Morre em SP o irmão de Maria Bonita, aos 79 anos
O ex-pedreiro Ananias Gomes de Oliveira, 79 anos, (Foto de Glauco Araújo), morreu na manhã da terça-feira (22/09) no Hospital Santa Marjorie, em São Paulo, após complicações cardíacas.
Ele é irmão de Maria Gomes de Oliveira, mais conhecida como Maria Bonita, mulher do cangaceiro Virgolino Ferreira, o Lampião. Ele será sepultado no Cemitério da Vila Carmosina, em São Paulo, às 8h desta quarta-feira (23).Ananias era chamado por familiares e amigos de Pretão.
Ele nasceu em Jeremoabo (BA), em 1929, e era irmão gêmeo de Arlindo, que morreu há dois anos, também em São Paulo. Ele vivia com a filha, a telefonista Maria Deuza de Oliveira, 54 anos, (foto) em Itaquera. Segundo familiares, Ananias era cardíaco e tinha sido levado ao hospital para fazer exames, onde acabou morrendo.
Nos últimos cinco anos, Ananias e sua filha buscavam esclarecer uma série de relatos de historiadores que diziam que ele, na verdade, seria filho de Maria Bonita e Lampião e não irmão dela. "Eu queria saber a verdade. Essa história que falam de mim, de que eu sou filho de minha irmã. De qualquer forma, somos todos parentes e isso é o que importa", disse Ananias ao G1, em 16 de agosto deste ano.
O processo de investigação de maternidade tramita em Sergipe e segue em segredo de Justiça.
O exame de DNA foi realizado após a coleta de material genético de Ananias e Expedita Ferreira Nunes, única filha do casal de cangaceiros reconhecida legalmente. O resultado ainda não foi divulgado oficialmente.A dúvida sobre a real identidade de Ananias foi relatada em um livro pelo pesquisador e historiador João de Souza Lima, de Paulo Afonso (BA). Na publicação, ele cita que Ananias e Arlindo eram fisicamente diferentes.O historiador Antônio Amaury Correia também descobriu o relato feito pelo major reformado do Exército, José Mutti, no livro "Reminiscências de um ex-combatente de Volante".
O militar diz, na publicação, que a mãe da Maria Bonita, Dona Déa, lhe havia confidenciado que Ananias era filho de Lampião.
A busca pela identidade de Ananias foi registrada no documentário "Sangue de Cangaceiro", que está em fase de edição e finalização pela Ludo Filmes.
Fonte: Glauco Araújo G1 Globo
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Balanço do Cariri Cangaço
Minhas impressões
Amigos, foi com muita satisfação e orgulho que passamos a última semana sob a hospitalidade dos que realizaram o 1º Cariri cangaço.
As Prefeituras de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e Missão Velha unidas proporcionaram o maior evento para discussão deste tema no nordeste.
Minha alegria não ficou apenas em poder estar entre aquela gente distinta e especializada, mas em saber da audiência e atenção que muitos dos principais pesquisadores dispensam a este blog, só não é mais, pois ainda há quem resista à necessidade da internet na pesquisa. Como confessou nosso amigo Antonio Vilela “o cangaceiro evangélico”, autor do livro “O incrível mundo do cangaço” “- Kiko, curto o blog, mas não posso interagir, ainda sou um Analfacibernético”
Na oportunidade recebemos nosso diploma de sócio da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço - das mãos do atual presidente Ângelo Osmiro Barreto. Este aguardado documento já se encontra devidamente emoldurado em um lugar de honra de nossa casa. Muito obrigado ao reverendo Ivanildo Silveira pela iniciativa e pelos que apoiaram nossa indicação. Ao ilustre presidente e aos demais amigos da SBEC não preciso nem dizer que agora “oficialmente” vocês têm um veículo de divulgação a vossa inteira disposição, foi uma honra conhecê-los.
Os participantes, especialmente os mais de 70 convidados vip tiveram a oportunidade de conhecer ou rever locais de extrema importância para a história do cangaço, religiosidade e cultura nordestina. Na programação extra-oficial o dia era dedicado a visitações como: Horto do padre Cícero, Caldeirão de Santa Cruz do deserto, A casa grande de Nova Olinda, Os penitentes, a fazenda Padre Cícero e a Metalúrgica Linard em Missão Velha, fábrica que teve seu primeiro torno comprado graças a uma quantia doada pelo próprio Lampião ao seu proprietário. E destaco em particular o sítio piçarra no município de Porteiras onde foi baleado o cangaceiro Sabino Gomes pela volante de Mané Neto junto com Arlindo Rocha.
Tivemos como guia o “Wilsinho” neto de Antonio da Piçarra. Ali, mais dois locais foram devidamente sinalizados com placas o terreno da sede da fazenda e o ponto exato onde os cangaceiros foram surpreendidos pela respectiva força.
Na primeira palestra em Juazeiro no memorial Padre Cícero o prefeito revelou a expectativa de esta cidade ser incluída entre as dez principais do turismo brasileiro, pelo que os amigos leram já lhes dá uma dimensão do potencial, isso sem citar: Assaré e o memorial do seu filho mais ilustre o poeta Patativa, Exu terra do Gonzagão que fica bem ali vizinho a precisos 60 km e que apesar de ser território pernambucano ainda é Cariri e a cidade de Aurora-CE, terra do Cel. Isaías Arruda, mas isso é expectativa renovada para o próximo evento.
Enfim, A riqueza cultural e histórica do Cariri cearense é realidade que muitos já sabiam. O evento ajudou a ampliar nosso conhecimento com mais clareza e objetividade, pois todos os logradouros foram explorados em todos os seus detalhes. Um especialista disponibilizado para cada um. Ah! O vale vislumbrou a todos nós... Que saudade.
Não percam a próxima edição! Se este ano o trabalho não os permitiu, transfiram ou negociem suas férias para Agosto do ano que vem.
Em meu nome e em nome das comunidades do Orkut : Cangaço, Discussão Técnica e Lampião Grande Rei do Sertão quero agradecer e mais uma vez parabenizar os que proporcionaram tamanha recepção, organização, programação... Enfim o resultado natural que foi sucesso absoluto deste primeiro Cariri Cangaço.
Nossa singela homenagem ao casal de amigos Manoel Severo curador do evento e sua esposa Daniele Esmeraldo secretária de Cultura de Crato e os que fazem a SBEC.
Kiko Monteiro
Amigos, foi com muita satisfação e orgulho que passamos a última semana sob a hospitalidade dos que realizaram o 1º Cariri cangaço.
As Prefeituras de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e Missão Velha unidas proporcionaram o maior evento para discussão deste tema no nordeste.
Minha alegria não ficou apenas em poder estar entre aquela gente distinta e especializada, mas em saber da audiência e atenção que muitos dos principais pesquisadores dispensam a este blog, só não é mais, pois ainda há quem resista à necessidade da internet na pesquisa. Como confessou nosso amigo Antonio Vilela “o cangaceiro evangélico”, autor do livro “O incrível mundo do cangaço” “- Kiko, curto o blog, mas não posso interagir, ainda sou um Analfacibernético”
Na oportunidade recebemos nosso diploma de sócio da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço - das mãos do atual presidente Ângelo Osmiro Barreto. Este aguardado documento já se encontra devidamente emoldurado em um lugar de honra de nossa casa. Muito obrigado ao reverendo Ivanildo Silveira pela iniciativa e pelos que apoiaram nossa indicação. Ao ilustre presidente e aos demais amigos da SBEC não preciso nem dizer que agora “oficialmente” vocês têm um veículo de divulgação a vossa inteira disposição, foi uma honra conhecê-los.
Os participantes, especialmente os mais de 70 convidados vip tiveram a oportunidade de conhecer ou rever locais de extrema importância para a história do cangaço, religiosidade e cultura nordestina. Na programação extra-oficial o dia era dedicado a visitações como: Horto do padre Cícero, Caldeirão de Santa Cruz do deserto, A casa grande de Nova Olinda, Os penitentes, a fazenda Padre Cícero e a Metalúrgica Linard em Missão Velha, fábrica que teve seu primeiro torno comprado graças a uma quantia doada pelo próprio Lampião ao seu proprietário. E destaco em particular o sítio piçarra no município de Porteiras onde foi baleado o cangaceiro Sabino Gomes pela volante de Mané Neto junto com Arlindo Rocha.
