segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Novidades na praça

Lampião de palavras: Graciliano Ramos

Do jornal Valor Econômico
Por IEDA LEBENSZTAYN



Na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional, encontrei “Dois Irmãos”, artigo de Graciliano Ramos inédito em livro. Saiu em “Diretrizes” em setembro de 1938, um mês e alguns dias depois de terem sido decapitados Lampião, Maria Bonita e cangaceiros do seu bando. Integra uma série de crônicas em que o escritor reflete sobre problemas do Nordeste, do Brasil e da civilização a partir da questão do cangaço: “Lampião”, “Virgulino”, “Cabeças”, “O Fator Econômico no Cangaço”, “Dois Cangaços”, “Antônio Silvino”, “Corisco” e “Desordens”.

A primeira delas, “Lampião”, de 1931, foi publicada na revista alagoana “Novidade” e hoje consta do livro de crônicas “Viventes das Alagoas”. Graciliano já explicitava que não lhe interessava apenas o indivíduo Virgulino Ferreira, mas a motivação do “lampionismo”: a necessidade de viver levava os sertanejos a aderirem ao banditismo.

Posterior à prisão de Graciliano (1936), como os demais textos mencionados, “Dois Irmãos” chama a atenção para as “chuvas de notícias sangrentas” que vinham do Nordeste em 1938: o problema da seca na região, não resolvido até hoje, aponta para o fator econômico e político, fonte de violência. A barbaridade afligia o escritor, então no Rio de Janeiro, migrante forçado, saído da cadeia no início de 1937. A estrutura social fincada em desigualdades, gerando fome e luta por sobreviver, resultava na violência de cangaceiros e da polícia, patente na degola de Lampião e de seu grupo em julho de 1938 e na exposição das cabeças, atrocidades tão noticiadas à época.

Revoltado contra injustiças e desejoso de ação, porém intelectual, afeito à palavra escrita, Graciliano se inquietou com as questões do cangaço e do beatismo. Mais do que meros assuntos na ordem do dia, eles carregam uma rede de problemas que atingiam a sensibilidade do escritor, pedindo-lhe reflexão e forma artística.

O mote de “Dois Irmãos” é “Pedra Bonita”, romance de José Lins do Rego lançado em 1938. Mas Graciliano não trata minuciosamente do livro, e sim de uma divisão nele presente, entre dois irmãos – o cangaceiro e o afilhado do padre. Com agudez, destaca que “a dispersão de forças” entre os irmãos, ambos desgraçados e sequiosos de mudanças, porém adeptos de “processos de salvação contraditórios”, favorecia seus opressores.

É notável a força poética e crítica do artigo de Graciliano. Evocando as imagens de Esaú e Jacó, o bruto e o sonhador, mostra que fome e injustiças levavam sertanejos à brutalidade, à sede de vingança, daí o lampionismo; mas também podiam resultar em resignação, no potencial de piedade e de consciência crítica. Nesses caminhos possíveis dos sertanejos, o leitor reconhece os impasses que dão forma às personagens de Graciliano.

O “Esaú sertanejo” é Lampião: depois de aguentarem injustiças, muitos se entregavam ao cangaço, a assassinatos e roubos – reações violentas à exploração no eito, aos desmandos dos soldados, dos poderosos.

“Esaú é arrojado, tem o coração ao pé da goela e pouco interior. O que vem de fora não o penetra muito: bate e volta, traduz-se em movimento. E como o que recebe de ordinário é brutalidade, a brutalidade faz ricochete e atinge quem o ofendeu. […] Por isso, quando na feira um soldado lhe planta a reiuna em cima da alpercata, apruma-se e rebenta-lhe o focinho com um murro, se o agressor está desacompanhado; se não está, vai esperá-lo numa volta de caminho, passa duas semanas emboscado […]. Mata-o, fura-lhe a carótida com o punhal […].”

