segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Documentário

Feminino Cangaço

O Centro de Estudos Euclydes da Cunha apresenta o documentário “FEMININO CANGAÇO” dirigido por Lucas Viana e Manoel Neto, propõe uma reflexão crítica sobre a entrada das mulheres no cangaço, suas motivações, as superstições em torno delas, seus papeis dentro dos bandos, seus costumes, crenças e dramas pessoais.

Trata-se de melhor compreender a importância das mulheres na construção do que hoje entendemos como o fenômeno do cangaço e as destacar como sujeitos ativos desta história, mulheres que transgrediram os valores sociais de sua época e cuja força surpreende ainda nos dias atuais.



domingo, 30 de julho de 2017

'Tatu'

A paixão de Lampião no Pajeú das Flores

Por Sálvio Siqueira

Na saga cangaceira, referindo com exclusividade à época da lampiônica, já lá pelos anos de 1929, o “Rei do Cangaço”, Virgolino Ferreira, o cangaceiro Lampião, enamora-se da cabocla da Malhada da Caiçara, município, hoje de Paulo Afonso, BA, Maria Gomes de Oliveira, que, mais tarde, a imprensa carioca a chama de ‘Maria Bonita’, alcunha pela qual torna-se conhecida, mundialmente, até os dias atuais.

Nos primeiros anos da vida como chefe cangaceiro, o bando do ‘Rei Vesgo’ pratica inúmeros estupros e suas ações são com um toque a mais de maldades em suas vítimas. Porém, é fato de que, talvez pela maneira que eram tratadas em suas casas, pelos seus familiares, as moças tinham sonhos de estarem com seus corpos envolvidos pelos braços dos bandoleiros. As notícias, divulgadas pelo meio de comunicação da época, jornal escrito, e mesmo a propalada oralmente de boca em boca, de pessoa a pessoa, não as faziam temer estarem com eles. Claro que não podemos generalizar, dizer que eram todas, talvez as que assim sonhavam, pensava, fossem a exceção. Sendo uma ilusão de ‘libertarem-se’ da maneira, modo, como eram ‘tratadas’ no seio familiar.

A história, descrita por vários autores, nos traz Maria de Déa como sendo a pioneira em adentrar, fazer parte, de um bando de cangaceiros nos sertões nordestino. Outros ainda nos trazem a história de uma outra baiana, Anésia Cauaçú, Anésia Adelaide Cauaçu, que fora uma cangaceira que viveu na região de Jequié, interior da Bahia, no início do séc. XX. Só que essa era a líder dos bandoleiros, e não uma simples companheira como foram ‘Maria Bonita’, ’Dadá’, ‘Sila’, ‘Adília’, ‘Quitéria’, ‘Cristina’, ‘Lídia’, ‘Durvinha’... e tantas e tantas outras sertanejas.

Pois bem, voltando no tempo, muito antes dos anos em que se deu o encontro de Lampião com Maria Bonita em território baiano, deu-se um caso amoroso entre ‘ele’ e uma jovem cabocla alagoana no Vale do Pajeú das Flores. Admira-me que, embora vários autores saibam, porém, não citam uma linha se quer sobre o caso em suas obras. Já outros, nem de longe imaginam tal fato, aí é impossível dizerem algo. No entanto, esse episódio, o caso, é fruto de narração oral colhida pela pesquisa de campo de um pesquisador sério da cidade de Calumbí, PE, onde nos relata claramente, minuciosamente, no livro “A Maior Batalha de Lampião”, Lourinaldo Teles Pereira Lima, 1ª Edição, 2017, nosso amigo Louro Teles, o qual, também, estranha a falta de insistência, ou assistência ao caso, de outros pesquisadores do tema sobre tal citação.

Nas andanças constantes dos cangaceiros, eram nômades, eles raramente comiam bem, mas, sempre que possível, faziam uma refeição decente. Esse alimento não era, na maioria das vezes, preparado por eles. Sempre eram feitos por algum coiteiro e levado para onde o bando estava acampado. Outras vezes, os próprios cangaceiros chegavam às moradias dos sertanejos e pediam para que fosse feito comida. Lampião sempre pagava, e bem, por esses serviços prestados. Não que ele fosse bonzinho, mas, por que pagando, tinha um aliado a seu serviço, sempre, e fora mais uma tática usada por Virgolino que deu bons resultados.

Em 1924/25 a caterva do ‘cego’, chega a uma simples moradia situada na zona rural de Mata Grande, AL. Lampião se apresenta e pede para o dono da casa preparar comida para a cabroeira. Enquanto esperam aprontarem a refeição, os ‘cabras’ começam a prosearem entre si. Alguns começam a jogarem cartas embaixo de alguma árvore que tinha no aceiro do terreiro. Outros apenas proseiam, contando suas aventuras para os amigos e, outros ainda, apenas descansam.

O chefe proseia com o Patriarca da família. Escondida em algum lugar, escolhido por ela, estava a jovem Maria Ana da Conceição que não perdia um movimento se quer de Lampião. O pernambucano percebe o insistente olhar daquela jovem sobre ele. Chegando a jovem, aproveita oportunidade, para prosear com ela. Ela, naturalmente está com o seu jovem corpo todo a tremer, não com medo, mas por está loucamente apaixonada por o fora-da-Lei, e o mesmo estar ali, diante dela.

Virgolino gosta da moça e depois de uma longa prosa com ela, pergunta se ela que ir junto com ele, fugir de casa, ir embora. De supetão a moça concorda. Parecia estar esperando aquela ‘cantada’.

Lembremos aqui que os cangaceiros tinham suas companheiras, suas namoradas e até mesmo suas esposas, não compondo os bandos, como ocorreu a partir de 1929, onde elas passam a fazerem parte dos próprios, mas, em algum local escolhido e mantido, financeiramente, por eles.

Citaremos, como exemplo, o caso do cangaceiro alagoano da região, segundo Érico de Almeida em sua obra “Lampeão-Sua História” (págs. 63 a 68), de 1926, próxima a Olho D’água do Casado, AL, município que faz limites ao Sul com o de Piranhas, AL, e ao Norte com o, hoje, de Delmiro Gouveia, AL, que nascera por volta de 1902, Antonio Augusto Feitosa, de alcunha Meia Noite. Meia Noite ao topar de frente Lampião e seus dois irmãos, os cangaceiros ‘Esperança’ e ‘Vassoura’, respectivamente Antônio e Livino Ferreira, onde diz que o segundo tinha lhe roubado nove contos de réis, logo após o ataque a cidade paraibana de Sousa, em 27 de julho de 1924, recebe do próprio Lampião quantia equivalente e é mandado embora do grupo. Por ter sido um dos que mais fizerem arruaças em Sousa, PB, conta-se que andou montado de esporas no juiz daquela comarca, Meia Noite passa a ser muito perseguido pela Força Pública da Paraíba, pelos homens, jagunços, do coronel José Pereira, de Princesa Isabel, PB e pelos próprios cangaceiros de Lampião.

Virando um cangaceiro solitário, Meia Noite começa a ‘visitar’, sorrateiramente e a noite, várias fazendas na região de Patos do Irerê, pedindo guarida. Logicamente, pagando bem, por uma noitada num celeiro, engenho ou casa de farinha. O detalhe é que ele levava a ‘tira-colo’ sua amante, namorada, companheira, chamada Zulmira, que no fogo da fazenda Tataíra, passa a noite recarregando as armas, enquanto seu companheiro enfrentava, sozinho, mais de oitenta homens.

Em certo momento, quase ao romper da aurora, o cangaceiro pede garantias de vida para sua companheira Zulmira, pois achava que não escaparia daquela arapuca, no que é atendido. Essa é presa e em pouco tempo solta. Desse cerco ele escapa, apesar de ter sido ferido em uma das pernas e, ao pular uma cerca, ter quebrado um dos braços, porém em pouco tempo é descoberto e assassinado por dois homens a mando do coronel Zé Pereira. Contaremos essa passagem da história, da valentia do negro Meia Noite, em outra oportunidade.

“(...) Depois de conversarem um pouco, Lampião disse:
“- Tem coragem de ir embora comigo?”
Ela, imediatamente, respondeu:
“- Tenho”. (Ob. Ct.)

Fizeram os preparativos. Sabia o pernambucano que teria que ter os cuidados redobrados com a presença de uma mulher no bando. Partem pala madruga em direção ao Leão do Norte, mais especificamente para um aglomerado de casas, hoje um povoado, denominado Roças Velhas, próximo ao distrito de São Serafim, hoje, município de Calumbi, PE.

“(...) Eles partiram pela madrugada em direção ao estado de Pernambuco, caminharam alguns dias e vieram sair em Roças Velhas, hoje um povoado pertencente ao município de Calumbi, mas naqueles dias eram apenas algumas casas isoladas no centro da caatinga, um dos redutos da família Teles. Roças Velhas foi fundada por Vitor Teles(...).” (Ob. Ct.)

Chegando ao novo ambiente, é providenciado uma choupana, palhoça, ou algo parecido, para que o ‘casal’ se aconchegasse. Depois de vários dias, curtindo a vida, Lampião recebe a informação de que as volantes estão rondando nas proximidades. Chega para sua namorada e diz o que fará nos próximos dias, principalmente em relação a segurança dela.

“(...) Lampião percebendo o perigo falou para Maria:

- Olhe Maria, vou ter que me afastar por um tempo, mas quando as coisas acalmar eu volto!
Respondeu Maria:
- Mas como é que eu vou ficar aqui? O dono da terra vai butá eu pra fora, e para onde eu vou?
Lampião colocou a mão no bornal, tirou dele um frasco redondo com tinta, uma pena e um papel e escreveu dizendo:

- Eu já medi um pedaço de terra, fiz o documento! Tome, guarde e pode dormir sossegada que daqui ninguém lhe tira! (...).” (Ob. Ct.)