Tivemos como guia o “Wilsinho” neto de Antonio da Piçarra. Ali, mais dois locais foram devidamente sinalizados com placas o terreno da sede da fazenda e o ponto exato onde os cangaceiros foram surpreendidos pela respectiva força.
Na primeira palestra em Juazeiro no memorial Padre Cícero o prefeito revelou a expectativa de esta cidade ser incluída entre as dez principais do turismo brasileiro, pelo que os amigos leram já lhes dá uma dimensão do potencial, isso sem citar: Assaré e o memorial do seu filho mais ilustre o poeta Patativa, Exu terra do Gonzagão que fica bem ali vizinho a precisos 60 km e que apesar de ser território pernambucano ainda é Cariri e a cidade de Aurora-CE, terra do Cel. Isaías Arruda, mas isso é expectativa renovada para o próximo evento.
Enfim, A riqueza cultural e histórica do Cariri cearense é realidade que muitos já sabiam. O evento ajudou a ampliar nosso conhecimento com mais clareza e objetividade, pois todos os logradouros foram explorados em todos os seus detalhes. Um especialista disponibilizado para cada um. Ah! O vale vislumbrou a todos nós... Que saudade.
Não percam a próxima edição! Se este ano o trabalho não os permitiu, transfiram ou negociem suas férias para Agosto do ano que vem.
Em meu nome e em nome das comunidades do Orkut : Cangaço, Discussão Técnica e Lampião Grande Rei do Sertão quero agradecer e mais uma vez parabenizar os que proporcionaram tamanha recepção, organização, programação... Enfim o resultado natural que foi sucesso absoluto deste primeiro Cariri Cangaço.
Nossa singela homenagem ao casal de amigos Manoel Severo curador do evento e sua esposa Daniele Esmeraldo secretária de Cultura de Crato e os que fazem a SBEC.
Kiko Monteiro
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Aguardem novidades
Estamos desde a terça-feira 22, aqui em Crato - CE participando do 1º Seminário Cariri Cangaço.
Abraçando à todos!
Kiko Monteiro
Abraçando à todos!
Kiko Monteiro
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Visita técnica à locação da saga cangaceira
Fazenda Piçarra marca momento histórico do cangaço no Cariri
Antonio Leite Teixeira, ou "seu Ontoin da Piçarra", proprietário e principal personagem dessa verdadeira saga que coloca a Fazenda Piçarra dentre os principais cenários da historiografia cangaceira no Cariri.
Tendo uma vida toda marcada pelo paradoxo de "ser ou não ser" ligado aos cangaceiros, Seu Antonio da Piçarra, passou boa parte de sua vida mantendo forte ligações com cangaceiros, preponderantemente Lampião; em sua "Piçarra" o capitão era acolhido e por lá, passaram algum tempo, Ezequiel e Virgínio, até que em Março de 1928, Lampião teria sido surpreendido nas terras da Piçarra pela volante de Arlindo Rocha e Manel Neto, ali Sabino Gomes seria baleado o que provocaria sua morte, e naquele dia, seu Antonio da Piçarra, ganharia seu mais ferrenho inimigo: Virgulino Ferreira - Lampião.
Foto: Severo Barbosa, Ivanilda, filha de Antonio da Piçarra e Vilsinho.
Fonte: Cariri Cangaço
Antonio Leite Teixeira, ou "seu Ontoin da Piçarra", proprietário e principal personagem dessa verdadeira saga que coloca a Fazenda Piçarra dentre os principais cenários da historiografia cangaceira no Cariri.
Tendo uma vida toda marcada pelo paradoxo de "ser ou não ser" ligado aos cangaceiros, Seu Antonio da Piçarra, passou boa parte de sua vida mantendo forte ligações com cangaceiros, preponderantemente Lampião; em sua "Piçarra" o capitão era acolhido e por lá, passaram algum tempo, Ezequiel e Virgínio, até que em Março de 1928, Lampião teria sido surpreendido nas terras da Piçarra pela volante de Arlindo Rocha e Manel Neto, ali Sabino Gomes seria baleado o que provocaria sua morte, e naquele dia, seu Antonio da Piçarra, ganharia seu mais ferrenho inimigo: Virgulino Ferreira - Lampião.
Foto: Severo Barbosa, Ivanilda, filha de Antonio da Piçarra e Vilsinho.
Fonte: Cariri Cangaço
Atenção pesquisadores e pretensos autores à última chamada
Última chamada
Cariri Cangaço começa Terça-feira com vasta programação
PROEX da URCA coordena os trabalhos acadêmicos do Cariri Cangaço
A Pró-reitoria de Extensão da PROEX da Universidade Regional do Cariri – URCA coordenará os trabalhos acadêmicos do I Seminário Cariri Cangaço que será realizado na Região no período de 22 a 27 de setembro. A Proex constitui um Comitê Cientifico composto por sete Grupos de Trabalhos – GTS, com as seguintes temáticas e coordenadores: Cariri Cangaço começa Terça-feira com vasta programação
PROEX da URCA coordena os trabalhos acadêmicos do Cariri Cangaço
GT1Cangaço e Cangaceiros: História E Memória, Coordenador prof. Dr. Josier Ferreira;
GT2 Cangaço e Caatinga: Coordenador Prof. Esp. Fernando Pinto;
GT3 Cangaço e Gênero: Coordenadora professora Dra. Iara Maria;
GT4 Cangaço e Religiosidade: Coodenadora professora Dra. Anna Christina;
GT5 Cangaço na Musicalidade Brasileira: Coordenador prof. Ms Antonio José;
GT6 O Cangaço nos Múltiplos Olhares: Coordenadora professora Ms. Otília Aparecida,
GT7 Lampião: Mito e Realidade: Coordenador prof. Ms Océlio Teixeira. O Comitê é coordenador pela professora Anna Cristina.
Para a pró-reitora de Extensão, a professora Arlene Pessoa o evento desempenha importante função para incentivar e democratizar a pesquisa cientifica em torno da temática do cangaço. Ela destaca que o evento provoca outras discussões sobre identidade cultural e fortalecimento o turismo de cunho cientifico, cultural e ecológico da Região.
Inscrições de trabalhos científicos:
As Inscrições dos Trabalhos Acadêmicos poderão ser efetuadas até dia 18 de Setembro e o resultado será divulgado no dia 21 . Informações poderão ser obtidas pelo pelo ou pelo email:academicoscariricang@hotmail.com
Aberto o edital de Monitores para o SEMINÁRIO CARIRI CANGAÇO
Inscrições de trabalhos científicos:
As Inscrições dos Trabalhos Acadêmicos poderão ser efetuadas até dia 18 de Setembro e o resultado será divulgado no dia 21 . Informações poderão ser obtidas pelo pelo ou pelo email:academicoscariricang@hotmail.com
Aberto o edital de Monitores para o SEMINÁRIO CARIRI CANGAÇO
A Pró-Reitoria de Extensão da URCA - PROEX, no uso de suas atribuições legais, torna público o presente Edital de abertura de inscrições, visando a seleção de 10 monitores para apoio no Seminário Cariri Cangaço, que será realizado no período de 22 a 27 de setembro de 2009, nos municípios de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e Missão Velha.
Para candidatar-se a monitor o aluno deve:
- Estar regularmente matriculado em curso da URCA;
- Ter disponibilidade para as atividades do evento, especialmente em Crato (vide a programação em http://www.cariricangaco.blogspot.com/;
- Assinar termo de compromisso se selecionado;
- Apresentar, no ato da inscrição comprovante de matrícula atualizado;
- Preencher ficha de inscrição.
Certificação
O aluno monitor que cumprir as atividades e horários estabelecidos, fará jus a certificado expedido pela Pró-Reitoria de Extensão – PROEX.