Essa imagem do Esaú sertanejo traz à mente o desejo irrealizável de Fabiano, de “Vidas Secas” (1938): tornar-se cangaceiro e se vingar do soldado que o prendera injustamente e o espancara – matar os donos do soldado, os governantes. E como não pensar em Paulo Honório, de “São Bernardo” (1934), cuja realidade de explorado se traduziu em movimento até que, assassino e ladrão, ele se fizesse proprietário explorador? Funcionário humilhado, Luís da Silva respondeu com ódio de “cangaceiro emboscado” a Julião Tavares, redundando no crime de “Angústia” (1936).

Já o outro irmão, o Jacó sertanejo,, é o homem capaz de sonhos, gentileza, piedade e paciência. A miséria o acompanha: “Jacob, homem de sonho, diverge muito do irmão. É doce, resignado, constrói escadas que anjos percorrem, aguarda longos anos a realização de promessas que julga ter recebido. Como as promessas não se efetuam, fica outros anos encolhido, espiando o céu. […] esse homem piedoso continua miserável, habitante duma região medonha que certa literatura tem revelado indiscretamente”.

Diversa dessa divisão de caracteres de “Pedra Bonita”, a arte da personagem Fabiano é carregar em si a tensão entre os “dois irmãos”. Esaú e Jacó sertanejo, embora bruto e sedento de se vingar das injustiças, o retirante não mata o soldado: “guarda a sua força”, é ético em sua resignação e apego aos sonhos de mudança junto à família. Também Paulo Honório e Luís da Silva têm uma face de Jacó: narradores de suas tragédias, doçura e piedade convertidas em angústia, são homens de sonhos frustrados.

Ressaltam do artigo a sensibilidade e o olhar crítico às incongruências do país, em que o intelectual, Lampião de palavras, entre o ímpeto revoltoso de Esaú e o sonhar compungido de Jacó, é combatido como “extremista”. Graciliano alude com ironia à sua prisão (1936): a denúncia dos problemas da realidade brasileira, tornada chavão com a revolução de 1930, redundou em sofrimento para quem denunciava de fato, sem enfeites, os molambos.

Assim, “Dois Irmãos” expressa o desejo do escritor de que se observasse o cangaço em sua complexidade: propalado como heroico pela imprensa, o assassinato de alguns bandoleiros pela força policial não significava o fim da miséria no Nordeste.

Em sua arte, assim como ao dirigir a Instrução Pública de Alagoas, Graciliano agiu contra a miséria, a ignorância e os preconceitos gritantes. Esse “extremismo” seria repreendido com a prisão do escritor, e a ironia da carta (não enviada) a Getúlio Vargas, igualmente de 1938, nos cala.

“[…] Como disse a V. Excia., a comissão repressora dum dos extremismos […] achou inconveniente que eu permanecesse em Alagoas, trouxe-me para o Rio e concedeu-me hospedagem durante onze meses. Sem motivo, suprimiu-se a hospedagem, o que me causou transtorno considerável. Agora é necessário que eu trabalhe, não apenas em livros, mas em coisas menos aéreas. Ou que o Estado me remeta ao ponto donde me afastou, porque enfim não tive intenção de mudar-me nem de ser literato. […] ignoro as razões por que me tornei indesejável na minha terra. Acho, porém, que lá cometi um erro: encontrei 20 mil crianças nas escolas e em três anos coloquei nelas 50 mil, o que produziu celeuma. Os professores ficaram descontentes, creio eu. E o pior é que se matricularam nos grupos da capital muitos negrinhos. Não sei bem se pratiquei outras iniquidades. É possível. Afinal o prejuízo foi pequeno, e lá naturalmente acharam meio de restabelecer a ordem.”

- – - – -
Ieda Lebensztayn, autora de “Graciliano Ramos e a Novidade: o Astrônomo do Inferno e os Meninos Impossíveis” (Editora Hedra), é doutora em literatura brasileira pela USP e pós-doutoranda no IEB-USP, bolsista da Fapesp.