O local escolhido pelo “Rei do Cangaço” para sua namorada ficar, era estratégico. Em sua volta ficavam vários esconderijos, em várias propriedade e fazendas, usadas por ele, tais como: “A Serra Grande, a Pedra D’água nos Barreiros, a Fuxico, o Saco dos Campos e As Pedreiras”. Mesmo que ele não pudesse ir ao casebre onde ela estava, ele enviaria um recado por algum de seus ‘cabras’ ou coiteiro, e a mesma iria até onde ele se encontrava.

Essas terras em que fora alojada a moça que veio das Alagoas, nas Roças Velhas, ainda hoje pertencem aos descendentes da família de Maria Ana da Conceição. Como em quase todos existem alcunhas, aqui pelo sertão, Maria Ana ganha o apelido de ‘Tatu’, e assim torna-se conhecida em toda região. O inevitável aconteceu, Maria Ana engravidou e pariu um feto vivo do sexo masculino, o qual deu o nome de Elizeu. Essa criança nasce em agosto de 1926, porém, Lampião, para despistar futuras investigações, acresce a idade da mesma, ordenando que se coloque em seus documentos uma data anterior ao seu início na saga. Assim é feito. A documentação da criança é feita como se ela tivesse nascida em princípios de 1917.


 “(...) antes de ir embora preparou o documento de Elizeu como ele queria que ela fizesse e mandou registrá-lo com o nome de Elizeu Florentino dos Santos, filho de Laurentino de Campos e Maria Ana da Conceição nascido no dia 10 de janeiro de 1917. Fez assim para confundir a polícia. O menino nasceu em 1926. Tatu dizia que no tiroteio da Serra Grande Elizeu tinha três meses de idade. Esta versão foi contada a mim por Josefa Bernardo, esposa de José Florentino dos Santos, neto de Tatu(...).” (Ob. Ct.)

‘Tatu’ tinha uma amiga, Josefa Bernardo, a qual morou por muitos anos na mesma casa em que morava a namorada de Lampião. Ela referia sempre os comentários da amiga quando citava suas ‘aventuras’ com o “Rei dos Cangaceiros’, quando estavam no terreiro da casa, em Roças Velhas.Outros moradores do povoado Roças Velhas, no município de Calumbi, PE, como “dona Guilhermina Francisca da Conceição”, que tinha o apelido de ‘Guiler’, e o senhor José Francelino de Souza, foram algumas, das várias pessoas que relataram sobre esse namoro entre Lampião e a jovem alagoana 'Tatu, Maria Ana da Conceição.

Assim, levamos ao conhecimento dos senhores (as), mais um caso envolto pelos mistérios da saga do Fenômeno Social Cangaço. Na obra/fonte pesquisada, há referências de testemunhas, as quais relataram ao pesquisador todas essas informações e outras mais. Esse livro é de primordial importância ter-se em nosso acervo literário.

Fonte "A Maior Batalha de Lampião" - LIMA, Lourinaldo Teles Pereira. 1ª Edição. Paulo Afonso, BA, 2017.

Foto Ob. Ct.
tokdehistória.com

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Novo livro na Praça

Lampião e o Cangaço na Historiografia de Sergipe

Por Archimedes Marques

A história do cangaço sempre foi banhada em mitos, galgada em criações, mergulhada em invencionices, submergida em exageros e até mesmo estrangulada em mentiras propositais ou omissões descabidas, sem contar com as tantas lendas dai surgidas, por isso é tão diversificada, tão bifurcada, possui tantas vertentes, pois além de tudo Lampião, o símbolo maior desse tema virou um Mito, um mito, acredito impossível de desmitificá-lo.

Então, em busca da história mais verossímil possível idealizei há cinco anos atrás o projeto de escrever este livro, um livro histórico, mas também um livro de debates, um livro que procura dissecar determinado assunto tão diverso e diferente de um autor para outros.

Nesse sentido também busquei opiniões de diversos pesquisadores, inclusive membros de grupos de estudo do cangaço, com destaque para o amigo Sálvio Siqueira com seus excelentes textos. Por isso o livro fora crescendo e se transformou em cinco volumes, pois além de Sergipe, por inevitável ingressamos noutras paragens. Assim, das minhas andanças e demais pesquisas também trago fatos novos, nunca divulgados, ou pelo menos pouco conhecidos e pouco divulgados, além de fotografias e documentos comprobatórios inéditos.

Desse modo, espero ser bem compreendido e acolhido no meu propósito e que esta pesquisa só venha a somar na compreensão desse tema tão empolgante quanto intrigante, proveniente de um doloroso drama vivido por milhares dos nossos antepassados sertanejos.

Espero que também gostem dos meus "ANJINHOS" dando as boas vindas ao livro "Lampião e o Cangaço na Historiografia de Sergipe", que terá o lançamento de origem do primeiro volume no Cariri Cangaço Exu.



Quero comprar

Você pode adquirir o seu exemplar via correios a partir do dia 24/07. Basta entrar em contato com o autor pelo email archimedes-marques@bol.com.br ou pelo Telefone (79) 98822-3832 (Oi)
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domingo, 16 de julho de 2017

Jorge Amado e Dadá

A amizade entre o célebre escritor e a ex-cangaceira

O grande escritor baiano Jorge Amado fala sobre o enterro das cabeças de Lampião e Corisco e, sobre a a amiga ex-cangaceira Dadá..

OBS: Poucos sabem disso, mas foi ele, quem doou o Jazigo Perpétuo e o caixão para que Dadá sepultasse os ossos de Corisco, seu ex-companheiro de vida no cangaço.

O Vídeo é de 1977 resgatado por Pedro Urizzi - Youtube


Pesquisa de Volta Seca publicada no Grupo Cangaço Discussão Técnica - FaceBook

O Sertão vai parar!

Programação Cariri Cangaço Exu

Impossível não ficar entusiasmado com a realização de mais um Cariri Cangaço, desta vez em Exu e Serrita, no "Araripe de Pernambuco". Na verdade não apenas pelo evento em si; que já é um dos maiores realizados por nossa marca; mas por toda singularidade e capilaridade que o mesmo acabou alcançando. Foi uma gestação prazerosa; exatos 9 meses; entre a primeira reunião de planejamento na cidade de Exu até a noite de abertura do evento, neste próximo dia 20 de julho, concretizando um sonho de toda a família Cariri Cangaço.

Poderia passar alguns dias falando da Programação, entretanto tenho que exercitar meu poder de síntese para que os amigos possam aquilatar o que conseguimos, com o esforço de muitos, reunir neste grande Cariri Cangaço Exu. A cultura, a memória e a história do sertão estão em festa. Aqui vamos encontrar o verdadeiro elo que une toda a nação nordestina. Em seu berço, o grande convidado especial será o Rei do Baião; Luiz Lua Gonzaga; em sua homenagem a programação contempla toda gratidão e respeito ao maior embaixador do sertão de todos os tempos. As homenagens ao próprio Luiz Gonzaga, in memoriam, com o Título "Personalidade Eterna do Sertão" concedido pelo Conselho do Cariri Cangaço, passando pela entrega do Título de Cidadão de Floresta e desembocando com as homenagens a quem, ao lado dele fizeram acontecer, como seus sobrinhos: Joquinha e Piloto e ainda seus companheiros de baião: Enio, Pedrino e Islanio, iniciam um conjunto significativo de homenagens.

A força de Luiz Gonzaga também se fará sentir nas qualificadas apresentações de Wilson Seraine, Reginaldo Silva, Paulo Vanderlei, José Nobre, Mucio Procópio, Kydelmir Dantas, Juliana Pereira, Joquinha Gonzaga e Piloto, em Mesas de Debates pra lá de preciosas, onde poderemos "beber da fonte" isso tudo no berço do Rei do Baião, Parque Aza Branca.

A emoção não para por aí, um Trio pra lá de especial vai inundar o Cariri Cangaço Exu do que temos de mais importante em nossas vidas:Esperança. Pedro Lucas Feitosa, 12 anos; Cecilia do Acordeom, 9 anos e Pedro Motta Popoff de 11 anos, verdadeiros representantes da alma nordestina, crianças espetaculares, cada uma com seu talento mais que especial, nos darão a medida certa de que podemos sim dizer que trilhamos o caminho certo...

Em Exu é necessário ressaltar a grande força e tradição histórica de suas famílias. As visitas à fazenda Caiçara, onde nasceram dois vultos da historia de Exu; a incomparável Bárbara de Alencar, ou simplesmente dona Bárbara; grande heroína brasileira ainda no século XIX quando ao lado de seus filhos protagonizaram as revoluções; Pernambucana e Confederação do Equador;  e ainda o Barão de Exu, nos mostram a riqueza e força do lugar. Ali também na Caiçara haveria de nascer o pequeno Luiz Gonzaga do Nascimento;oportunidade em que iremos visitar o Museu de dona Bárbara e o Marco da Casa do Rei do Baião .

Dali até o largo da espetacular Fazenda Araripe, onde teremos a visita a famosa Casa de Januário, à Casa do Barão de Exu, sensacional e a não menos espetacular igreja de São João Batista do Araripe, um dia sem igual. A historia de Exu se perpetua ainda dentro de nossa programação com a Conferencia "Exu, 3 séculos de história" com a grande memorialista, historiadora e escritora exuense, Thereza Oldam, que ao lado de Givaldo Peixoto, Leandro Fernandes e Alvenir Peixoto, capitaneiam um noite espetacular.

O município de Serrita será nosso outro grande anfitrião. Aqui dois momentos marcantes de nossa programação. O primeiro será a visita seguida de conferencia a Vila da Ipueira dos Xavier; exatamente localizada entre Exu e Serrita e berço da tradicional família Xavier e de um dos episódios mais emblemáticos da historiografia do cangaço. Ali nos anos 20, Pedro Xavier e alguns familiares resistiram e evitaram a invasão à vila do bando de Lampião, mas quem vai nos contar essa historia será um neto de Pedro Xavier: Eimar Xavier que além de nos contar como tudo aconteceu ainda vai nos mostrar cada cenário do famoso embate . Ali os convidados Cariri Cangaço terão a oportunidade de almoçar com os próprios moradores do lugar numa autentica integração do povo do sertão.