Local, Data e Horário de Inscrição
As inscrições serão feitas na Pró-Reitoria de Extensão, no período de 04 a 18 de setembro de 2009, das 9:00 ás 11:00 e das 15:00 às 17:00.
As inscrições serão feitas na Pró-Reitoria de Extensão, no período de 04 a 18 de setembro de 2009, das 9:00 ás 11:00 e das 15:00 às 17:00.
O Resultado da Seleção Será afixado na Pró-Reitoria de Extensão no dia 21 de setembro de 2009.
Primeira reunião com os selecionados:
Dia 21 de setembro de 2009
Local: Núcleo de Estudos Regionais (NERE) no pátio da Pedagogia em frente ao Boticário.
Hora: 15:00h
Prof. Dra. Maria Arlene Pessoa da Silva
Pró-Reitora de Extensão
Sobre o Cariri Cangaço:
O I Seminário Cariri Cangaço, será realizado nos dias 22 e 27 de setembro, próximos, ocasião onde serão reunidas as maiores personalidades do universo da pesquisa sobre à temática cangaço, no país. O Cariri Cangaço já tem confirmadas as presenças de 67 personalidades, entre: pesquisadores, escritores, sociólogos, antropólogos, professores, documentaristas e cineastas de todo o Brasil.
Além de possibilitar o resgate da historiografia do cangaço na região do cariri cearense, o evento também aponta na direção do fortalecimento do conceito da recém criada Região Metropolitana do Cariri, uma vez que reúne em seu grupo de trabalho, a Universidade Regional do Cariri – URCA através da Pró-reitoria de Extensão, as prefeituras de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha, da SBEC, do ICC, ICVC e Fundação Pró-memória.
Já acontece nas cidades anfitriãs, o maior concurso de redações já promovido em conjunto entre os municípios; a temática-Lampião do Ceará - Verdade e Mentiras, tem despertado a curiosidade de um número muito grande de meninos e meninas, preponderantemente das escolas públicas da região, os vencedores desse concurso terão suas redações editadas no livro onde constarão os anais do Seminário.
Dentro do Cariri Cangaço teremos uma agenda intensa de palestras e discussões técnicas sobre o fenômeno, de caráter itinerante, as palestras acontecerão duas noites em Crato, duas noites em Juazeiro do Norte, uma noite em Barbalha e uma manhã em Missão Velha; ainda dentro das programações haverá o lançamento da Rota Cariri Cangaço, que será percorrida pelos pesquisadores e convidados e constará de visitas aos principais sítios históricos do cangaço na região do cariri cearense, como também aos principais pontos turísticos da região, com destaque para a visita técnica ao Sítio Histórico do Caldeirão do Deserto - Beato José Lourenço, onde haverá mostra de documentário além de mesa de debate e discussões sobre o Caldeirão do Deserto.
O Cariri Cangaço reúne um grupo de trabalho de 115 colaboradores, unindo seis municípios, uma universidade, três academias culturais e apresentará em seus seis dias de evento: 19 palestras, 21 mesas de debate, 1 mesa de conversa, 41 visitas técnicas, 23 apresentações artísticas além de 1 painel de apresentação de trabalhos acadêmicos.
Evento para "cangaceiristas" e cinéfilos
Seminário Fílmico - Memórias do Cangaço
Dia 16/09/2009 - O ÚLTIMO DIA DE LAMPIÃO - direção de Maurice Capovilla
* Palestrante - Aderbal Nogueira - Diretor SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço)
Dia 17/09/2009 - A VIOLÊNCIA OFICIALIZADA NO TEMPO DO CANCAÇO - direção de Aderbal Nogueira *Palestrante - Ângelo Osmiro - Presidente SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço)
Dia 18/09/2009 - MEMÓRIA DO CANGAÇO - direção de Paulo Gil Soares.
* Palestrante - Alfredo Bonessi - Sócio SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço)
Local: Cuca Che Guevara – das 18:30 as 21:00h (Barra do Ceará) Fortaleza-Ce
Fonte: Subvercine - subvercine@yahoo.com.br
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
URCA Apresenta Mostra de Vídeo dentro do Cariri Cangaço
A Universidade Regional do Cariri URCA, através do IMAGO, estará realizando dentro da Programação Oficial do Cariri Cangaço, Mostra de Vídeos Documentários sobre a temática.
A Mostra acontecerá na sexta-feira, dia 25 de setembro, das 16 as 19 h, na Sala de Vídeo do Campus do Pimenta, com a apresentação de vários Vídeos Documentários do Pesquisador e Diretor Aderbal Nogueira. A primeira exibição será o vídeo: "A Violência Oficializada no Tempo do Cangaço", contendo depoimentos autênticos de personalidade que viveram a época; a banalização da violência cometida por parte oficial; além de reflexões sobre a violência ocorrida nas décadas de 1920 e 30 no Nordeste brasileiro e seu paralelo nos dias de hoje.
A programação terá ainda a apresentação dos documentários: "O Julgamento de Lampião", "Mentiras e Mistérios de Angico", "Cangaceira Sila", "Fatos" e "Candeeiro". Teremos ainda uma produção da Fundação Joaquim Nabuco - "A Estética no Cangaço", documentário que conta com a participação do pesquisador Frederico Pernambucano de Melo. A Mostra é uma promoção do IMAGO-URCA, com o apoio da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.
O Cariri Cangaço, seminário realizado entre os dias 22 e 27 de setembro, é uma promoção da SBEC, realização das prefeituras municipais de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha e Universidade Regional do Cariri-URCA, com o apoio do Governo do Estado do Ceará, BNB Cultural, SESC , Sebrae, ICC, ICVC e Fundação Pró-Memória.
Maiores informações: www.cariricangaco.blogspot.com
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Cariri Cangaço.
Cordelistas do Crato se somam ao evento
A Associação dos Cordelistas de Crato representada por seu Presidente, xilógrafo Maécio Siqueira e pelo Cordelista Luciano Carneiro, fechou a participação no I Seminário Cariri Cangaço.
Na oportunidade foi firmada a parceria para a realização de um grande concurso de Cordel como também, oficinas de Xilogravura e Cordel reunindo alunos das escolas dos municípios. Dentro da programação do I Seminário Cariri Cangaço teremos a visita técnica à sede da Associação e sua respectiva oficina, onde será mostrada aos visitantes a arte e a tradição da criação e produção dos cordéis caririenses.
Foto: Severo Barbosa Curador do Cariri Cangaço e o Mestre Cordelista Luciano Carneiro por ocasião da visita à Associação dos Cordelistas.
A Associação dos Cordelistas de Crato representada por seu Presidente, xilógrafo Maécio Siqueira e pelo Cordelista Luciano Carneiro, fechou a participação no I Seminário Cariri Cangaço.
Na oportunidade foi firmada a parceria para a realização de um grande concurso de Cordel como também, oficinas de Xilogravura e Cordel reunindo alunos das escolas dos municípios. Dentro da programação do I Seminário Cariri Cangaço teremos a visita técnica à sede da Associação e sua respectiva oficina, onde será mostrada aos visitantes a arte e a tradição da criação e produção dos cordéis caririenses.
Foto: Severo Barbosa Curador do Cariri Cangaço e o Mestre Cordelista Luciano Carneiro por ocasião da visita à Associação dos Cordelistas.
I SEMINÁRIO CARIRI CANGAÇO
De 22 a 27 de Setembro de 2009
Crato, Juazeiro, Barbalha e Missão Velha.
De 22 a 27 de Setembro de 2009
Crato, Juazeiro, Barbalha e Missão Velha.
sábado, 5 de setembro de 2009
Olha a pisada!
Luiz Gonzaga em cena do filme "Hoje o galo sou eu", 1958.
Créditos: Paulo Vanderley e o seu www.luizluagonzaga.com.br
Créditos: Paulo Vanderley e o seu www.luizluagonzaga.com.br
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Alimento de cangaceiro
O UMBUZEIRO
O umbuzeiro era muito utilizado pelos cangaceiros, principalmente, como alimentação (frutos/batata/água).