Publicado originalmente no http://graciliano.com.br/site/2013/05/lampiao-de-palavras-graciliano-ramos/

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O que vem por aí

A Nova Face do Cangaço
Por: Manoel Severo

Quantos anos se passaram, quantas histórias foram contadas, quanto chão percorrido, quanta violência e dor, quanto mistério... Quanto ainda temos para descobrir ? Apesar de toda controvérsia o cangaço se notabiliza como um dos mais intrigantes e fascinantes fenômenos de nosso sertão, de nosso nordeste. Só para falar no ciclo de Virgolino Ferreira, o Lampião, foram 20 anos de lama e aço...

Aderbal Nogueira, Manoel Severo e a Nova Face do Cangaço

Pesquisadores, rastejadores, curiosos, professores e alunos... vaqueiros da história, homens e mulheres de todas as idades e de todos os lugares se dedicam há muitos anos, de corpo e alma, a desvendar e aprofundar o estudo cangaço, tão presente entre nós até os dias de hoje,

Aderbal Nogueira, à frente da Laser Vídeo, com o apoio do Cariri Cangaço, da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço e do GECC - Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará, lançam seu mais novo empreendimento, o Projeto "A Nova Face do Cangaço". Um conjunto de documentários trazendo imagens e depoimentos nunca antes vistos, propondo um novo olhar para o estudo da temática.

Vejam um Piloto de Apresentação...

A Nova Face do Cangaço
Um Projeto com a Marca Laser Vídeo
de Aderbal Nogueira
Apoio: Cariri Cangaço, SBEC & GECC.

Para Ângelo Osmiro, presidente do GECC, "o projeto é uma iniciativa mais que oportuna no momento em que percebemos o estudo do cangaço ganhando uma nova dimensão, sem dúvidas haveremos de ter muita novidade". Já Aderbal Nogueira da Laser Vídeo ressalta "a grande oportunidade de unir o saber da história oral com as recentes iniciativas do estudo do cangaço a partir da academia, isso sem dúvidas precisa ser comemorado, estamos juntos nesse desafio, à exemplo do Projeto Arqueologia do Cangaço, lançado no Cariri Cangaço Piranhas 2014".

O Projeto embrionário já possui seu "norte", agora os parceiros envolvidos se dedicam a construir o conteúdo e buscar incentivos financeiros para muito em breve lançarmos em grande estilo e para todo o Brasil.

Manoel Severo
Curador do Cariri Cangaço

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Novidades em HQ

“A Noiva Zumbi”, de Gonçalo Junior e Fábio Cruz reinventa a morte no cangaço

Por Michelle Ramos - Zine Brasil



A inspiração para a produção da HQ “Noiva Zumbi” veio da violência moral provocada pelo ato de decepar as cabeças dos cangaceiros nas matanças que aconteceram no Nordeste brasileiro até a primeira metade do século 20. As lendas diziam que isso era feito não só como uma medida cruel ante corpos já sem vida. Dizia a crendice popular que essa era a única forma, de fato, para se exterminar um bandido daqueles. Nascia, desse modo, a lenda dos cangaceiros zumbis.



A partir desta lenda os autores de A Noiva Zumbi imaginaram que os famosos bandoleiros que aterrorizaram o Nordeste brasileiro se transformam em zumbis para tentar resgatar a cabeça da companheira do chefe do bando, levada como troféu por batedores da volante (polícia). Os elementos tema da carnificina que pôs fim à vida de Lampião, Maria Bonita e seu bando, em 1938, deram ao roteirista Gonçalo Junior e ao desenhista Fábio Cruz motivação para criar esta graphic novel original.

A Noiva Zumbi é uma história em quadrinhos de terror diferente de todas já vistas- crua, violenta e aterradora. Valorizada pelo novo traço originalíssimo que marca a volta de um dos mestres do desenho que fez história no jornal Gazeta Mercantil, Fábio Cruz. Com seus desenhos solto e muito atual, em uma edição impressa em cor especial, com sub tons quentes.