Serrita também será palco do encerramento do Cariri Cangaço Exu 2017, quando ao lado da Fundação Padre João Câncio, participaremos no parque Raimundo Jacó da 47ª Edição da festejada Missa do Vaqueiro de Serrita; uma iniciativa criada por Padre João Câncio, Luiz Gonzaga e Pedro Bandeira para homenagear o vaqueiro Raimundo Jacó, assassinado dentro da própria caatinga. Aqui abrimos um parêntese para enaltecer o trabalho, a dedicação e o compromisso de Helena Câncio na perpetuação da Celebração e mais que isso, na perpetuação dos valores que nos fazem uma nação de homens de raiz, força e fé. Na Missa do Vaqueiro de Serrita, o Conselho do Cariri Cangaço passará às mãos de Helena Câncio, representando a família, o Título de "Personalidade Eterna do Sertão" conferido in memoriam a
Padre João Câncio.

Como não poderia deixar de ter, o Cariri Cangaço Exu também estará realizando um conjunto de lançamento e relançamentos de muitas obras. Livros, documentários e projetos estarão sendo lançados durante o evento. João Monteiro Neto na noite de abertura nos apresenta seu espetacular livro, uma obra de fôlego, onde nos traz a historia e as origens de um dos mais significativos patrimônios do sertão: O aboio com o seu, "Aboio Poesia Improviso Cantoria, Origens"; e na mesma noite de abertura teremos o seu ponto alto com a conferencia "A Influência do Cangaço na Obra de Luiz Gonzaga" com o não menos festejado Wilson Seraine que ainda nos brindará com dois lançamentos espetaculares: “Cordéis Gonzaguianos - Antologia" e "A Festa da Asa Branca”; seguida de coquetel aos presentes.

Daniel Walker com “Padre Cícero, Lampião e Coronéis”, Louro Teles com “A Maior Batalha de Lampião - Serra Grande “, Calixto Junior com “Considerações sobre a Invasão Lavras por Quinco Vasques em 1910”, Elane Marques com "Sila - Do Cangaço ao Estrelato" serão algumas das obras relançadas dentro da programação como também o grande João de Sousa Lima com “Cem Anos – Luiz Gonzaga” e Antônio Vilela com “Dominguinhos – O Neném de Garanhuns” além de Archimedes Marques com o inédito "Lampião na Historiografia de Sergipe" e o aguardado "O Rei do Baião e Princesa do Cariri" de Rafael Lima. Aqui também teremos o lançamento do documentário de Laina Ramos,  “O vaqueiro, a missa e o couro”.

O evento promete reunir mais de 300 pesquisadores de todo o Brasil e um público estimado de mais de 4 mil pessoas em seus 3 dias de realização. Com reservas confirmadas já temos cerca de 250 pesquisadores de pelo menos 14 estados da federação. O Conselho Consultivo Alcino Alves Costa do Cariri Cangaço; formado por personalidades de destaque do universo do estudo e pesquisa da temática; estará presente com 21 de seus destacados membros, todos com participação ativa dentro da programação: Leandro Cardoso, Cristina Couto, Juliana Pereira, Kydelmir Dantas, Ivanildo Silveira, Mucio Procópio, Wescley Rodrigues, Professor Pereira, Narciso Dias, Jorge Remígio, Antônio Vilela, Ana Lucia Sousa, Manoel Serafim, Celsinho Rodrigues, Edvaldo Feitosa, Archimedes Marques, Raul Meneleu,Kiko Monteiro, João de Sousa Lima e Luiz Ruben, formam a linha de frente de condução do evento.

20 Conselheiros presentes em EXU...

Temos a satisfação de contar ainda com uma verdadeira legião de confrades, igualmente talentosos que estarão ao nosso lado desenvolvendo  essa grande programação. As participações de Heitor Macedo, Emerson Monteiro e Huberto Cabral, representantes do ICC; de nosso Presidente da SBEC; Benedito Vasconcelos que na oportunidade estará entregando Comendas "Alcino Alves Costa" a personalidades presentes; Dimas Macedo da Academia Cearense de Letras, de Francimary Oliveira, Camilo Lemos, Carlos Alberto, Noádia Costa, José Bezerra Lima Irmão, nos dão a certeza da consolidação de um esforço para construir uma grande programação.

Sérgio Brayner ao lado de Helenilda Moreira, Kiko Monteiro e Ivanildo Silveira prometem desvendar os segredos das redes sociais e a importância na difusão da cultura e turismo do sertão, neste mesmo momento seremos presenteados com a arte dos pequenos no Xaxado do Garotos da APAE de Serra Talhada, imperdível e os embaixadores do Cariri Cangaço no Xaxado; Quirino Silva e Célia Maria, sem falar nas bençãos do capelão Padre Agustinho e ainda Padre Fábio Mota

Ainda dentro da programação do Cariri Cangaço, a Curadoria estará apresentando aos presentes os novos desafios da marca para os meses que virão. O prefeito de Delmiro Gouveia, Padre Eraldo ao lado da Secretária de Cultura Patricia Brasil, do vice-prefeito de Água Branca, Maciel Silva e dos Conselheiros Celsinho Rodrigues e Edvaldo Feitosa, apresentam a programação prévia do Cariri Cangaço Trilogia unindo de forma espetacular, em Setembro: Delmiro Gouveia, Água Branca e Piranhas. Logo em seguida, o Conselheiro Manoel Serafim e as pesquisadoras, Mabel Nogueira e Ana Gleide, de Floresta e Nazaré apresentam o Cariri Cangaço Floresta 2017-Centenário de Nazaré, e ainda dentro do mesmo momento os pesquisadores Rangel Alves Costa e Manoel Belarmino nos trazem o Cariri Cangaço Poço Redondo 2018, numa agenda ousada e fantástica do Cariri Cangaço.

Gratidão é algo que devemos cultivar com toda sinceridade em nosso coração. O Cariri Cangaço é uma realização de muitas mãos e muita emoção, à essa família gigante que reúne pesquisadores e apaixonados pela nossa cultura e historia de todos os cantos do Brasil, muito obrigado. Ao grande Conselho Alcino Alves Costa, a SBEC- Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, ao GECC, GPEC e GFEC, grupos de estudo do Ceará, Paraíba e Floresta; a Fundação Padre João Câncio, ao ICC - Instituto Cultural do Cariri, aos Grupos de Estudos e Debates nas redes sociais: O Cangaço, Lampião-Cangaço e Nordeste, Historiografia do Cangaço, Oficio das Espingardas e Cangaceiros, o nosso reconhecimento e profunda gratidão. Não paramos nunca !

Por fim dizer do grande apoio e acolhimento sem igual do município de Exu. Algo realmente sensacional, a partir da confiança no desenvolvimento do Projeto até o esforço em todas as fases de sua realização.

Ao estimado prefeito Raimundinho Saraiva, ao batalhador secretário de cultura Rodrigo Honorato, às queridas Alvenir Peixoto, Helenilda Moreira, Eliana Galdino, Carlina Araujo, aos amigos Bibi Saraiva, Cícero Marcelino e à equipe da secretaria de cultura: Elisângela, Creusa, Roachel, Lucélia, Auricelia, aos queridos amigos de Serrita, em especial ao Secretário de Cultura Thiago Câncio e a maravilhosa Helena Câncio; uma referencia para todos nós; ao grande amigo, grande pesquisador gonzaguiano, Wilson Seraine; patrocinador master de nosso evento com o seu "Programa a Hora do Rei do Baião"; a todo o pessoal do trade turístico, das pousadas; Isabel Albuquerque, Ramires, Duda, Dona Nêna, Adenildo, Erlen, Patricia, Dr Junior do Parque Aza Branca e a Milena Iria, representando a todos os colaboradores da ONG;  enfim, a todos que acreditaram que podíamos sim "fazer diferente" e... Estamos fazendo.


Eis a programação...


QUINTA-FEIRA, 20 de Julho de 2017

19h – Noite Solene de Abertura
Escola Bárbara de Alencar - Centro, Exu Apresentação da Orquestra SONATA DE EXU

19h20min – Formação da Mesa de Autoridades
19h30min – Hino Nacional
19h35min – Apresentação do Cariri Cangaço
Por Conselheiros CRISTINA COUTO e WESCLEY RODRIGUES

19h45min - Fala das Autoridades
MANOEL SEVERO
RODRIGO HONORATO
RAIMUNDINHO SARAIVA

20h10min – Entrega do Título de Cidadão Florestano a Luiz Gonzaga
BIA NUMERIANO

20h20min - “Personalidade Eterna do Sertão”
Por Conselheiros JULIANA PEREIRA e KYDELMIR DANTAS

20h30min – Lançamento
"Aboio Poesia Improviso Cantoria, Origens" de JOÃO MONTEIRO NETO



20h50min – Conferência de Abertura
"A Influência do Cangaço na Obra de Luiz Gonzaga" WILSON SERAINE DA SILVA FILHO

21h30min - Lançamento

“Cordéis Gonzaguianos - Antologia"
"A Festa da Asa Branca” de WILSON SERAINE e REGINALDO SILVA



22h - Coquetel de Abertura

SEXTA-FEIRA, 21 de Julho de 2017

8h30min – Saída para Serrita

9h30min – Capela da Vila de Ipueira dos Xavier
Entrega de Diploma à Família Xavier
Por Conselheiros JOÃO DE SOUSA LIMA e PROFESSOR PEREIRA

Conferência “O Fogo da Ipueira” EIMAR XAVIER

14h - Fazenda Caiçara - Exu
14h10min – Marco da Casa de Luiz Gonzaga

14h20min - Casa Museu de Dona Bárbara
AMPARO ALENCAR

14h40min- Entrega de Diploma Museu de Dona Bárbara
Por Conselheiros RAUL MENELEU e MANOEL SERAFIM

14h50min- Homenagem a Dona Bárbara
HUBERTO CABRAL

15h30min – Fazenda Araripe
15h35min - Visita a Casa de Januário

15h50min - Igreja de São João Batista do Araripe
AMPARO ALENCAR
16h – Saudação pelo Cariri Cangaço a Exu e à Família Nordestina
DIMAS MACEDO