Nas secas, os cangaceiros conseguiam água das raízes dos umbuzeiros. Faziam uma fogueira no solo, com gravetos, á altura das raízes tornando-as mais aquosas, lavavam e retiravam os Tubérculos - Vide fotos, expremendo-os em lenços, e em pedaços de panos.
Raspavam as batatas do umbu, com um raspador feito de osso da pá do boi. A casca dos tubérculos servia de panela. Eram consistentes.
Era a fruta sagrada do sertanejo. Os cangaceiros chupavam o umbu que saciava a fome e a sede. Adicionado ao leite, preparava-se a umbuzada (vitamina do sertanejo).
Créditos: Ivanildo Silveira
O umbuzeiro era muito utilizado pelos cangaceiros, principalmente, como alimentação (frutos/batata/água).
Nas secas, os cangaceiros conseguiam água das raízes dos umbuzeiros. Faziam uma fogueira no solo, com gravetos, á altura das raízes tornando-as mais aquosas, lavavam e retiravam os Tubérculos - Vide fotos, expremendo-os em lenços, e em pedaços de panos.
Raspavam as batatas do umbu, com um raspador feito de osso da pá do boi. A casca dos tubérculos servia de panela. Eram consistentes.
Era a fruta sagrada do sertanejo. Os cangaceiros chupavam o umbu que saciava a fome e a sede. Adicionado ao leite, preparava-se a umbuzada (vitamina do sertanejo).
Créditos: Ivanildo Silveira
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Francisco Ramos de Almeida, vulgo Mormaço em interrogatório
Auto de perguntas feito ao cangaceiro. Dado à autoridade policial da cidade do Crato/CE, em 9/8/1927.
(Em grafia e formatação original)
Aos nove dias do mês de Agosto do anno de mil novecentos e vinte e sete, as treze horas, nesta cidade do Crato, Estado do Ceará na delegacia de policia, onde estava presente o delegado em exercicio, major Raymundo de Moraes Britto, commigo, escrivão do seu cargo, abaixo nomeado, ahi foi apresentado o preso - Francisco Ramos de Almeida, por alcunha de Mormaço, de vinte (20) annos de idade, filho de Jose Ramos de Almeida, solteiro, natural do municipio de Araripe, logar “Baixio do Ramos”, deste Estado, não sabendo ler nem escrever.
Interrogado a respeito do que causa a sua prisão, disse: - que no anno de mil novecentos e vinte e quatro (1924) elle respondente, residindo em Araripe, deste Estado, seguiu com destino a Ouricury, no Estado de Pernambuco, afim de assentar praça na policia desse Estado, cujo alistamento estava sendo feito pelo Sr. capitão João acob, pertencente á mesma; que chegando ali o tenente Manuel Antonio, elle respondente, em companhia deste seguiu para São Gonçalo e dali até Valença, no Estado do Piauhy, onde deram combate aos revoltosos, sob o commando do coronel João Nunes; que, dali, voltando, effectuaram diversas volantes, terminando no logar “Custodia”, do Estado de Pernambuco, onde, devido á quebra de disciplina para com o cabo commandante da força, foi por este motivo excluido, tendo servido nesta corporação cerca de um anno e cinco meses, mais ou menos; que dali veio para o logar “São Francisco”, do municipio de Villa Bella, encontrou-se com o grupo de Lampeão, no qual foi apresentado como um dos soldados que já o havia perseguido; que nessa occasião Lampeão tentou mata-lo e depois o convidou para andar em sua companhia, sob pena de morte; que, em vista da ameaça, o respondente preferiu acompanhá-lo; que, no dia seguinte, mais ou menos no meiado do anno de mil novecentos e vinte e seis, seguiu todo o grupo, acompanhado de guias, embrenhando-se na matta, com destino ao Estado de Alagoas; que o grupo nessa occasião se compunha de cincoenta (50) homens, na sua maior parte armados de fuzis e mosquetões mauser, e alguns rifles, todos bem municiados, sendo que diversos possuiam um equipamento de oitocentos (800) e mais cartuchos; que o grupo saiu na povoação de “Entre Montes”, no Estado de Alagoas, donde seguiram para “Olho dagua das Flores, passando pelos logares “Capim” e “Pedrão” e dali com direção a “Sertãozinho”, onde tencionava o grupo atacar, o que não foi realizado pelo motivo de ali se achar um forte destacamento que na viagem Lampeão chefiava um grupo e seu irmão Antonio Ferreira, outro, os quaes estavam unidos que nas villas e povoações onde passava o grupo roubavam o que encontravam e incendiavam as fazendas das lojas e quanto ás peças de ouro e outros objectos que encontravam, tomava cada um, para si, o que achavam; que, quanto a dinheiro, quando um dos companheiros achava maior quantidade, ou melhor, importancia mais elevada, era dividida a metade para Lampeão; que do Estado de Alagoas, regressaram com destino ao de Pernambuco, e que em viagem, quando se achavam acampados em uma fazenda, foram vistos por um dos destacamentos da policia alagoana; que este tendo disparado alguns tiros contra o grupo deu causa a este continuar a viagem; indo homisiar-se na fazenda “Patos” no municipio de Princeza, do Estado da Parahyba, de propriedade do cel. Marcolino Diniz, residente em Princeza; que o cel. Marclino Diniz é protector de Lampeão e de Sabino Gomes; que o grupo demorou-se na fazenda “Patos”, por essa epoca cerca de quinze dias; que dali seguiu o grupo para a fazenda “Poço do Ferro” para a casa do coronel Angelo da Gia, onde emorou-se mais de um mês, porque naquelle local Lampeão é bem recebido e não teme ataques de forças, por ser o coronel Angelo pessoa influente e chefe dos logares circumvizinhos, de forma que, quando ali chega um grupo, elle telegrapha dando um roteiro muito differente, desorientando assim as forças que perseguem o grupo; disse mais o respondente que o coronel Angelo é um dos maiores fornecedores de munição a Lampeão, alem da proteção que lhe dispensa; que o coronel Angelo sempre recebe dinheiro de Lampeão por pagamento de munição e tambem por gratificações de serviços prestados; que o major Numeriano, morador na Villa de Rio bRanco, é protector de Lampeão e do seu grupo, pois o grupo já se tem homisiado nas suas fazendas Santa Rita e Cavaco, onde demora dias sem o maior receio; que o major Numeriano fornece munição ao grupo, recebendo por pagamento dinheiro, que lhe manda Lampeão; que os vaqueiros do major Numeriano, de nomes - Jose Juvino e Manuel Ignacio são quem auxiliam o grupo nas suas necessidades; que o vaqueiro Manuel Ignacio reside na fazenda Cavaco e Jose Juvino na fazenda Santa Rita; que ainda é protector de Lampeão, o major Tiburtino morador distante sete leguas da cidade de Floresta, no mesmo Estado de Pernambuco, o qual se encarrega do tratamento de feridos do grupo de Lampeão, mediante gratificação em dinheiro, que lhe dá o mesmo Lampeão; que o cel. Pedro da Luz, morador no lugar Barrinha, municipio de Belem de Cabrobó, e proximo a Serra dUman cerca de uma legua, muito protege Lampeão, fornecendo munição e occultando o grupo na mesma serra, em logares delle conhecido, desviando por todos os meios a pista do grupo; que o mesmo cel. recebe de Lampeão dinheiro a titulo de gratificação pelos serviços prestados; que estando o grupo afastado seis legoas de Villa Bella, elle respondente ouviu Lampeão dizer que estavam ali a mandado do major Theophanes e que ele ia mandar um portador, em Villa Bella, buscar munição; que Lampeão escreveu um bilhete ao major Theophanes, pedindo munição e que o portador era um rapaz, morador na serra, justamente no logar onde estava o gruo; que elle respondente viu o portador ir e voltar, trazendo mil cartuchos, cuja munição o respondente verificou ser para fuzil a qual foi distribuida entre os grupos, inclusive o respondente; que, no dia seguinte, o respondente com os demais