(Imagens gentilmente enviadas pelo desenhista Fábio Cruz)

A Noiva Zumbi é publicada sete anos depois da sua primeira versão ter sido divulgada e disponibilizada no You Tube, com o título “A Cabeça da Noiva”. Esta obra é, também, uma inesquecível trama de amor, aos moldes da irreverência de seus autores, dramatizando livremente uma versão de horror da morte de um cangaceiro famoso e seu bando, ocorrida de verdade em 1938.


A Noiva Zumbi
Autores: Gonçalo Junior (roteiro) – Fábio Cruz (desenhos)
Opera Graphica Editora
ISBN 978-85-89601-35-1
formato:16 x 23 cm
128 páginas impressas em cor especial
Preço: R$ 39,00
Vendas: Comix Book Shop
(11) 3088-9116
www.comix.com.br
vendas@comix.com.br



Publicado originalmente no Republica dos quadrinhos

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Depois de Piranhas...

II Seminário Regional Parahyba Cangaço



Chegou Agosto e junto com ele teremos o II  Seminário  Regional Parahyba Cangaço e Cariri Cangaço Paraíba.  Esse  é  um ano festivo, pois comemoraremos 90 anos do ataque a cidade de Sousa pelo bando de Lampião, capitaneado pelos cangaceiros Chico Pereira, Antônio Ferreira e Livino Ferreira, no fatídico amanhecer do dia 27 de julho de 1924.

De  22 a 24 de agosto as cidades de Sousa, Nazarezinho e Lastro abrem os braços para acolher todos os pesquisadores, estudantes e  “vaqueiros  da história”interessados em conhecer um pouco da história do cangaço  no alto sertão paraibano. Momentos  como esse são de grande valor por possibilitar a abertura de novos rumos no entendimento do movimento do cangaço e da história social e cultural do Nordeste brasileiro, levando-nos a quebrar paradigmas já cristalizados que focam a história do cangaço apenas nas figuras do  “estado maior”: Lampião, Corisco, Zé Sereno, Maria Bonita, Sila, Dadá...

É  necessário uma  “nova leva”  que promova uma reflexão sobre outros agentes que foram lapidares na constituição histórica do cangaço. Torna-se latente o resgate desses sujeitos para os anais, pois eles também foram importantes na teia formadora do cangaço.  Abrimos assim espaço para um cangaceiro pouco conhecido, Chico Pereira, mas de grande relevância para entendermos como se dava as relações de poder, a política, justiça, criminalidade e cangaceirismo no sertão paraibano. Chico Pereira foi um dos mais importantes cangaceiros do sertão  da  Paraíba, sendo responsável por maquinar o ataque a cidade de Sousa, tido como um dos maiores ataques cangaceiros no estado durante a década de 1920, para vingar a morte do seu pai, João Pereira, que fora assassinado brutalmente, não tendo sido justiçado pela justiça oficial, que relegou o caso a um segundo plano.

A “cidade dos dinossauros” juntamente com Nazarezinho e o Lastro irmanam-se para comemorar essa data festiva, lembrando ser a história um espaço de memória e rememoração, significação e resignificações.

Não  temos assim pretensão  de exaltar o banditismo, mas entendê-lo dentro de um contexto social de uma época marcada pelo descaso, falta de políticas públicas e justiça promotora da dignidade humana.

Esse  também é um momento propício para  lutarmos pela criação do Museu  do Cangaço na casa grande do sítio Jacu, que pertenceu a Chico Pereira e hoje encontra-se em ruínas. Essa luta é de grande importância não só para as cidades do sertão paraibano, mas para a história nacional, haja vista Chico Pereira não mais pertencer apenas a história da cidade de Sousa e Nazarezinho, mas ser uma figura da história nacional.
Reforçamos assim o convite,  nobres amigos e amigas,  vaqueiros e vaqueiras da história. Confira abaixo a programação oficial.