16h30min - Visita a Casa do Barão de Exu

17h - Trio Pé de Serra no Araripe "CECÍLIA DO ACORDEON"



Entrega de Diploma
Por NARCISO DIAS e FRANCIMARY OLIVEIRA

19h30min Escola Bárbara de Alencar

19h40min - ICC - Instituto Cultural do Cariri
Lançamento da Parceria ICC - Cariri Cangaço
Revista 10 anos do Cariri Cangaço
HEITOR FEITOSA MACEDO e EMERSON MONTEIRO

19h50min – Segunda Noite de Lançamentos

“Cem Anos – Luiz Gonzaga” de JOÃO DE SOUSA LIMA

 “Padre Cícero, Lampião e Coronéis” de DANIEL WALKER

“A Maior Batalha de Lampião - Serra Grande “ de LOURINALDO TELES

“Considerações sobre a Invasão Lavras por Quinco Vasques em 1910”
JOÃO TAVARES CALIXTO JUNIOR

20h30min – Posse no Conselho Cariri Cangaço
Por Conselheiros ANA LÚCIA GRANJA SOUZA e LUIZ RUBEN

21h – Conferência
 “Exu ; Tres Séculos de História”  THEREZA OLDAM ALENCAR PEIXOTO

MESA
MODERADOR: LEANDRO CARDOSO FERNANDES, GIVALDO PEIXOTO e ALVENIR PEIXOTO TENÓRIO

SÁBADO, 22 de Julho de 2017

8h30min - Parque Aza Branca, Exu

9h - Os Desafios do Cariri Cangaço
CONSELHO ALCINO ALVES COSTA

9h10min – Apresentação do Projeto
"Lampião do Inicio ao Fim de Aderbal Nogueira" por MANOEL SEVERO

9h20min - Entrega de Comendas pela
SBEC-Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
BENEDITO VASCONCELOS MENDES

9h30min - Lançamento CARIRI CANGAÇO “TRILOGIA”
CELSINHO RODRIGUES – Conselheiro, Município de Piranhas
PADRE ERALDO – Prefeito Município de Delmiro Gouveia
PATRICIA BRASIL - Secretária de Turismo e Cultura
MACIEL SILVA – Vice-Prefeito de Água Branca
EDVALDO FEITOSA - Conselheiro, Município de Água Branca

10h - Lançamento CARIRI CANGAÇO FLORESTA
MANOEL SERAFIM – Conselheiro, Município de Floresta
MABEL NOGUEIRA – Comissão Organizadora, Nazaré do Pico
ANA  GLEIDE SOUZA LEAL – Comissão Organizadora, Floresta

10h30min -Lançamento CARIRI CANGAÇO “POÇO REDONDO 2018”

RANGEL ALVES DA COSTA e MANOEL BELARMINO

11h - Xaxado com os Meninos da APAE de Serra Talhada

Xaxado com QUIRINO SILVA E CÉLIA MARIA

11h30min - Roda de Conversa
"A Importância das Redes Sociais na Promoção dos Destinos Turísticos"
MODERADOR: HELENILDA MOREIRA
PAINELISTA: SÉRGIO BRAYNER
DEBATEDORES: KIKO MONTEIRO E IVANILDO SILVEIRA

15h30min – Parque Aza Branca
Mausoléu de Luiz Gonzaga
Museu de Luiz Gonzaga
Casa de Luiz Gonzaga
EQUIPE PARQUE AZA BRANCA

Entrega de Diploma ao Museu Luiz Gonzaga
CARLOS ALBERTO e CAMILO LEMOS

16h45min - Entrega de Comendas Cariri Cangaço a Personalidades
ARQUIMEDES MARQUES, JORGE REMIGIO e CELSINHO RODRIGUES

17h - Terceiro Dia de Lançamentos

 “O Rei do Baião e a Princesa do Cariri” de RAFAEL LIMA

“As Mulheres de Luiz Gonzaga” de MARCELO LEAL

“Lampião na Historiografia de Sergipe” de ARQUIMEDES MARQUES

“Dominguinhos – O Neném de Garanhuns” de ANTONIO VILELA

"Sila - Do Cangaço ao Estrelato" de Elane Marques



18h - Conferência
Luiz Gonzaga: O Homem e o Mito
MODERADORA - JULIANA PEREIRA
JOQUINHA GONZAGA
FAUSTO LUIZ MACIEL "PILOTO"
REGINALDO SILVA

19h – Apresentação do Museu de Luiz Gonzaga de Dom Quintino
PEDRO LUCAS FEITOSA


Entrega de Diploma ao Museu - Luiz Gonzaga de Dom Quintino
NOÁDIA COSTA e JOSÉ BEZERRA LIMA IRMÃO

19h20min - "Menino Pedro, do Cordel e do Baião"
PEDRO MOTTA POPOFF




19h40min – Conferência:
O Legado e a Espetacular Obra de Luiz Lua Gonzaga
MODERADOR: MÚCIO PROCÓPIO
PAULO VANDERLEY
JOSÉ NOBRE
KYDELMIR DANTAS

20h50min - Lançamento de Documentário
 “O vaqueiro, a missa e o couro”
LAINA RAMOS e DALILA CARLA DOS SANTOS


DOMINGO, 23 de Julho de 2017

8h – Saída para Serrita
Parque Raimundo Jacó Missa do Vaqueiro de Serrita
Entrega do Diploma “Personalidade Eterna do Sertão”
Padre João Câncio in memoriam
CONSELHO DO CARIRI CANGAÇO

10h MISSA DO VAQUEIRO DE SERRITA
Fundação Padre João Câncio
HELENA CÂNCIO


Cariri Cangaço Exu 2017
Realização:
INSTITUTO CARIRI DO BRASIL
PREFEITURA MUNICIPAL DE EXU

Patrocínio:
PROGRAMA A HORA DO REI DO BAIÃO





Apoio Institucional:

SBEC- SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS DO CANGAÇO
FUNDAÇÃO PADRE JOÃO CÂNCIO
GECC-GRUPO DE ESTUDOS DO CANGAÇO DO CEARÁ
GPEC-GRUPO PARAIBANO DE ESTUDOS DO CANGAÇO
GFEC-GRUPO FLORESTANO DE ESTUDOS DO CANGAÇO
PREFEITURA MUNICIPAL DE SERRITA
ICC - INSTITUTO CULTURAL DO CARIRI
GRUPO LAMPIÃO, CANGAÇO E NORDESTE
GRUPO O CANGAÇO
GRUPO OFICIO DAS ESPINGARDAS
GRUPO HISTORIOGRAFIA DO CANGAÇO

terça-feira, 16 de maio de 2017

Exposição fotográfica em Salvador

Pepita de fogo: O Cangaço e seu tempo colorizados

De 15 a 21 de Maio no Museu Geológico da Bahia. 


sexta-feira, 12 de maio de 2017

Lampião em Tucano

"Matar a 'perfessora' de Tracupá"

Por: Rubens Antonio (Blog Cangaço na Bahia)

"No vilarejo de Tracupá, BA lecionava a professora Mariana, um dos alvos de Lampião. Momentos sofridos vivenciou ali a dedicada professora Mariana Borges Cabral...

 Professora Mariana Borges Cabral


Encontrava-se a professora no oitavo mês de gestação, quando foi avisada pelo então prefeito doutor Theotônio Martins que Lampião se aproximava de Tucano... E, dentre os objetivos do cangaceiro, um deles era matar a professora responsável pela escola de Tracupá... Imaginemos o medo, o pavor sentido pela professora! Na ausência de seguranças, fez dos alunos seus protetores e, como a escola estava localizada no alto, os alunos ficavam observando quem entrava no lugarejo... Como o grupo dos cangaceiros tinha características próprias, foi fácil a identificação e o aviso imediato à professora, que, ao narrar este dia, costumava dizer:

- Que dia de agonia! Eu grávida, quase na hora de dar à luz, tendo que correr e me esconder em uma caatinga tão castigada pela seca, com poucas folhagens... Como ficar escondida? Onde me abrigar?

Andei mais rápido que podia e caí junto aos paus-de-rato... Fiquei ali. Rezei muito. Pedi a Deus que eles não me enxergassem. Momentos depois, todo o bando chegava ao local que eu estava. As patas dos animais estavam em minha frente e eles não me enxergavam... Agradeci a Deus. Minha oração foi forte. Ao retornar à escola, com todo o mobiliário destruído, encontrei o recado que o rei do Cangaço havia escrito na parede, usando como caneta o dedo sujo de sangue:  

"Perfessora foi que viu que correu! Não foi desta vez, mas vai ser de outra"


Escolinha de Tracupá, construída em 1926, conservada como era à época 
do ataque de Lampião.

Dias depois, meu bebê nasceu, mas nasceu morto, em consequência de tudo que passei. Fiquei com uma perna inchada, arroxeada, durante toda minha vida... O tempo passou. Pensei que estava livre do ódio de Lampião. Grande engano! Voltei a enfrentar a mesma situação pavorosa. Tudo se repetiu. Recebo novamente aviso de doutor Theotônio. Meus alunos voltam a ser meus seguranças e Lampião invade Tracupá pela segunda e última vez... Deixo a escola em disparada. Corro muito, pois, desta vez, não estava grávida.... Tinha mais forças... Encontrei um casebre com uma senhora bem idosa, vestida de preto, sentada nos degraus... Pedi ajuda e falei:

- Estou perseguida por Lampião! Não tenho onde me esconder! Preciso me disfarçar!
Ela me ajudou. Vesti um vestido preto. Enrolei um pano preto na cabeça. Peguei o cachimbo e esperei Lampião chegar sentada no degrau da casinha, em companhia da outra senhora.
Aparentemente, éramos duas viúvas na casinha de caatinga, fumando seus cachimbos e pensando na vida.
Ele chegou e perguntou:
- Minhas véia viu o diabo da perfessora passar por aqui?
- Não, senhor... Não vimo...
... E, assim, enganei Lampião..."

Estes fatos sobre a perseguição de Lampião à professora Mariana me foram narrados por sua neta, Maria Miriam de Miranda Prado... Ela jamais esquece..."