foram atacados por uma força sob o commando do tenente Gino e sargento Manuel Netto, resultando a morte de diversos soldados, e que a luta durou cerca de doze horas; que ouviu Lampeão dizer, por diversas vezes, que tinha mandado quinze contos de reis para o major Theophanes, afim deste protegê-lo; que o grupo passou diversas vezes pelas fazendas do major Theophanes, porem em nada as offendiam, porque sabiam que era para em nada as offender; que, na occasião em que o grupo foi atacado pelas forças commandadas pelo tte. Gino, este ainda compunha-se de cincoenta homens; que na occasião do fogo a que o respondente se refere acima, ainda se encontrava com o grupo o caixeiro viajante de nome Mineiro, o qual tinha sido preso por Lampeão, dias antes entre Flores e Villa Bella, tomando deste quatro contos de reis e o sujeito mais a oito contos pela liberdade que no dia seguinte Lampeão dispensou ao rferido caixeiro e este seguiu com destino ao logar Bethania; que logo ao entrar para o grupo , soube o respondente que Lampeão enviara quinze contos de reis para o major Theophanes afim deste facilitar a munição para o grupo; que deste logar o grupo se dirigiu a Cabrobó e voltando passaram por Granito, indo acampar na fazenda Ipueira, de propriedade de Antonio Xavier, pessôa esta que mantinha amizade com Lampeão, onde este recebeu visita de Apparicio e Francisco Romão, os quaes forneceram comida e trataram bem o grupo; que depois da attitude tomada pelo governo de Pernambuco, os acima referidos não protegeram mais e perseguiram tambem o grupo; que de Ipueira seguiram com destino á Serra dUman, onde passaram dois mezes, occultado pelo Cel. Pedro da Luz, que fornecia todo o necessario, neste local de sua propriedade; que deste local sairam com destino ao Ceará, vindo arrancharem-se ao pé de um açude no logar Custodio, do Estado do Ceará, sendo no dia seguinte cercados pela força do sargento Arlindo, travando-se um forte tiroteio, durante três horas, resultando a morte de dois cangaceiros cujos nomes são: Manuel Nogueira e Joaquim Leite, que ha tempo acompanhava Lampeão; que sairam dois outros feridos e que são: Arminio Xavier, vulgo Chumbinho e Mergulhão, este ferido levemente no braço e aquelle, gravemente, motivo porque ficou, digo, porque acompanhando o grupo, teve que ficar em tratamento na Serra do Matto em uma casa, cujo morador o respondente não sabe o nome; que na occasião em que o grupo foi atacado pela força commandada pelo sargento Arlindo, compunha-se de 50 homens, cujos nomes são:
Lampeão, Sabino Gomes, Jararaca, Mareca, Ezequiel, irmão de Lampeão, Ignacio Medeiros, vulgo Jurema, Navieiro, Domingos, vulgo Serra dUman, Jose Pretinho, Francisco Ramos, vulgo Mormaço, Luiz Pedro, Vicente Feliciano, Luiz Sabino, Lua Branca, irmão do cangaceiro Marcelino, Elisiario, vulgo Barra Nova, Arminio Xavier, vulgo Chimbinho, Nevoeiro, Damasio, vulgo Chá Preto, Salú, Juriti, Colchete, Fortaleza, Antonio Rosa, vulgo Mergulhão, Coqueiro, Creança, que pudera ter quinze annos de idade, Antão, Virginio, cunhado de Lampeão, Jose Delphino, Cornelio, vulgo Trovão, Euclides, João Marcelino, vulgo 22, Frazão, vulgo Pae Velho, Palmeira, As de Ouro, Bemtivi, Balão, Oliveira, de cerca de dezoito annos, Jose Izidio, vulgo Pinga Fogo, Moreno Jatobá, Manuel Nogueira, Joaquim Leite e outros que não se lembra dos nomes;que Chimbinho tendo sido ferido, Lampeão resolveu deixa-lo na Serra do Matto, como já referiu o que fez, deixando-o na companhia de João Marcelino, vulgo 22, Lua Branca, Balão, Relampago e Manuel Mauricio; que ainda ficaram no Estado de Pernambuco, os cangaceiros Manuel Antonio e Francisco Antonio, que são residentes no logar Barreiros; que por duas vezes Lampeão foi acampar no logar Serra do Matto e que quando acamparam sempre recebiam munição de Julio Pereira, que ahi residia, se encarregando tambem, de fornecer gado alheio para sustento do grupo e que sempre deixavam animaes nas mãos de Julio Pereira, para trata-los; que quando deu-se o fogo de Custodia o respondente cm o grupo, passou meia legua afastado da Serra do Matto em virtude de se achar ali destacado o sargento Firmino e vinte praças passando afastado de Brabalha uma legua, na direção do Riacho dos Porcos, indo dormir na fazenda Varzinha, de propriedade do Sr. Filemon Telles, onde foi morto um boi, que Lampeão pediu ao vaqueiro; que passaram nesta fazenda em virtude de ser a estrada que desejavam seguir; que no dia seguinte o grupo levantou acampamento, passando nos logares Canto do Feijão e Piões, já no Estado da Parahyba; que antes o grupo esteve no logar Antas, municipio de Aurora, entraram para o mesmo grupo os individuos Antonio Leite, vulgo Massilon e seu irmão Manuel Leite, , os quaes estavam homisiados na Serra do Diamante, do mesmo municipio, sob a proteção de Jose Crdoso e Izaias Arruda; que o grupo ao passar na Serra do Diamante, Lampeão ali deixou três cangaceiros sob a proteção de Jose Cardoso, cujos nomes são: Marreco, Xexeú e Cafinfin, os quaes o respondente ainda não s havia referido anteriormente; seguindo depois ate o logar Belem, onde houve resistencia, não conseguindo o grupo entrar no povoado, donde o grupo voltou pela catinga, ate a Serra do Diamante, municipio de Aurora, neste Estado, onde ficou occulto cerca de um mês, sob a proteção de Jose Cardoso e Izaias Arruda e Gustavo, e que o delegado de policia de Aurora de nome João Macedo, tambem sabia pois, foi ali visitar o grupo; que o respondente viu o delegado referido, na Serra do Diamante, em visita a Lampeão, uma vez, que Izaias Arruda fôra ali, tambem duas vezes e que Jose Carsoso ia sempre, um dia, outro não; que tambem esteve ali Julio Pereira, na companhia de um filho do Cel. Sant’Anna , conhecido por Zezinho e nesta occasião Sabino Gomes deu três contos de reis a Julio Pereira para este botar uma bodega em Joazeiro; que Lampeão nesse espaço de tempo, recebeu de Izaias Arruda dois mil cartuchos, entregues por intermedio de Jose Cardoso, que sempre era acompanhado de Gustavo e Jose Gonçalves, irmão daquelle; que todas essas pessoas sabiam que Lampeão estava se preparando para ir atacar Mossoró no Rio Grande do Norte, ataque este que era acomselhado por Izaias Arruda e Jose Cardoso, que diziam alli existir pouca força e se tornar facil, assim, o roubo; que em vista disto seguiu o grupo guiado pelo vaqueiro de Jose Cardoso, de nome Miguel, por veredas, numa extensão de dez legoas dali voltando, ficando como guia Massilon, que conhecia todo o caminho; que a viagem se fazia sempre á noite e durante o dia escondiam-se no matto; que o respondente sabe por ter ouvido Lampeão dizer e disto ter certeza, que este, por intermedio de Jose Cardoso, enviou vinte contos de reis para serem entregues a Izaias Arruda, afim deste, quando voltasse o grupo do Rio Grande do Norte, fornecer munição precisa; que isto deu-se quando o grupo ainda se encontrava na “Serra do Diamante”; que o respondente assistiu com os demais ao ataque a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, durante o tiroteio de quatro a seis horas da tarde; que do ataque resultou a morte de dois cangaceiros de nome - Colchete e Jararaca e que nessa occasião o grupo se compunha de cincoenta homens, mais ou menos; que em vista da resistencia offerecida em Mossoró, o grupo recuou, passando pela Villa de Limoeiro, neste Estado, onde o grupo tirou photographia; que em Limoeiro, demorou, o grupo, meio dia; que de Limoeiro marchou o grupo para o “Serrote Vermelho” e ao