22 de agosto de 2014 – Local: Centro Cultural Banco do Nordeste

18:30h – Apresentação do Xaxado
19:00h – Solenidade de Abertura
19:30h – Conferência de Abertura
Tema: A relação entre memória e História e a sua importância para a formação da 
identidade regional: 90 anos do ataque do grupo de Lampião a Sousa.
Conferencista: Prof. Me. Wescley Rodrigues – Cajazeiras/PB FAFIC

23 de agosto de 2014 - Local: Centro Social - Nazarezinho

08:00h – Visita técnica a Casa de Chico Pereira no sítio Jacu.
09:00h – Solenidade de Abertura
09:30h  –  Mesa redonda:  A articulação do ataque a Sousa e a figura de Chico 
Pereira
Palestrantes –  Wanessa Campos – Recife/PE
Maria do Socorro Leon – Nazarezinho/PB
Maria do Carmo Pereira – Cajazeiras/PB 
Coordenador: Chico Cardoso – Cajazeiras/PB
11:30h – Intervalo para o almoço
13:30h  –  Palestra:  O museu como lugar de memória e a sua importância para 
uma cidade
Palestrante: Manoel Severo Barbosa – Fortaleza/CE
Coordenador: Paulo Gastão – Mossoró/RN
14:20h  –  Mesa de Trabalho:  A casa grande  do sítio Jacu: patrimônio que clama 
por atenção. Tombamento já!
Coordenador: César Nóbrega – Sousa/PB
Participantes: Secretaria de Cultura do Estado
FUNESC
IPHAEP
IPHAN
16:00hLançamento dos livros "Lampião contra o Mata Sete"
Autor: Archimedes Marques (Aracaju/SE)
"Lampião em Paulo Afonso"
Autor: João de Sousa Lima (Paulo Afonso/BA)

19:00h – Local: Centro de Treinamento/Sousa - PB
Mesa redonda: Coronelismo, cangaço e o ataque a Sousa
Palestrantes: Honório de Medeiros – Natal/RN
Rostand Medeiros – Natal/RN
Otávio Maia – Catolé do Rocha/PB
Ângelo Osmiro – Fortaleza/CE
Coordenadora: Juliana Pereira – Quixadá/CE
(Roda de perguntas e respostas envolvendo o público)

24 de agosto de 2014 – Lastro - PB

08:00h – Visita técnica a casa onde foi preparada a resistência aos cangaceiros
09:00h – Solenidade de Abertura
09:20h –  Mesa redonda:  A importância do cangaço para a história nordestina e a 
articulação da defesa contra os cangaceiros que invadiram Sousa
Palestrantes – Guerhansberger Tayllow – Lastro/PB
José de Abrantes Gadelha – Sousa/PB
Narciso Dias – João Pessoa/PB
Coordenador: Francisco Pereira Lima – Cajazeiras/PB  


Opções de hospedagens:
 
Ribeirão Hotel,
Rua Cônego José Viana, Nº 36, Bairro da Estação, Sousa-PB.

Apartamentos:
Single R$ 65,00
Duplo R$ 90,00
Triplo R$ 110,00
Contato: (83) 3521-1829

Pousada do Ribeirão Hotel
Single R$ 55,00
Duplo R$ 65,00
Contato: (83) 3521-1829

Pousada Coco Verde (Sem Café da manhã)
Rua Sargento Edésio de Carvalho, 19 (Centro) - Sousa

Single R$ 40,00
Duplo R$ 70,00
Triplo R$ 105,00

Saudações cangaceiras,
Prof. Me. Wescley Rodrigues

sábado, 9 de agosto de 2014

Um olhar francês sobre a vida de Lampião

Pesquisador Jack de Witte busca editora para publicar edição em português de sua biografia

Por Fellipe Torres - Diário de Pernambuco

O primeiro grande sucesso internacional do cinema brasileiro ganhou o mundo há 61 anos, em 1953. Trata-se de O cangaceiro, escrito por Lima Barreto (cineasta homônimo do autor de "Triste fim de Policarpo Quaresma)" em parceria com Rachel de Queiroz. Bastante premiado, inclusive no Festival de Cannes, o filme circulou por 80 países. Na França, onde passou cinco anos em cartaz, o longa-metragem inspirado na história de Lampião encantou muitos espectadores, e particularmente Jack François de Witte, na época adolescente.