Contado por Rubens Rocha, de Tucano, em seu livro "Caminhos de Lampião", de 2009.

Professor Rubens Rocha mostrando o lugar em que caiu morto 
o tenente Geminiano, em Tucano.

 PS - Tracupá deve seu nome, segundo a tradição popular local, à existência de uma tribo antiga, dos "tracupã", no local. Esta localidade já foi também conhecida pejorativamente por "Brejo".

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Novidades na praça

Dois Cabras de Lampião: Corisco e Labareda, livro de Rubens Ximenes



Muito já se escreveu sobre o Cangaço e os cangaceiros, mas a maioria tem como figura central Virgulino Ferreira, o Lampião. Aqui, Ximenes destaca, além do Rei do Cangaço, dois grandes chefes de bando que foram Corisco e Labareda. Corisco, pela sua história de grandes combates ao lado de sua companheira Dadá, enfrentando grandes volantes e ao mesmo tempo, castigando os inimigos e os traidores.

Quanto a Labareda, ou Angelo Roque da Costa, que através do seu extenso relato, expõe crua e detalhadamente a vida, a luta e as atribulações dos cangaceiros frente a não menos cruéis volantes. Volantes que por sua vez, também matavam e torturavam pobres moradores suspeitos de colaborarem com o cangaço, praticando, muitas vezes, o roubo ou o saque à moda dos cangaceiros a quem eram pagos para combater.

Serviço
Livro: Dois Cabras de Lampião: Corisco e Labareda
páginas: 158
ano de edição: 2017
edição: 1ª
Valor: R$ 38
Vendas online pela editora Clique aqui

Exibição comemorativa

21 anos do filme "Baile Perfumado"


A Fundação Municipal de Cultura e Turismo (Funcaju) e a Universidade Federal de Sergipe (UFS) convidam todos para a exibição comemorativa dos 21 anos do filme "Baile Perfumado", que terá a presença do diretor Paulo Caldas.

O evento acontecerá na quarta-feira (10) no Centro Cultural de Aracaju, às 19h.

domingo, 16 de abril de 2017

Prima de "Gato"

Inocência Ferreira de Jesus, vive em Paulo Afonso, aos 111 anos de idade


Por João de Sousa Lima

Inocência Ferreira de Jesus, prestes a completar 111 anos de idade (nascida em 15 de julho de 1906 e ainda lúcida tem muitas histórias para contar. Ela é prima legítima do cangaceiro Gato, o mais perverso cangaceiro do bando de Lampião.
    
Os pais de Inocência eram Cícero Pereira Leite e Teodora Vieira de Jesus. Ela hoje com 111 anos de idade revela que sente saudades da antiga Barroca (povoação as margens da cachoeira de Paulo Afonso, sendo um,a das primeiras localidades para acolher escravos fugidos dos aprisionamentos dos perversos bandeirantes paulistanos).

Mesmo tendo nascido próximo a Serra do Retiro, confessa que na antiga Barroca ficou sua felicidade. Em seu relato, falando que já conheceu o Brasil quase todo, nunca esqueceu seu pedaço de chão. Inocência quebrava pedras e as transformava em britas para vender. Trabalhava ela e a filha Maria Milda Lima, arranchadas embaixo de latadas ou ranchos cobertos com palhas. À noite continuavam o trabalho diante da luz disforme dos candeeiros.


Seu tio Antônio de Rita e seu filho Ulisses Grande, moradores do povoado Salgadinho, eram coiteiros de cangaceiros. Em uma das viagens de Inocência, ela e a prima Nenê, selaram um burro e amarraram dois "caçuás", montaram o animal e foram buscar algumas melancias na casa do tio Antônio de Rita. Quando chegaram a casa do tio encontraram os cangaceiros Gato, Corisco Bananeira, Volta Seca e muitos outros. Uma grande farra estava acontecendo na casa do tio.

Tempos depois, quando a polícia expulsou os moradores daqueles sítios, os forçando a vir morar em Santo Antônio da Glória e na Barra, o perverso tenente Douradinho, passando na Barra, prendeu o Antônio de Rita e o crucificou, pregando suas mãos em uma madeira.


Quando o policial se preparava para matar o sertanejo, Inocência correu, se ajoelhou aos pés do tenente e pediu para que ele não fizesse aquilo com seu tio pois ele era inocente.  Diante do pedido da jovem, o tenente, acreditem, libertou o moribundo rapaz.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Novidades na praça

Serra Grande desvendada no livro de Louro Teles

por Manoel Severo


Serra Grande, pedaço de chão encravado no sertão pernambucano de Virgulino Ferreira, serra enigmática com seus mais de 900 metros de altitude situada entre os municípios de Calumbi, Flores e Serra Talhada, no famoso Vale do Pajeú. Serra Grande, palco do maior combate que o cangaço de Lampião protagonizou ao longo de seus 20 anos de reinado.

O pesquisador Lourinaldo Teles, unindo seu talento nato de farejador das caatingas a um senso de determinação impressionante nos traz sua primeira Obra, com um olhar totalmente diferenciado sobre esse que sem duvidas trata-se de um dos episódios mais importantes desta saga nordestina. Calumbi; seu berço e terra natal entra para a historiografia do cangaço como o cenário da maior batalha de todos os tempos, envolvendo cangaceiros e volantes.

Louro Teles como é mais conhecido o autor, veio ao longo dos anos aprimorando sua capacidade de investigar. Inúmeras entrevistas, checagens, confrontos de informações, vasta documentação, visitas iminentemente técnicas ao cenário de “guerra” unido a uma pesquisa criteriosa à bibliografia sobre o tema, nos permitem agora receber essa obra realmente valiosa sobre Serra Grande, inclusive com o passo a passo da estratégia dos cangaceiros liderados por Virgulino Ferreira da Silva, que impuseram uma derrota impressionante às forças volantes.

 Louro Teles nos leva e desvenda Serra Grande...

Os números são impressionantes até para aqueles que são afeitos ao estudo do fenômeno: 10 mortos, 14 feridos, quase 300 militares numa sanha desesperada em busca de dar fim a Virgulino com seus mais de 115 cangaceiros; foram cerca de 3 mil tiros em quase 10 horas de combate naquele longínquo 26 de novembro de 1926.

O combate de Serra Grande vem situar-se entre duas das mais polêmicas passagens da saga do filho de seu Zé Ferreira, vulgo Lampião, a saber; em Março do mesmo ano o rei dos cangaceiros visita Juazeiro do Norte para se integrar às forças dos Batalhões Patrióticos e receber fardamento e armas na Meca de padre Cícero Romão Batista e logo em seguida ao combate que ocorreu em novembro, escreveria a ousada carta ao governador de Pernambuco, Júlio de Melo, sugerindo a divisão do território pernambucano entre os dois.

 Manoel Severo e Louro Teles

Outra polêmica acaba nos conduzindo ao grande combate; o que teria realmente acontecido em relação à morte do irmão do cangaceiro mais famoso da história? Antonio Ferreira; irmão de Virgulino e seu braço direito; teria tido sua vida ceifada a partir de um “sucesso” envolvendo Luiz Pedro na fazenda Poço do Ferro, de Ângelo da Gia, em meados de 1926 ou inicio de 1927, mas existem pesquisadores que defendem a hipótese que a morte estaria diretamente ligada a ferimentos recebidos pelo cangaceiro no sangrento combate de Serra Grande, onde está a verdade?

Louro Teles ainda nos traz outro foco na presente obra: A ligação de Lampião com Calumbi. Desde os tempos em que a família Ferreira dedicava-se ao oficio de almocreve. O autor nos apresenta a amizade do rei do cangaço com moradores do lugar, os coiteiros, os amigos, os inimigos, um surpreendente romance e até um suposto filho do rei cego com uma menina chamada Tatu. Estupro, a briga de Lampião com o primeiro prefeito, o processo movido pelo delegado da cidade e a invasão de Calumbi por Lampião e 50 cangaceiros, fazem da obra, o mais autentico registro da passagem de Virgulino Ferreira no antigo distrito de Flores: Calumbi.

“A maior batalha de Lampião: Serra Grande e a Invasão de Calumbi” é uma dessas obras imprescindíveis não só para os amantes da temática, mas e principalmente para os pesquisadores, pelo conjunto responsável de informações e pela riqueza de detalhes que envolve um dos episódios mais comentados dos vinte anos de reinado de Lampião.

A leitura se torna fácil e extremamente atraente, a linguagem utilizada por Louro Teles nos envolve e nos transporta no tempo e ao lugar. Em determinadas passagens podemos ate crer que a qualquer momento seremos surpreendidos pelos cabras de Virgulino ou mesmo por homens de Quelé ou Mané Neto por entre a caatinga e o relevo de Serra Grande.

Uma obra que veio para ficar, dentre as centenas que já podem ser encontradas na bibliografia cangaceira, na verdade todos estamos de parabéns: O autor Louro Teles, a cidade de Calumbi, a história do cangaço e principalmente os leitores. Boa leitura em breve...

Prefácio da Obra por:
Manoel Severo Barbosa, Curador do Cariri Cangaço
Diretor da SBEC – Sócio do GECC, GPEC e GFEC





Profissão de Coragem e risco




I0011449-26(01208x01745) Os rastejadores do sertão
Odiados e Respeitados, os Rastejadores Sertanejos Marcaram a História do Nordeste Desde a Época dos Escravos, Passando Pelos Cangaceiro e até na Morte do Pistoleiro Floro Gomes Novais.

Por Rostand Medeiros*


Em poucas ocasiões no sertão do Nordeste eles foram ovacionados e na maioria das vezes intensamente odiados. Mas sempre foram muito respeitados pelo que sabiam fazer!

Para muitos estes homens nada mais eram do que uma sórdida escória, uma ralé, que pontuou de forma nefasta a História do sertão nordestino. Eles eram comparados a cães, que só serviam para caçar os que perturbavam a doce tranquilidade senhorial dos seus poderosos donos. Mas também poderiam está realizando seus serviços para o outro lado dessa moeda sangrenta.