sairem, digo, e quando ali estavam homiziados, foram informados por um morador dali de nome Ottilio Salustiano de que vinha uma força parahybana e cearense fazer uma batida no mesmo serrote; que em vista disto, tomou o grupo uma vereda e ao sair na estrada encontraram-se com a força travando-se um forte tiroteio; que o grupo nessa occasião vinha todo montado e que em vista do tiroteio, viram forçados a abandonar os animaes e alguns nas sellas; que nesse tiroteio saiu ferido o cangaceiro Heleno Caetano, vulgo “Moreno”; que desse ponto o grupo correu, indo homiziar-se no luagr “Riacho do Velame”, onde se arrancharam, entrincheirando-se tendo ahi um morador muito conhecido de Antonio Leite, vulgo Massilon o qual a mandado de Lampeão foi comprar farinha e rapaduras, isto pela tarde e que a noite Sabino Gomes indo a casa deste morador com o fim de comprar uma creação, quando foi avisado que a força já se achava proxima da morada; que nessa occasião Sabino voltou e avisou a Lampeão o roteiro da força, respondendo este que dali só sairia depois que brigasse com a força e, em seguida, tomou as cabeceiras do riacho entrincheirando todo grupo que ao amanhecer do dia seguinte cerca de seis horas, a força com um guia da casa foi ter ás barreiras do Riacho, travando-se o tiroteio do lado em que estava Lampeão, e que este depois allegou ter atirado em um tenente, o qual caiu; que o tiroteio demorou três horas, francamente e que o grupo respondia ao ataque da forçacom a mesma fuzilaria; que não saiu nenhum cangaceiro ferido e nem orto; que gastaram quase toda munição, ficando cada um, mais ou menos, com cincoenta a sessenta balas; que continuavam presos no mesmo local da luta, o Sr. Antonio Gurgel e uma senhora de que o respondente não sabe o nome, dos quaes Lampeão exigia vinte contos de Antonio Gurgel e trinta da referida mulher, pela sua liberdade; que desse local seguiram e, chegando nas vizinhanças da casa de Ottilio Salustiano, já referido acima, oito leguas distante do local da luta, o respondente, em companhia de sabino Gomes, foi deixar os referidos presos a quem Lampeão deu liberdade e algum dinheiro para a viagem; que deste local seguiu o grupo, por dentro do matto, acompanhado de guias e algumas vezes andando pela estrada porem eram repellidos pela força cearense que estava em seu encalço e novamente os obrigava a internar-se na matta; que nessa marcha veio o grupo ter á “Serra do Diamante”, já alludida atrás, onde homiziou, sob a proteção de Jose Cardoso que nesse mesmo dia conduziu um bocado de munição e a entregou a Lampeão, que a distribuiu com o pessoal do grupo; que no dia seguinte Jose Cardoso foi novamente á Serra do Diamante e ali convidou Lampeão para com o grupo vir para o sitio Ipueiras de sua propriedade, convite este que foi acceito, vindo o grupo logo em companhia do mesmo; que o grupo ao chegar em Ipueiras demorou dois dias, acampado numa manga proximo a um açude; que no primeiro dia Jose Cardoso forneceu almoço e jantar; que no segundo dia quando chegou o almoço, mandado tambem por Jose Cardoso, ao provarem-no alguns acharam amargoso, sendo que três delles enguliram alguns bocados, sentido logo após convulsões; que Lampeão e os do grupo desconfiaram que aquella comida estivesse envenenada e por isto Lampeão resolveu abandonar o ponto em que estava o grupo; que quando se preparavam para levantar acampamento verificaram que o pasto da manga estava incendiando e por isto ainda mais apressaram a fuga, saltando algumas cercas; que nessa fuga, morreram, logo adeante, os três cangaceiros que sentiram convulsões, depois da comida alludida, cujos nomes são: Mergulhão, Gavião e Fortaleza os quaes foram enterrados num riacho, pelo grupo; que o grupo tomou a direção da Serra de São Pedro, e, antes de ali chegar, mudou de rumo na direção de Ingazeiras, e distante duas leguas deixou o respondente o grupo, com o conhecimento de Lampeão, a quem vendeu o seu fuzil por duzentos mil reis, cuja arma tinha comprado a um rapaz de Lampeão; que deixando o grupo, seguiu o respondente até Joazeiro, sendo acompanhado por Coqueiro e de Joazeiro seguiu o respondente para Araripe, onde rerside o seu pae; que Coqueiro tomou a direção do Piauhi, não sabendo mais noticias delle; que elle respondente sabe mais que, no dia da chegada em Ipueira, Izaias Arruda mandou pedir mais a Lampeão por Jose Cardoso a quantia de quatorze contos, e que Lampeão combinou com Sabino Gomes dando cada um uma parte e enviaram a quantia pedida e que o respondente assistiu á entrega do dinheiro referido; que elle respondente não tomou parte no roubo de Apodi, nem tambem o grupo de Lampeão e que este saque foi dirigido por Antonio Leite, vulgo Massilon, o qual possuindo somente um cangaceiro, lhe foi fornecido trinta homens por Izaias Arruda, combinados para dividirem o roubo, tendo este novo grupo atacado Apodi, Gavião e Boa Esperança, no Rio Grande do Norte, resultando o roubo em quarenta contos de reis, em dinheiro, afora objetos de ouro e prata, relogio, etc.; que elle respondente, estando na Serra do Diamante, com o grupo de Lampeão, ali chegou Izaias Arruda e contou a mesma historia que lhe contara Antonio Leite, vulgo Massilon, sobre o facto narrado acima, acrescentando mais que, se com os trinta homens que havia dado a Massilon, que é tolo, tinha adquirido quarenta contos, quanto mais Lampeão - que arranjaria muito mais dinheiro, por possuir maior numero de cangaceiros e ser mais experiente; que durante o tempo em que o respondente esteve no grupo de Lampeão notara que alguns cangaceiros ficavam atras, para nas estradas forçarem algumas moças como tambem mulher casada; que sabe que alguns destes eram mais audaciosos, neste sentido, entre os quaes Moreno, Jararaca e Nevoeiro; que Lampeão conduz o dinheiro em bolsa, que tras a tiracollo, sendo que uma parte elle tem guardado nas mãos do Cel. Angelo da Gia de quem Lampeão tudo confia; que no incendio da manga, no sitio Ipueiras o grupo fugiu sem travar tiroteio; que Antonio dos Santos, cangaceiro que tambem foi com o grupo roubar no Rio Grande do Norte e rerside no logar Antas, do municipio de Aurora, quando o grupo chegou em Ipueiras se offereceu para tratar de Moreno que havia sido ferido na Serra Vermelha, como já referiu atras, tendo ficado tambem com este mais os cangaceiros Português e Ricardo, não sabendo em que lugar os mesmos se occultaram; que o respondente, estando em Araripe, no logar Baixio do Ramos, onde reside o seu pae, resolveu fazer um samba em regozijo pela sua chegada, delle respondente; que alta noite, difulgou ?? na casa da festa algumas pessoas da rua, um pouco alcoolizadas e que armadas de faca, começaram a produzir desordens; que o respondente procurou acalma-los e como não o conseguisse saccou de um revolver afim de amedrontá-los; que sendo agarrado por diversos , afim de o desarmarem, succedeu que o revolver disparou por duas vezes, produzindo um ferimento num seu tio pelo lado materno; que este ferimento produziu a morte, poucas horas depois, do seu tio alludido; que por isto foi preso e descoberto ter servido como cangaceiro no grupo de Lampeão.
E, como nada mais disse e lhe foi perguntado, deu o delegado por encerrado o presente interrogatorio, mandando lavrar o presente auto, que, sendo lido e achado conforme, vae assignado pelo mesmo delegado e a rodgo do respondente pelo cidadão Francisco Carvalho. Eu, Jose Carvalho, escrivão que escrevi, do que tudo dou fé. (aa) Raimundo Moraes Britto - Francisco Carvalho.