O cenário de truculência e banditismo no Sertão nordestino permaneceu no imaginário do francês por toda a vida. Décadas mais tarde, já formado em engenharia eletrônica, morou três anos no Rio de Janeiro, quando teve a oportunidade de conhecer mais sobre a lenda por trás de ficção, o cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva. Ao se aposentar, intensificou a pesquisa em jornais das décadas de 1920 e 1930, além de montar biblioteca com 60 livros sobre o assunto. “Me tornei um apaixonado pelo cangaço”, diz.

Jack de Witte
(Foto Kiko Monteiro)

Munido de bastante informação, de Witte percorreu cidades nordestinas na tentativa de refazer os passos de Lampião. Visitou desde o local de nascimento, em Serra Talhada, no Sertão pernambucano, até onde foi morto, na fazenda Angico, em Sergipe. O resultado da imersão na história do cangaço rendeu o livro "Lampião VP - Sans toit , sans roi, sans loi" (em tradução livre, sem casa, sem lei, sem rei), lançado há seis anos em Paris. Agora, o escritor francês circula em busca de editora para publicar a obra em português.


A despeito de ter sido embasada em extenso levantamento, a narrativa é construída na primeira pessoa, do ponto de vista de Lampião. “Quis fazer uma abordagem meio literária, então associei notícias de jornal com essa nova maneira de contar a história”, explica Jack de Witte. No encadeamento de ideias, contudo, também há espaço para a imaginação e a subjetividade. O “VP” do título, vale ressaltar, é uma referência à comparação feita entre Virgulino e o traficante carioca Marcinho VP (protagonista de Abusado, de Caco Barcellos).

Na avaliação do pesquisador do cangaço Frederico Pernambucano de Mello, o livro é um “romance histórico desafiador”, referindo-se à maneira peculiar de narração. “Para o historiador, cometimentos assim chegam a ser arrepiantes... Mas o certo é que ele [o autor] cercou-se de informações densas sobre a vida do cangaceiro”. Pernambucano de Mello foi um dos que colaboraram com a pesquisa do francês. “Creio que cabe a tradução para o português. O assunto está vivendo efervescência máxima”, completa.

Sobre o interesse em editar a obra no Brasil, de Witte diz ter essa intenção desde o início da pesquisa.
 “Não escrevi o livro para os franceses, e sim para, de algum modo, fazer parte dessa história”.
E aproveita para explicar a pouca repercussão desde o lançamento em Paris.
“As pessoas na França são muito egocêntricas e etnocêntricas, não estão abertas para aprender a respeito de outros locais”.
Lampião, segundo estrangeiros

“Bandido social” (Visão britânica)

Eric Hobsbawn - Bandidos (Paz e terra, 254 páginas, R$ 55,00)

O historiador britânico Eric Hobsbawm traça perfis de vários “bandidos sociais” ao redor do mundo, entre eles, Lampião. No livro, ele aponta a lenda de Robin Hood como ideal universal do bom ladrão para analisar como a ausência pode transformar criminosos em heróis. A análise rendeu muitas críticas, sobretudo por sugerir que essas figuras representavam a “reação dos excluídos” contra a opressão de alguns poderes centrados no campo. No caso particular de Lampião, Hobsbawm o considerava um “bandido social” com a ressalva de que havia nele uma ambiguidade. Era “meio nobre, meio monstro”.