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Quando não estavam percorrendo as trilhas sertanejas em alguma missão, geralmente os rastejadores não recebiam por parte dos poderosos, do governo e de seus policiais a atenção merecida. Além de bem poucas benesses pecuniárias que lhes eram creditadas, ou de algum butim aferido quando abatiam um criminoso, pouco lhes era dado. Entretanto quando o serviço surgia, aqueles homens analfabetos, que nunca realizaram algum tipo de treinamento formal, eram extremamente requisitados e respeitados pelas suas capacidades no ambiente natural e de mostrarem aos “homens da lei” os caminhos para capturar aqueles que perturbavam a ordem vigente.
Os rastejadores do sertão não eram adivinhos e nem mágicos, porém, sertanejos com conhecimentos privilegiados. Se uma missão lhes era dada, procuravam com invulgar intensidade a sua “caça”. Inconscientes de suas capacidades técnicas atribuíam o próprio sucesso a algo sobrenatural, “coisa do outro mundo”. Dizia-se que os rastejadores sertanejos eram tão dedicados ao que faziam que “enquanto vivos” iriam procurar o seu alvo e recuperar o que havia sido levado. Fosse honra ou ouro!
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O famoso comandante de volantes Zé Rufino e a sua esquerda o rastejador conhecido como Juriti – Fonte – Coleção do autor
Para os que viviam à margem da lei naquele sertão arcaico, estes caçadores de bichos e de homens eram aqueles que prioritariamente deveriam ser abatidos. Se possível da forma mais cruel e sangrenta existente e imaginável.
Trabalho Atencioso
A classe dos rastejadores do sertão sempre foi formado por um grupo de pessoas provenientes dos extratos mais simples da sociedade brasileira, isso desde os tempos da Colônia, do Império e chegando até a República.
É quase certo que os primeiros rastejadores foram indígenas, os grandes conhecedores da natureza, grandes caçadores de animais e a mata não lhes tinha segredo. Quando aculturados, normalmente utilizavam suas técnicas especiais para capturar sua própria gente.
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Retirada da Laguna
Fonte – datasefatoshistoricos.blogspot.com.br
Na História do Brasil, durante a Guerra do Paraguai, no terrível episódio da Retirada da Laguna, ficou famoso o trabalho do Guia Lopes e do seu filho. Quem lê o clássico A Retirada da Laguna, de Alfredo Maria Adriano d’Escragnolle Taunay, primeiro e único visconde de Taunay, percebe a atenção que este nobre militar deu a estes homens simples, que possuíam muito mais conhecimento da região onde se deu os episódios da retirada, do que os estrategistas do Exército Brasileiro. 

Em junho de 1868, com a ajuda dos Lopes, um efetivo com cerca de 700 homens, de um grupo original de 3.000, retornaram alquebrados pela doença e pela fome às linhas brasileiras em Coxim.
Os rastejadores do sertão não tinham letras, mas eram Mestres da natureza sertaneja, donos de uma capacidade invulgar, onde o mínimo graveto quebrado, ou uma pequena pedra deslocada por uma leve pisada, poderia apresentar a estes homens o caminho percorrido por toda sorte de gente considerada malfeitores.
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Fonte – chickenorpasta.com.br
Normalmente era uma figura que realizava seu trabalho sozinho e que seguia por caminhos ermos e difíceis. Na hora de sua estranha labuta andava sempre meio curvado pelas veredas e no meio do mato, como que procurando algo no chão. Seus passos eram leves, macios, silenciosos. Em algumas ocasiões era seguido por outros, que estavam ali para ajudar no seu objetivo, mas que nada entendiam de sua odiada e, ao mesmo tempo, respeitada função.
Todos os sentidos de seu magro corpo, queimado pelo sol ardente do sertão funcionavam como verdadeiras antenas que captavam qualquer coisa que fosse estranha em relação à indolente natureza a sua volta. Caçavam vestígios. Procuravam quaisquer alterações na ressequida ecologia que o cercava. Ao se debruçarem sobre um rastro davam notícia se era novo, ou velho, de dias, e de quantos dias.
Vaqueiros - OpenBrasil.org
Foto: Carla Belke Paisagens do Seridó – OpenBrasil.org
Tinham os olhos quase sempre cerrados, com se estivesse mirando um alvo que só eles sabiam onde estava e vendo coisas que ninguém via e nem percebia. Quase nunca falavam e se assim fazia era baixinho, quase sussurrando. Os ouvidos estavam sempre atentos para o mínimo ruído, perscrutando tudo a sua volta e qualquer som estranho era devidamente analisado em átimos de segundos. Queria encontrar algum pequeno indício da passagem do mais violento de todos os seres viventes que andava na terra criada por Deus – O Homem!
Chico Sapateiro e o Escravo Assassino
No período da escravatura no Brasil não faltou trabalho para esses homens, que atuavam juntos aos capitães do mato na caça aos negros escravos fujões, ou quando estes cometiam algum crime.
O cearense Gustavo Adolfo Luiz Guilherme Dodt da Cunha Barroso, o conhecido Gustavo Barroso, que assinava seus textos sobre a região Nordeste e os nordestinos com o pseudônimo de João do Norte, transcreveu na revista carioca Fon-Fon, em setembro de 1937, um texto sobre um trágico episódio ocorrido quase cem anos antes na cidade cearense de Sobral e que envolveu um afamado rastejador sertanejo[1].
SOBRAL ANTIGA
Foto da antiga Praça da Sé, Sobral, Ceará – Foto Joscel Vasconcel
Em 2 de maio de 1841, por volta das dez horas da noite, o negociante Joaquim Francisco do Rego foi assassinado pelo seu escravo Sebastião, que lhe desfechou certeiramente uma forte facada no estômago, que deixou a vítima com um mortal ferimento de polegada e meia de comprimento.
Joaquim era homem de posses em Sobral, sendo conhecido como “doutor Rego” por ter cursado até o terceiro ano da Academia de Direito em Pernambuco, seu estado natal.
Evidentemente que um crime como esse era algo inadmissível naquela sociedade escravocrata e mereceu intensa atenção das autoridades. O juiz de paz Miguel Francisco do Monte convocou Luciano e Sabino, dois respeitados capitães do mato da região para empreitada de caça ao escravo Sebastião. Já um compadre e conterrâneo do falecido, o major Manuel Francisco de Moraes, aparentemente pagou uma certa quantia para que o célebre rastejador Chico Sapateiro apoiasse com a sua capacidade de homem do mato os afamados “homens da lei”. Talvez o rastejador Chico Sapateiro fosse assim conhecido não por produzir calçados, mas por caminhar bem de leve e silenciosamente pelas trilhas.
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A busca de escravos fugitivos foi um grande negócio 
para os rastejadores no período da escravatura no Brasil.
O major Manuel queria se garantir no serviço, reforçando o aparato que buscava o assassino de seu amigo.
O texto narra que os três homens ganharam os matos muito bem armados, certamente de punhais e armas de fogo de alma lisa. Palmilharam a região durante quatro dias até encontrarem Sebastião escondido na Lagoa das Pedras, perto do Riacho das Itans, e trouxeram o fugitivo amarrado.
Durante o interrogatório Sebastião afirmou que roubou um pouco de aguardente da dispensa de “doutor Rego” e estava bêbado quando esfaqueou e matou seu dono. E tudo ocorreu por medo de ser castigado em razão do seu delito, fato que ocorrera outras vezes. O escravo Sebastião foi condenado a forca e sua execução deveria ocorrer ás nove da manhã do dia 16 de junho do mesmo ano.
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Na execução, algoz subia nos ombros do condenado para acelerar morte.
Parece que faltou alguém para fazer no escravo Sebastião isso que 
a ilustração apresenta.
No dia marcado o condenado saiu da cadeia de cabeça erguida, sendo assistido pelo Reverendíssimo Padre Antônio da Silva Fialho, com escolta de doze guardas nacionais formando alas e comandados por um tenente. Um oficial apregoava pelas ruas de Sobral o delito de Sebastião, sendo acompanhado pelo juiz de paz que seguia a cavalo.
Tudo ocorreu como mandava o figurino da época, mas em certo momento aconteceu uma situação um tanto estranha.
Começou que o carrasco, um outro condenado, não conseguiu executar a pena de tanto chorar e foi o próprio Sebastião, sem nenhuma demonstração de medo, que colocou a corda no pescoço e saltou do patíbulo. O problema foi que ele ficou “algumas horas” se contorcendo pendurado pelo pescoço, até morrer de uma asfixia agoniante.
Nunca mais aconteceu outra execução pública e oficial em Sobral.
O Primeiro Tiro Foi Para o Rastejador
No tempo que os cangaceiros percorriam as veredas das caatingas sertanejas, o rastejador era na maioria das vezes a figura mais importante de uma tropa policial volante e foi contra esses bandidos encourados que os rastejadores fizeram sua fama.
A SILVINO
Antônio Silvino
Não é a toa que os cangaceiros tinham extremado ódio aos rastejadores, que muitas vezes serviram de guias para as forças governamentais que combatiam os celerados nas caatingas. E eram para estes que os cangaceiros dirigiam as primeiras balas no meio de uma peleja.
Em 1910 o pernambucano Antônio Silvino, o conhecido “Rifle de Ouro”, atemorizava os sertões de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. No final de maio daquele ano o famoso chefe de bando seguia com seus cangaceiros pelo interior da Paraíba, na região da cidade de Taperoá, quando soube que em sua perseguição vinha o oficial de polícia Antônio Maurício Pereira de Mello e sua tropa volante[2].
Xilogravura de Antonio Silvino
Xilogravura com a figura de Antônio Silvino
O pesquisador e escritor potiguar Sérgio Dantas comenta em seu livro Antônio Silvino, O Cangaceiro, O Homem, O Mito, que o afamado chefe tinha nutrido ódio a este oficial, tido e havido como valente, cruel e perigoso.
E era para ter cuidado mesmo!
Em 25 de maio, após Maurício receber a notícia que os cangaceiros iriam invadir a pequena urbe de Taperoá, seguiu a caça de Silvino e seus cangaceiros com dezoito homens armados, sendo dois deles, Vicente Pedro Miguel e José do Couto, afamados rastejadores sertanejos. Maurício aparentemente partiu com muita confiança e bem armado, tendo até mesmo em seu poder um artefato explosivo, que seria uma granada militar, ou uma bomba de dinamite. Esperava sem dúvida vencer Antônio Silvino. Mas a notícia da invasão era na verdade uma isca que o cangaceiro espalhou na região, com a ideia de Maurício e sua volante partirem ao seu encalço e caírem em uma emboscada.
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Cidade de Santo André na atualidade – Foto – Thiago Reis da Silva
Os policiais percorreram vários quilômetros até a pequena povoação de Santo André, onde compararam mantimentos e receberam a informação que os cangaceiros se encontravam em uma fazenda dois quilômetros adiante. Enquanto os homens da lei seguiam para o campo de luta, Silvino e seus homens armaram uma emboscada no local denominado Lagoa de Pedras, entre as povoações de Santo André e Timbaúba do Gurjão.
Mas, talvez por excesso de confiança, o oficial dividiu equivocadamente sua tropa, ficando apenas com mais cinco militares e o rastejador Vicente Pedro Miguel[3].

