino de olhos e ouvidos abertos para tudo o que aconteceu:
Tudo aquilo foi uma “ordem”, muito alta, que tinha de ser cumprida, umaprofecia que corria o Mundo dando o aviso: neste sertão vai ter uma guerra deirmão contra irmão.
E disse mais Antônio Bruega, ao começar a dar seu testemunho, na sala
de chão batido de sua casa, no meio da caatinga, três léguas distante
de Canudos:
A verdade eu falo; gosto da verdade e não piso nela, senão escorrego e caio.
Do apóstolo Antônio Conselheiro e do que veio depois por via dele,
nos espantos do sertão, é que Antônio Bruega, de nome verdadeiro Antônio
Ferreira Mattos, dá testemunho de muito valimento, porque dele nunca
antes se ocupou repórter perguntador nenhum. Não foi ele nenhum jagunço
brigador, que idade para isso não tinha nos tempos da guerra. Mas viu e
sentiu tudo — o desenrolar daquele drama sem paralelo na História.
Só sei que eu tinha treze anos em 1897, porque assim falou meu pai dentrodum piquete, uns dias antes do fim de tudo. Agora, o senhor faça a conta econfira: já vou entrando nos oitenta. Mas memória boa eu tenho e vou contartudo, exato como foi.No princípio, pelos 1893, quando o Conselheiro chegou nos Canudos, já foipor via de um destempero que houve no lugar Bom Conselho, onde ele serevoltou e disse pro povo não pagar os impostos pra Lei da República. Saiu delá já sabendo que vinha força atrás dele. E levou muita gente, no rumo deCanudos, mas parou no Massetê, e lá a força o alcançou, e houve briga, e houvesangue.Era a “ordem” que principiava a ter cumprimento, vigie o senhor.
Contar esse pedaço de história, de que não foi testemunha de vista,
Antônio Bruega conta porque ouvia tudo da boca dos mais velhos, “dentro
do Canudo”, antes e durante a guerra que lhe matou pai, mãe e seis
irmãos. Dentro de Canudos, mesmo, ele viveu e sobreviveu para contar
tudo. Foi no tempo que durou a guerra. O pai tinha roça ali perto, nos
lados do Angico, uma légua retirada. A gente dele ia quase todo dia
ouvir sermão do Conselheiro e, quando começou a chegar tropa do governo,
foi toda morar “dentro da rua”, onde havia mais proteção.
Como era o Conselheiro?
Ah! Era ver um dos apóstolos. O trajamento era comprido, batendo nos pés, eo cabelo batia no ombro. E dizia pra ninguém aceitar a Lei da República, quede Deus não era. Quem estava do lado de Deus Bom Jesus não morria; só faziase mudar pro céu.
O menino Bruega, como toda a gente que lá vivia, acreditava em
verdade que o Conselheiro era santo mesmo. E hoje, pelo sim, pelo não,
há a dúvida, Bruega nega e afirma. E a justifica:
Naquele tempo todo mundo dizia que ele era santo, e eu também acreditava.
Não era o Santo Conselheiro figura que se mostrasse a toda hora, não
senhor. Vivia quase sempre dentro da casa dele, com guardas e beatos.
Bruega o viu nos sermões e quando, já a guerra tomando conta do sertão,
mandava fazer fogueira com o dinheiro maldito da República. E quando, um
dia, uma tropa tomando chegada, os homens foram ouvi-lo sobre o que
fazer. Quem mandar para receber a “fraqueza do governo”? E
respondeu-lhes o Conselheiro:
João Abade ou qualquer outro desses homens de vergonha.
Menino Bruega viu muito e ouviu muito, da igreja nova, na beira do
Vaza-Barris, na Rua da Caridade, num dos extremos da cidadela de
Canudos. E muitos foram os seus espantos, nesse ver e ouvir. Um foi no
dia em que as tropas do Major “Febrone” (Febrônio de Brito) chegaram à
serra do Cambaio, já esperadas pelos jagunços entrincheirados. Bruega
faz um parêntese na sua história e diz que “na obra deles (a história
escrita fora do sertão) escreveram que era 8 mil jagunços, mas não era,
não”. Pois naquele dia, bem cedinho, o pai mandou-o à roça, no Angico, a
ver se a chuva (caíra trovoadão na véspera) não enchera demais o riacho
das Umburanas e invadira as plantações. Foi e voltou, numa carreira.
Quando estava numa baixada, perto do Alto do Mário, ouviu o estrondo de
um trovão. Olhou pro céu, estava limpo, sem nuvem nem jeito nenhum de
chuva. Houve o segundo estrondo, e “então eu conheci que não era trovão,
era o fogo da tropa, era o fogo da ‘peça’ (canhão) de que tanto o povo
falava na rua”. Quando chegou a Canudos, viu o alvoroço, que um aviso
tinha vindo do Cambaio — “morreu muita gente nossa”. O irmão mais velho
dele estava lá, e o menino pensou com mais intensidade na morte.
Mandaram um reforço — “uns 50 homens, que não mandavam de muitos, não”.
João Abade era quem escolhia os combatentes e dizia: “Vão vocês, se
tiver precisão, vai mais”.
Naquele fogo morreu gente muita, gente da Rua do Canudo, no combate quese deu na Lagoa do Cipó, lugar de acampamento do Major “Febrone”. Água dalagoa, depois, ficou uma vermelhidão e ficou sendo aquele lugar chamado aLagoa do Sangue.