*Texto componente do acervo de Sérgio Dantas
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Saindo do forno, aliás, da Vitrine
O “corpo fechado” e as armas de fogo
Por Fábio Costa "Senhor das armas!
Uma das mais curiosas relações do homem com as armas de fogo é justamente o paradoxo que logo depois de seu aparecimento se tentou minimizar ou mesmo anular o efeito destruidor de seus projéteis. As primeiras armas foram contemporâneas das armaduras medievais e estas últimas pouco puderam fazer para proteger seus usuários, pois apesar do paulatino reforço em sua chapa para aguentar os disparos dos iniciais arcabuzes (armas com peso ao redor de 5 kg e com calibre que podia chegar aos 2 cm), em breve não resistiriam a perfuração causada por um projétil do mosquete.
O brutal mosquete foi sucessor do menor arcabuz, geralmente era uma arma de 10/12 kg de peso, com calibre em torno de uma polegada -2,5 cm- e dizem que foi introduzida na Espanha no final do século XVI, devido ao peso tinha de usar como auxílio para a pontaria uma forquilha. Os soldados que a usavam ficariam eternamente famosos com o romance “os Três Mosqueteiros” de Alexandre Dumas.
Malogrando-se as tentativas de se evitar os ferimentos e mortes no plano físico, partiu-se em seguida para o plano etéreo, e se apelou para magia, e é deste assunto que falaremos.
Existem muitas crendices populares sobre armas, como por exemplo na França, que em meados dos séculos XVIII e XIX acreditava-se que havia “balas encantadas” que perseguiam o alvo até abatê-lo. Dentre as nacionais, como as que dizem que a depender do alvo a arma perdia a capacidade de atingir com precisão ou mesmo disparar, como atirar numa caçada contra um animal encantado que na verdade podia ser um dos seres elementais das nossas florestas como o curupira, a caipora, o mapinguari, desgraçaria ou mesmo causaria a morte do caçador.
Atirar contra fantasmas, contra lobisomens e mulas sem cabeça, dentre outras criaturas fantásticas que habitavam as florestas e os sertões místicos etc. Atirar contra um “murundu” (cupinzeiro) estragaria a precisão da arma. Dentre muitas outras superstições se enquadram as crenças (principalmente no nordeste do Brasil) do “corpo fechado”, que era invulnerável aos ferimentos de facas e armas de fogo, ou capaz de enganar ou desnortear o perseguidor ou assassino através de fórmulas mágicas, patuás ou “breves”. Um dos mais célebres portadores de “corpo fechado“ foi o cangaceiro Lampião, que teria sobrevivido a diversos ferimentos de arma de fogo.
Conseguia-se o corpo fechado de várias maneiras, a mais comum era com o uso de uma poderosa e secreta oração que podia ter vários efeitos: impedia que a arma do adversário disparasse, causando negas de percussão, ou caíam as balas alguns metros após deixar o cano, ou a depender da força da magia saía água do interior do cano!! Evitavam que o inimigo visse com clareza o possuidor da “mandinga” (o famoso “envultamento”), embaralhando a sua visão causando tonturas ou alucinações.
Meu querido avô me contava dentre as várias e coloridas estórias que ouvi dos mais velhos na minha meninice, quase todas indo do período final do Séc. XIX até a “República Velha”, sobre um cidadão que se metamorfoseava - aos olhos do observador apenas, diga-se de passagem - em um pé de pimenta. Outro caso que ilustra bem este tipo de mandinga me foi contado pelo “seu” Anísio, um descendente direto de escravos que foi trabalhador agregado da fazenda de meu avô, que um cruel e famoso pistoleiro do norte de Minas Gerais estava sendo perseguido por um camarada disposto a vingar-se.
Numa estrada deserta os dois oponentes se encontraram a la Western spaghetti, quando a carabina “papo amarelo” foi empunhada pelo vingador, seus olhos são obscurecidos por uma nuvem negra, não morrendo este por pouco, em outro encontro quase fatídico desta vez numa vila, o assassino é protegido por um grupo de crianças que saídas do nada fazem barreira contra as balas da 44, enquanto o maléfico vai embora rindo. A magia se quebra quando o “vingador” encontra na casa da amante do pistoleiro uma peça de sua roupa, e com ela amarrada à boca do “rifle” finalmente acerta-o, matando-o, o cadáver do assassino ficou encostado numa árvore, morreu de pé, tendo seus dedos sido quebrados para se poder retirar o revólver...
Outra maneira de se conseguir o corpo fechado é usando um patoá, patuá (ou “breve”) palavra certamente derivada dos dialetos franceses “patois” (cuja pronúncia é mesmo patoá), é em síntese um amuleto em forma de saquinho que contém uma oração, ossos, cordões bentos, ou outro sortilégio. É carregado junto ao corpo, ou nas vestes do portador. Este também permite “envultar” das diversas maneiras já elencadas acima ou fazer armas falharem. Sobre isso meu avô contava que na Serra do Vitorino (Bahia), lá por volta de 1920, dentro de uma vendinha começou uma confusão, três elementos empurram um outro para fora do boteco, e em seguida já no terreiro descarregam suas “rabo de égua” (grandes garruchas de percussão) contra ele, de dentro da fumaceira da pólvora negra saiu o camarada ileso!!
Este “dito cujo” em seguida arranjou confusão com um “caboclo cabo verde” (mulato de cabelo liso, mestiço de índio) e armou para matá-lo, quedou-se acocorado dentro do ranchinho de pau-a-pique do caboclo próximo a porta dos fundos, mas o branco de sua camisa destacou-se num dos buracos do barro denunciando-o, e foi ali que a boca da garrucha do índio, que o havia visto a distância por causa disto, foi colocada, de um tiro a queima-roupa nas costas o infeliz desabou mas não morreu de imediato, levado a vila lá resistiu por algumas horas. Morria... A vela era colocada nas suas mãos e num gemido gutural e medonho retornava do mundo dos mortos com muito sofrimento, chamado para atender o caso meu bisavô Teófilo Carvalho (o sangrador da vila, fazia sangria, abria abscessos etc, numa época difícil onde não haviam médicos formados por perto).
- Seu Tiófilo, tira o que está em meu bolso esquerdo, ele não me deixa ir...
- Olha aí, vai confiar nestas porcarias, pois foi bem no lugar do patuá que a bala entrou.
Logo que retiraram o patuá o camarada deu um gemido medonho e foi-se embora para de onde não se volta...
Colocaram como de praxe a moeda na boca do defunto (simpatia para que o seu assassino não pudesse ir longe, por causa dos pés inchados ou ficasse andando em círculos, certamente isso encontra eco nos antigos ritos gregos mortuários de pagar a travessia do rio Aqueronte ao barqueiro do Hades: Caronte, adaptado para os costumes patriarcais e violentos do nordeste e Brasil agrário). O caboclo assistiu do mato as exéquias do valentão, esperou o sepultamento, retirou a moeda do cadáver, e como diz o povo caiu “na arca do mundo”...
Podia-se ainda conseguir o corpo fechado quando se usava imagens ou objetos sagrados inseridos na própria carne (pequenas imagens de santos por exemplo), assim fez um camarada que encomendou a outro que ia a Roma, uma “lasca do santo lenho” (a santa cruz original), o outro não achando lhe deu uma lasca de madeira qualquer, com o que ele passou a barbarizar com atitudes de valentão, o compadre espertalhão ficou curioso com tais façanhas feitas com um reles pedaço de pau, e esclarecido o engodo acabou a fé do suposto recente valentão, que voltou a ser “mofino” (covarde).
Deve-se esclarecer que o corpo fechado ainda podia ser obtido pelos rituais da Umbanda e do Candomblé (os “catimbozeiros” das caatingas), por simpatias, e além de proteger contra armas de fogo e brancas servia ainda pra adivinhar emboscadas, proteger contra mordidas de animais hidrófobos ou venenosos, mau olhado, bruxarias, evitar coices e amansar animais bravos... Mas em nenhum dos casos podia-se atravessar rios ou cercas de arame farpado, pois nessa situação ficavam vulneráveis aos tiros dos inimigos...