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Em meio às caminhadas e a busca pelos rastros dos bandidos, Maurício e seus homens, mesmo com pouca água e alimentos, pernoitarem embaixo de um umbuzeiro e só retomaram a pista dos cangaceiros nos primeiros raios de sol do dia 26.
O rastejador, segundo reportagem publicada no Jornal Pequeno, seguia a frente de Maurício, do cabo Manoel Albido (ou Albino) e dos soldados Pedro Salustiano, Antônio Beduíno, Manoel Pereira e Antonio José d’Andrade. Enquanto isso, em meio a um local com pedras soltas e paredões transversais, Silvino espalhou seus homens e calmamente aguardou a volante. Quando a tropa ficou na alça de mira dos cangaceiros, foi o rastejador Vicente o primeiro que recebeu um balaço que atravessou sua cabeça. Em meio à fuzilaria na Lagoa de Pedras, o oficial Mauricio ainda tentou incitar a tropa, mas também acabou varado com um tiro na cabeça disparado por Antônio Silvino. 

A ação de emboscada dos bandidos foi de tal maneira bem feita e executada, que o oficial nem conseguiu lançar seu propalado artefato explosivo contra os inimigos.

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Após a balaceira, que no entender do cangaceiro Cobra Verde foi “fogo grande”, o chefe do bando decidiu deixar um recado bem dado aos seus perseguidores. Munido de uma pesada pedra espatifou a cabeça do comandante da volante, cortou sua carótida e deixou várias perfurações de punhal em seu corpo.
Apesar das informações contidas sobre o episódio no ótimo livro de Sérgio Dantas e no texto do Jornal Pequeno nada comentarem, eu acredito que o corpo do rastejador Vicente deve ter recebido as mesmas “honrarias cangaceiras” prestadas ao oficial Maurício[4].
Lampião Sofre no Piancó com o rastejador João Montenegro
Seguindo por trilhas, “assuntando” o terreno com simples toques de seus dedos em seixos e cascalhos, apontando com segurança a um comandante de volante por onde seguiram os bandoleiros, muitas vezes eram estes rastejadores que poderiam trazer grandes problemas para os cangaceiros, inclusive para o maior deles – Lampião.

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Alguns marcaram época perseguindo Lampião, como, por exemplo, José Felix dos Santos, que serviu na volante do tenente Menezes, da polícia baiana, ou o pernambucano Antônio Cassiano, comentados por Ranulfo Prata em seu livro Lampião[5].
Em julho de 1927, praticamente um mês após o fracassado ataque de Lampião a Mossoró, quando ele e seus homens aterrorizaram o Rio Grande do Norte, ele se encontrava em franca debandada, bastante acossado pelos policiais e com o bando reduzido de 80 e poucos cangaceiros para algo em torno de 30 homens.  Além dos combates que teve de travar após Mossoró, dos prejuízos financeiros, das traições, Lampião perdeu homens do quilate de um Sabino, de um Jararaca e muitos outros cangaceiros desertaram de suas fileiras. Tentando recompor o bando e lamber as feridas de suas derrotas, Lampião buscou refúgio na região onde as fronteiras da Paraíba, Pernambuco e Ceará se encontram e daí chegar no seu Pajeú natal. 
Na noite quase enluarada de 12 de julho, uma terça feira, o chefe vem à frente de um grupo composto que para alguns seria de 32, e para outros de 24 cangaceiros. Vinham todos montados em alimárias e chegaram ao sul da zona rural da cidade de Conceição de Piancó, mais precisamente na localidade de Santa Inês. No seu trajeto haviam passado nas proximidades da Serra da Pintada.

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Não sabemos se houve alterações no povoado, mas aparentemente nada de errado aconteceu, pois a notícia corrente foi que o bando seguiu com suas montarias para se arrancharem ás margens de um riacho, que nas épocas de chuva formava uma corredeira conhecida como Cachoeira do Inferno. Os cangaceiros descansavam da verdadeira peregrinação para tentar chegar até o apoio de bons coiteiros[6].
Mas naqueles dias o que menos o grande chefe cangaceiro teria era tranquilidade!
Não sabemos se era por vingança, ou somente por dever de ofício, mas os jornais da época relatam que o rastejador João Montenegro foi quem levou José Leite, o delegado de Conceição do Piancó, o sargento Themistocles, da polícia paraibana, e Raimundo Quintino, o subdelegado da cidade, até a Cachoeira do Inferno. Além destes foi formado um grupo com cerca de 50 homens armados da região de Conceição para dá combate a Lampião e seus cangaceiros[7].

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O grupo partiu da cidade do extremo oeste da Paraíba por volta do meio dia de 13 de julho, percorrendo os 24 quilômetros até a região da Cachoeira do Inferno. Certamente seguiram com muito cuidado, atentos e nervosos com o que poderia acontecer. Por volta do meio da tarde os homens de Conceição chegaram no rancho dos cangaceiros e a bala comeu!
Sérgio Dantas aponta no seu livro Lampião no Rio Grande do Norte – A História da Grande Jornada que o grupo combateu os invasores com rara coragem. E deve ter sido mesmo, pois os cangaceiros fugiram deixando para trás todos os seus animais de montaria.  Mesmo entrincheirados os cangaceiros não aguentaram a força da investida. Depois de uma hora de renhido e feroz tiroteio, eles fugiram correndo no meio do mato. Fugiram para as Serras da Barrinha e do São Lourenço. Certamente a habilidade de João Montenegro também ajudou, pois colocou aquele grupo de homens valentes do Piancó em uma posição onde eles puderam surpreender os cangaceiros e atacar com sucesso[8].

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No mesmo dia em Santa Inês, por volta das quatro da tarde, o grupo de paraibanos se encontrou com a volante do sargento José Alves, da polícia pernambucana. Os dois grupos uniram forças e subiram as serras em busca dos cangaceiros, mas eles conseguiram fugir[9].
Com o passar dos anos o Cangaço acabou. Com a evolução tecnológica, a melhoria das estradas e dos veículos de  transporte, das armas de fogo e do uso das comunicações via rádio no combate contra a criminalidade, muitos membros das forças policiais nordestinas deixaram de buscar os tradicionais saberes dos afamados rastejadores sertanejos para caçarem toda sorte de gente ruim.
Os Últimos Rastejadores – O Caso Floro Gomes Novais
Mas houve um caso em especial, ocorrido em 24 de fevereiro de 1971 , onde as forças policiais voltaram a utilizar os poucos rastejadores sertanejos ainda na ativa. O caso em questão foi a morte do mais famoso pistoleiro do Nordeste na época – Floro Gomes Novais.

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Este era para muitos dos seus aliados era um justiceiro, que só matava por vingança. Já para os inimigos era um cruel e frio pistoleiro de aluguel, com mais de 120 mortes nas costas.
Floro nasceu em 15 de janeiro de 1931, no distrito de Prata, em Garanhuns e sua vida de crimes realmente começou após o assassinato de seu pai, o marchante Ulisses Gomes Novais, ocorrida em 4 de dezembro de 1951, em uma emboscada no lugar Capelinha, em Santana do Ipanema, município vizinho a Olivença, Alagoas.
Enéas Vieira era o líder político de Olivença e desejava comandar a política no lugar onde Floro morava com sua família e isso levou a uma desavença com seu pai e um outro amigo da família chamado Manoel Roberto. Logo seu pai e Roberto foram assassinados. Para evitar morrer Floro foi para São Paulo, mas prometeu voltar.
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Floro Novais atirava muito bem e utilizava pequenos alvos, no caso da foto com uma lagartixa, para treinar sua destreza com um 38.
Não demorou muito o jovem retornou e foi logo matando dois dos assassinos de seu pai. Um deles – João José – morreu na bodega de seu primo Bida, em Capelinha. Em 1957 foi tocaiado por três pistoleiros e matou todos eles. Um dos atingidos por Floro, antes de morrer, confessou que o grupo havia sido contratado por Enéas Vieira. Floro chegou mesmo a atacar Enéas Vieira em uma feira, atingindo-o com um tiro e só não o retalhou a peixeradas pela intervenção do padre do lugar. 