Bruega dá testemunho, bem dado, e tudo confere com a História, com
pequenas diferenças, principalmente de pontos de vista, que o dele é o
do povo de Canudos, já se vê. Major “Febrone”, militar de muita
correção, viu que a luta, naquelas condições encontradas na caatinga,
que seus soldados não conheciam, com gente braba como aqueles jagunços,
seria um inútil derramamento de sangue. E ordenou a retirada. Arma de
soldado, ficou por lá, na caatinga, e serviu para os combates que vieram
depois. Como o de Moreira César, que chegou “num cavalo pampa do
tamanho desta casa”, querendo acabar com Canudos num instante e terminou
se acabando ele, quando já ia entrando na rua. Foi um tiro que um
jagunço deu, e o comandante ferido foi a desgraça da tropa, que terminou
numa debandada de fazer dó, a correr pela caatinga, “os macacos na
frente, os jagunços atrás deles”. Na debandada deixaram até o corpo do
comandante ferido no caminho.
E disse Bruega:
Foi muita gente fidalga correndo de pé no chão!
E veio o fim, depois, quando chegaram forças de tudo que era lugar,
mais de 5 mil soldados, para acabar tudo de uma vez, cercando Canudos
por todos os lados. Quem tinha saído antes, muito bem; quem não, jeito
nenhum tinha mais “nem que a gente voasse, mesmo assim era derrubado;
quanto mais andando no chão”. O cerco durou muitos dias, pra deixar o
pessoal sem remissão de comida e de água. E quem não morreu de fome e de
sede morreu no grande incêndio final. Restavam poucos homens para a
luta, assim mesmo com fome e sem munição. Nem respondiam a tiro de
soldado, pra não ficar sem bala na hora de uma precisão maior. E o
bombardeio era de manhã a noite, sem paradeiro. Mulher e menino ficavam
dentro da igreja toda de pedra ou não davam presença na rua.
No dia do fim de tudo, o menino Bruega estava num piquete, junto com o
pai. Quem comandava era um Antônio Félix do Campo Alegre, morador na
rua que lhe dava o nome. A força foi apertando o cerco, assim “como quem
fecha a boca de uma mochila”. Do piquete, o menino via “o mundo
fervendo”. O tiroteio era tão grande “que tomava as oiças da gente e
estremecia a terra”. Assim ele considerava quando veio um portador, com
aviso:
Vamos socorrer a igreja, que os soldados estão entrando!
Os que estavam na Rua do Campo Alegre eram os últimos defensores de
Canudos. E desceram na direção da igreja-fortaleza, mas não tiveram
valia, que os soldados já a haviam tomado. Gente de Canudos brigava como
podia, no ferro frio, que munição já não tinha.
Antônio Félix do Campo Alegre descobrira uma trincheira, buraco no
chão, e lá ficou. Foi quando um beato do Conselheiro levantou uma
bandeira branca e desceu na direção da igreja, para pedir paz. Depois
voltou dizendo que todos se entregassem, mas ninguém quis isso, não.
Antônio Félix do Campo Alegre disse, o menino Bruega ouviu e agora dá
testemunho:
Se esse beato vier aqui, o primeiro a atirar nele sou eu!
Antônio Félix do Campo Alegre morreu no seu buraco, com outros
companheiros, a ferro frio. O irmão do menino Bruega, Evaristo, foi
apanhado vivo naquele dia, mas morreu no outro, degolado, como todos que
escaparam do fogo vingativo da República. A mãe morreu sob os escombros
da igreja nova, e ele ficou na casa de uma tia, de nome Rufina, até que
a fome e a sede o levaram aos vencedores. Queria se entregar de noite,
mas a tia disse que não, porque soldado, embriagado pela vitória, andava
abusando de mulher que pegava de noite na rua. Por isso, muitas delas
se jogavam nos incêndios dos casebres, com os filhos, para não sofrerem a
afronta.
Com Antônio ficara o irmão menor, chamado Pedro, de 6 anos. E foram,
junto com as mulheres e outros meninos, para um campo de prisioneiros no
riacho do Papagaio. Deitaram-se na areia, exaustos, mas soldado não
deixava ninguém dormir, não, senhor. Obrigavam a gente jagunça a dar
vivas à República vitoriosa.
Viu soldado procurar arma enfiando a mão em seio de mulher. E pensou,
lembrando os sermões do Conselheiro, que aquilo era a Lei da República,
“Lei do Cão”!
Depois foi a marcha dos prisioneiros — só mulheres e crianças, que os
homens morreram todos — no rumo de Monte Santo. E a ordem era matar
quem parasse no caminho. Dividiram os prisioneiros em grupos, cada qual
vigiado — aqueles infelizes rotos e mortos de fome — por 10 ou mais
soldados.
No grupo que ia ele, uma mulher ferida na perna, de nome Juana, não
aguentou, apesar de todo o esforço. Foi quando pararam para beber água
no Calumbi que Juana disse: “Não aguento mais, valha-me Nossa Senhora”,
mas as companheiras a animaram, e ela conseguiu ir até o lugar chamado
Boa Esperança e lá caiu. E então três soldados descarregaram as
carabinas nela. Menino Bruega olhou pra trás, mandaram que ele olhasse
para a frente. Ele mesmo tinha ferimentos (nas mãos e na clavícula),
cujas marcas tem até hoje, mas olhou sempre para a frente. Até chegar a
Monte Santo, prisioneiro da República.
Logo a República perdoou àquele menino o crime de haver nascido em
sertão de tão longe. E ele voltou ao chão de Canudos, para ser pastor de
bodes. Hoje, sem querer e sem dizer, é ainda jagunço — na paz de sua
caatinga. Quando dava o seu testemunho, dividia bem o seu povo (“nós”) e
os de fora (“eles”).
— Quando os “macacos” vieram aqui…
— No tempo da guerra?
— Não, senhor, outro dia mesmo.
Velho Bruega falava de uma comissão militar que estivera há poucos dias em Canudos.