Por Fábio Costa "Senhor das armas!
Uma das mais curiosas relações do homem com as armas de fogo é justamente o paradoxo que logo depois de seu aparecimento se tentou minimizar ou mesmo anular o efeito destruidor de seus projéteis. As primeiras armas foram contemporâneas das armaduras medievais e estas últimas pouco puderam fazer para proteger seus usuários, pois apesar do paulatino reforço em sua chapa para aguentar os disparos dos iniciais arcabuzes (armas com peso ao redor de 5 kg e com calibre que podia chegar aos 2 cm), em breve não resistiriam a perfuração causada por um projétil do mosquete.
O brutal mosquete foi sucessor do menor arcabuz, geralmente era uma arma de 10/12 kg de peso, com calibre em torno de uma polegada -2,5 cm- e dizem que foi introduzida na Espanha no final do século XVI, devido ao peso tinha de usar como auxílio para a pontaria uma forquilha. Os soldados que a usavam ficariam eternamente famosos com o romance “os Três Mosqueteiros” de Alexandre Dumas.
Gravura do autor deste texto |
Existem muitas crendices populares sobre armas, como por exemplo na França, que em meados dos séculos XVIII e XIX acreditava-se que havia “balas encantadas” que perseguiam o alvo até abatê-lo. Dentre as nacionais, como as que dizem que a depender do alvo a arma perdia a capacidade de atingir com precisão ou mesmo disparar, como atirar numa caçada contra um animal encantado que na verdade podia ser um dos seres elementais das nossas florestas como o curupira, a caipora, o mapinguari, desgraçaria ou mesmo causaria a morte do caçador.
Atirar contra fantasmas, contra lobisomens e mulas sem cabeça, dentre outras criaturas fantásticas que habitavam as florestas e os sertões místicos etc. Atirar contra um “murundu” (cupinzeiro) estragaria a precisão da arma. Dentre muitas outras superstições se enquadram as crenças (principalmente no nordeste do Brasil) do “corpo fechado”, que era invulnerável aos ferimentos de facas e armas de fogo, ou capaz de enganar ou desnortear o perseguidor ou assassino através de fórmulas mágicas, patuás ou “breves”. Um dos mais célebres portadores de “corpo fechado“ foi o cangaceiro Lampião, que teria sobrevivido a diversos ferimentos de arma de fogo.
Conseguia-se o corpo fechado de várias maneiras, a mais comum era com o uso de uma poderosa e secreta oração que podia ter vários efeitos: impedia que a arma do adversário disparasse, causando negas de percussão, ou caíam as balas alguns metros após deixar o cano, ou a depender da força da magia saía água do interior do cano!! Evitavam que o inimigo visse com clareza o possuidor da “mandinga” (o famoso “envultamento”), embaralhando a sua visão causando tonturas ou alucinações.
Meu querido avô me contava dentre as várias e coloridas estórias que ouvi dos mais velhos na minha meninice, quase todas indo do período final do Séc. XIX até a “República Velha”, sobre um cidadão que se metamorfoseava - aos olhos do observador apenas, diga-se de passagem - em um pé de pimenta. Outro caso que ilustra bem este tipo de mandinga me foi contado pelo “seu” Anísio, um descendente direto de escravos que foi trabalhador agregado da fazenda de meu avô, que um cruel e famoso pistoleiro do norte de Minas Gerais estava sendo perseguido por um camarada disposto a vingar-se.
Numa estrada deserta os dois oponentes se encontraram a la Western spaghetti, quando a carabina “papo amarelo” foi empunhada pelo vingador, seus olhos são obscurecidos por uma nuvem negra, não morrendo este por pouco, em outro encontro quase fatídico desta vez numa vila, o assassino é protegido por um grupo de crianças que saídas do nada fazem barreira contra as balas da 44, enquanto o maléfico vai embora rindo. A magia se quebra quando o “vingador” encontra na casa da amante do pistoleiro uma peça de sua roupa, e com ela amarrada à boca do “rifle” finalmente acerta-o, matando-o, o cadáver do assassino ficou encostado numa árvore, morreu de pé, tendo seus dedos sido quebrados para se poder retirar o revólver...
Outra maneira de se conseguir o corpo fechado é usando um patoá, patuá (ou “breve”) palavra certamente derivada dos dialetos franceses “patois” (cuja pronúncia é mesmo patoá), é em síntese um amuleto em forma de saquinho que contém uma oração, ossos, cordões bentos, ou outro sortilégio. É carregado junto ao corpo, ou nas vestes do portador. Este também permite “envultar” das diversas maneiras já elencadas acima ou fazer armas falharem. Sobre isso meu avô contava que na Serra do Vitorino (Bahia), lá por volta de 1920, dentro de uma vendinha começou uma confusão, três elementos empurram um outro para fora do boteco, e em seguida já no terreiro descarregam suas “rabo de égua” (grandes garruchas de percussão) contra ele, de dentro da fumaceira da pólvora negra saiu o camarada ileso!!
Este “dito cujo” em seguida arranjou confusão com um “caboclo cabo verde” (mulato de cabelo liso, mestiço de índio) e armou para matá-lo, quedou-se acocorado dentro do ranchinho de pau-a-pique do caboclo próximo a porta dos fundos, mas o branco de sua camisa destacou-se num dos buracos do barro denunciando-o, e foi ali que a boca da garrucha do índio, que o havia visto a distância por causa disto, foi colocada, de um tiro a queima-roupa nas costas o infeliz desabou mas não morreu de imediato, levado a vila lá resistiu por algumas horas. Morria... A vela era colocada nas suas mãos e num gemido gutural e medonho retornava do mundo dos mortos com muito sofrimento, chamado para atender o caso meu bisavô Teófilo Carvalho (o sangrador da vila, fazia sangria, abria abscessos etc, numa época difícil onde não haviam médicos formados por perto).
- Seu Tiófilo, tira o que está em meu bolso esquerdo, ele não me deixa ir...
- Olha aí, vai confiar nestas porcarias, pois foi bem no lugar do patuá que a bala entrou.
Logo que retiraram o patuá o camarada deu um gemido medonho e foi-se embora para de onde não se volta...
Colocaram como de praxe a moeda na boca do defunto (simpatia para que o seu assassino não pudesse ir longe, por causa dos pés inchados ou ficasse andando em círculos, certamente isso encontra eco nos antigos ritos gregos mortuários de pagar a travessia do rio Aqueronte ao barqueiro do Hades: Caronte, adaptado para os costumes patriarcais e violentos do nordeste e Brasil agrário). O caboclo assistiu do mato as exéquias do valentão, esperou o sepultamento, retirou a moeda do cadáver, e como diz o povo caiu “na arca do mundo”...
Podia-se ainda conseguir o corpo fechado quando se usava imagens ou objetos sagrados inseridos na própria carne (pequenas imagens de santos por exemplo), assim fez um camarada que encomendou a outro que ia a Roma, uma “lasca do santo lenho” (a santa cruz original), o outro não achando lhe deu uma lasca de madeira qualquer, com o que ele passou a barbarizar com atitudes de valentão, o compadre espertalhão ficou curioso com tais façanhas feitas com um reles pedaço de pau, e esclarecido o engodo acabou a fé do suposto recente valentão, que voltou a ser “mofino” (covarde).
Deve-se esclarecer que o corpo fechado ainda podia ser obtido pelos rituais da Umbanda e do Candomblé (os “catimbozeiros” das caatingas), por simpatias, e além de proteger contra armas de fogo e brancas servia ainda pra adivinhar emboscadas, proteger contra mordidas de animais hidrófobos ou venenosos, mau olhado, bruxarias, evitar coices e amansar animais bravos... Mas em nenhum dos casos podia-se atravessar rios ou cercas de arame farpado, pois nessa situação ficavam vulneráveis aos tiros dos inimigos...
Se tudo isso é verdade não sei dizer, mas por via das dúvidas fico com a opinião de Shakespeare em Hamlet : “Há mais coisas nos céus e na terra, Horácio, do que sonha a tua vã filosofia".