Em outra ocasião emboscou Enéas e um irmão (alguns apontam que era um sobrinho) em uma estrada, mas errou o acusado de ser o mandante da morte de seu pai e matou seu parente que o acompanhava. Contudo foi seu irmão Antônio, o caçula da família, que em setembro de 1970 matou sozinho Enéas Vieira diante de uma barbearia em Olivença.
Mas na quarta feira de cinzas de 1971, Floro foi assassinado a tiros nas caatingas da sua fazenda Mamoeiro, em Itaíba, sertão de Pernambuco. Sabia-se que ele tinha sido convidado para uma caçada, mas a caça foi ele!
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Casa sede da fazenda Mamoeiro, em Itaíba, sertão de Pernambuco.
Ocorre que a morte de Floro causou extrema repercussão em Pernambuco e um delegado especial foi designado, era o Dr. Severino Torres Galindo. Em meio às investigações para a prisão dos assassinos de Floro, as polícias civis e militares de Pernambuco e Alagoas, em conjunto com vinte agentes da Polícia Federal sob o comando do inspetor David Sales, realizaram uma verdadeira “varredura no terreno” em busca de pistoleiros implicados em vários outros processos.
Muitas fazendas das zonas rurais de Itaíba, Águas Belas (Pernambuco), Santana do Ipanema e Jacaré dos Homens (Alagoas) foram extensivamente vasculhadas. Muitas destas fazendas eram verdadeiros “covis de pistoleiros” e os acessos a estes locais um inferno. Mas deu resultado positivo, com a prisão de trinta e tantos matadores de aluguel e seus coiteiros.
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Policiais civis, militares e federais, com o apoio de rastejadores, na caça aos assassinos de Floro Gomes Novais em 1971 no sertão de Pernambuco.
Setores da imprensa divulgaram, de maneira bem discreta, que os policiais estaduais e federais utilizaram os serviços de alguns dos velhos rastejadores pernambucanos. Mesmo com toda discrição, aparentemente o uso destes rastejadores chegou a imprensa do sul do país. Em dezembro de 1971 a extinta Revista Realidade publicou uma interessante reportagem produzida pelo jornalista José Leal da Silva, com fotografias do francês Jean Solari, onde trouxe a baila as histórias das pessoas que perseguiam bandidos com métodos bem peculiares e pitorescos. 

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Entre esses rastejadores se encontravam "Serra Azul". Este era um octogenário índio da tribo Fulniô, que contou ter perseguido Lampião e quase foi morto pelo chefe cangaceiro, mas que um dia chegou a um acordo com ele e selaram a paz. Disse que era rastejador, mas também “tinha sido soldado, cangaceiro e criminoso”. Morava na aldeia Fulniô perto da cidade de Águas Belas, Pernambuco, e para conseguir pegar os fugitivos sempre rezava para Edjaú, a entidade máxima da religião de sua tribo.

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Outro rastejador famoso entrevistado foi José Gomes dos Santos, o João Bolandeira. Este era um orgulhoso pai de 27 filhos que “vingaram” (ou que sobreviveram a seca e a fome) e em 1971 morava em uma casa de chão batido no lugar Riacho das Lajes, também em Pernambuco. Bolandeira tinha fama de ter capturado mais de cem assassinos e ladrões. Entre seus métodos infalíveis para capturar os meliantes estava o de rezar para as almas do outro mundo em busca de orientação. Se o “causo” era complicado ele acendia sete velas, em sete encruzilhadas diferentes, sempre da última para primeira. E quando a situação era periclitante mesmo, pedia ajuda externa. João Bolandeira recorria então a amiga Liquinha, ou madrinha Lica, uma rezadeira de Garanhuns que considerada infalível e vivia em uma humilde casa nesta bela cidade serrana pernambucana.

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Outro dos famosos foi Manuel Matias, o conhecido Tôta. Este só seguia o rastro dos “cabras de peia” depois de limpar o corpo com um banho que incluía na sua composição água de colônia e alecrim. Além disso fazia a assepsia em um quarto com incenso e terminava o ritual vestindo roupas bem limpas. Dizia que tinha ao seu lado um guia de luz, do qual nunca declinou o nome e que o protegia durante o rastejo. 

O certo é que ele foi responsável pela prisão de muitos pistoleiros, entre estes o perigosíssimo Antônio do Algodão, que juntamente com seu filho Luís Marco, verdadeiramente tocaram o terror nas caatingas entre a Paraíba e Pernambuco. Pai e filho pistoleiros tinha assassinado o vaqueiro Manuel Mariano, no lugar Serra Queimada, perto do município de Iati, Pernambuco. 

O fato se deu no cabaré de Zé Cazuza e ocorreu apenas pelo fato do vaqueiro está bebendo em uma mesa junto a Luísa, mulher que o pistoleiro Antônio do Algodão considerava sua propriedade. Injuriado com uma morte tão covarde Tôta se armou de um Papo amarelo 44, rezou muito e foi à caça dos dois assassinos. E não deu outra, Tôta prendeu os dois e os levou para a delegacia do povoado de Santo Antônio do Tará, perto da cidade de Pedra, no Agreste Pernambucano.

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A reportagem de 1971 mostravam homens que pareciam deslocados do tempo, exercendo um ofício que parecia mais não se encaixar nos tempos modernos.
Sobre os rastejadores do sertão se criaram ideias fáceis e praticamente fixas sobre seu modo de ser e de viver. Pelo seu trabalho e sua condição de vida estes homens foram geralmente desprezados ao longo de décadas pelos estudiosos do sertão nordestino. Estes não perceberam que ao redor destas figuras existia um intenso manancial de impressionantes informações sobre a natureza, sobre a gente, a religiosidade e a História desta peculiar região do Brasil.
P.S. – Gostaria de esclarecer que as informações sobre o pistoleiro Floro Gomes Novais me foram transmitidas por pessoas da região do Pajeú, em Pernambuco.

NOTAS
[1] Ver Revista Fon-Fon, Rio de Janeiro-RJ, edição de 18 de setembro de 1937, pág. 36. O líder integralista e notório antissemita Gustavo Barroso copiou este texto, sem dar nenhum crédito, de um texto produzido pelo magistrado, jornalista, historiador e político Paulino Nogueira Borges da Fonseca. Intitulado “Execuções de pena de morte no Ceará”, foi publicado na Revista Trimestral do Instituto do Ceará, ano VIII, Tomo VIII, 1º e 2º trimestres de 1894. Apesar do tema ser pesado e difícil, o texto de Paulino Nogueira possui uma narrativa ágil e interessante, onde o autor, em mais de 150 páginas, enumera as execuções oficiais ocorridas no Ceará desde 1632. Diante de uma verdadeira praga de criminalidade que vivemos nos dias atuais o texto mostra que em um país chamado Brasil a pena de morte seria algo sem a mínima condição de funcionar corretamente.
[2] Com relação a história do munícipio paraibano de Taperoá, em 1873, por lei provincial nº 475, de 06 de outubro, a localidade de Batalhão foi elevada a categoria de Distrito de Paz. Já Herculano de Souza Bandeira, Presidente da Província da Parayba do Norte, através da Lei nº 829, de 06 de outubro de 1886, elevou a povoação à categoria de vila. Em 1905, através de Lei Municipal, a comunidade teve a denominação mudada para Taperoá. Em 31 de dezembro de 1943, o decreto-lei estadual nº 520, oficializou a antiga denominação de Batalhão. Mas a comunidade se insurgiu e menos de dois anos depois, em 07 de janeiro de 1945, a lei estadual nº 318 restabeleceu o topônimo Taperoá. O termo nitidamente bélico para esta comunidade estaria ligado a uma grande peleja ocorrida entre os remanescentes dos índios cariris e os primeiros brancos que penetraram na região, ou a uma batalha travada em 1824 entre os republicanos da Confederação do Equador, que tentavam uma retirada para o Ceará, e as forças legalistas. http://www.taperoa.pb.gov.br/a_cidade/historia
[3] Atualmente as cidades paraibanas de Santo André e Gurjão.
[4] Ver DANTAS, Sérgio Augusto de Souza. Lampião e o Rio Grande do Norte: A história da grande jornada. Natal: Cartgrat Gráfica Editora, 2005. Págs. 141 a 145. Ver igualmente Jornal Pequeno, Recife-PE, edição de sábado, 18 de junho de 1910, página 2. Este periódico recifense reproduziu a matéria publicada em 12 de junho daquele ano no jornal 15 de Novembro, de Campina Grande, Paraíba. Em um texto muito detalhista, é nítida a ideia de enaltecer o falecido oficial Maurício, mas percebe-se sem maiores problemas o seu grave erro ao dividir a tropa e a grande capacidade de combate de Antônio Silvino e seus homens.
[5] Ver Prata, Ranulfo. Lampião. São Paulo: Editora Traço, 1985, pág. 151.
[6] A cidade paraibana de Conceição de Piancó, atualmente é apenas conhecida como Conceição e se encontra na área da Região do Vale do Piancó e fica a 482 quilômetros da capital João Pessoa. Existe atualmente ao sul de Conceição o município de Santa Inês, emancipado Pela lei estadual nº 5908, de 29 de abril de 1994.
[7] Raimundo Quintino era um homem valente e brigador. Em junho de 1926 ele havia entrado em combate contra o grupo de Sabino nas proximidades de Conceição do Piancó, que deixou fora de combate três cangaceiros, entre estes João Mariano. A volante de Raimundo conseguiu alguns troféus interessantes dos bandoleiros, entre estes consta um ferro de marcar com as letras “J J” e que teria pertencido ao cangaceiro José Juriti. Outro material que chamou atenção foi um punhal de três quinas, com 35 centímetros de comprimento na lâmina, que teria sido um presente do próprio Lampião ao seu companheiro Sabino. O grande punhal trazia oito marcas na lâmina, que teria sido creditado a oito “sangramentos” praticados pelo temível e violento Sabino. Um jornal carioca reproduziu um texto publicado pelo Jornal do Commercio, de Recife, sobre estes materiais, suas procedências e a quem eles haviam pertencido. Consta na nota que este material ficou em exposição na sede do periódico na Rua do Imperador, no bairro de Santo Antônio, centro da capital pernambucana. Ver O Imparcial, Rio de Janeiro-RJ, edição de quarta feira, 25 de agosto de 1926, pág. 5.
[8] Sobre a narrativa do combate ver DANTAS, Sérgio Augusto de Souza. Lampião e o Rio Grande do Norte: A história da grande jornada. Natal: Cartgrat Gráfica Editora, 2005. Págs. 323 e 345. E o jornal Correio da Manhã, Rio de Janeiro-RJ, edição de terça feira, 19 de julho de 1927, pág. 2.
[9] O sargento Alves telegrafou ao seu comandante, o então major Theophanes Torres Ferraz, dando ciência do ocorrido. Sobre o telegrama ver o jornal A Província, Recife-PE, edição de sexta feira, 15 de julho de 1927, pág. 1.

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