Para adquirir este livro entre em contato com o Professor Pereira. franpelima@bol.com.br ou fplima1956@gmail.com

Bandido de origem social” (Visão Norte-americana)


Lampião: o rei dos cangaceiros (Paz e terra, 335 páginas, R$ 47,50), de Billy Jaynes Chandler

O norte-americano Billy Chandler é um dos críticos de Hobsbawm. Para ele, Lampião só se encaixa no conceito de “bandido social” por ter origem em ambiente injusto, e que seria exagero falar em justiça social por parte do cangaceiro. Na biografia de Virgulino, examina a trajetória desde a infância até o episódio de sua morte. Separa fatos da ficção e coloca o personagem no contexto do sertão, onde tornar-se cangaceiro era um ato natural e atrativo para o filho de um agricultor. Relatos atuais e da época, arquivos e entrevistas sustentam a análise sistemática sobre o cangaceiro.


 “Gênio do Marketing” (Visão francesa)

Lampião - Senhor do Sertão (Edusp, 392 páginas, R$ 200,00), de Élise Grunspan-Jasmin

A historiadora francesa fez vasto levantamento e comparou várias versões sobre a vida de Lampião. Também explica como a imagem do “mito” foi construída pela imprensa dos anos 1930, que embora criticasse a violência, ajudava a construir a lenda do herói invencível, de corpo fechado. Ela aponta as numerosas fotos publicadas na imprensa, e revela o enorme prazer de Virgulino em posar para fotógrafos e se ver nos jornais. Com grande senso de marketing, manipulava jornalistas para se promover. A “lenda” seria reforçada com a literatura de cordel, bonecos de barro, filmes e músicas.

 Para adquirir este livro entre em contato com o Professor Pereira. franpelima@bol.com.br ou fplima1956@gmail.com

Depoimento: Frederico Pernambucano de Mello

Frederico Pernambucano de Mello
Foto: Igo Bione/Jornal do Commercio

 “Conheci pessoalmente Jack de Witte em Paris, em 2004, quando fui fazer palestra sobre o cangaço. Alto, magro, contido, ares de jesuíta que largou a batina. No dia seguinte, à noite, nos avistamos demoradamente para um vinho em casa da também brasilianista do cangaço Élise Grunspan-Jasmin.

Jack estava cavando informações para escrever seu livro sobre Lampião, um romance histórico muito desafiador, vez que corre o risco de dar voz ao grande cangaceiro, fazendo com que este vá alimentando a narrativa com revelações sobre fatos e sobre motivos por trás desses fatos. Para o historiador, cometimentos assim chegam a ser arrepiantes...

Mas o certo é que ele não se lançou ao risco a partir do vazio. Ao contrário,  cercou-se de informações densas sobre a vida do cangaceiro, detendo-se por anos no levantamento destas, o que confere respeitabilidade ao produto final. Li a versão em francês de seu livro, faz alguns anos, e creio que caiba a tradução para o português, com vistas ao nosso público. O assunto está vivendo efervescência máxima.

Jack de Witte está longe de ser um aventureiro. Cercou-se criteriosamente dos elementos necessários a nos dar a visão pessoal do que entende terem sido algumas das razões e propósitos do Capitão Virgulino Ferreira. Trata-se, por outro lado, de um enamorado do Nordeste do Brasil sem meios-termos, sobretudo dos sertões setentrionais. Que não deixa turvar seus estudos por essa paixão.”

Publicado originalmente in Diário de Pernambuco

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O pai de Ariano

Quem foi João Suassuna, como se deu a sua morte e como este fato influenciou a vida e obra do seu filho



João Suassuna, pai de Ariano
João Suassuna, pai de Ariano

Diante da recente morte do escritor Ariano Suassuna, muito de sua vida foi trazida ao conhecimento de milhares de brasileiros. Entre os muitos aspectos da biografia deste paraibano que marcou a história do Nordeste, um dos principais pontos abordados foi a importância da figura de seu pai, João Suassuna, em sua vida.

Ariano Suassuna 1927 - 2014
Ariano Suassuna 1927 – 2014

Em inúmeros textos foi comentado, normalmente de maneira bem básica, que João Suassuna havia sido governador da Paraíba e que ele foi assassinado no ano de 1930, em meio às repercussões ocasionadas pela morte de João Pessoa e os acontecimentos políticos daquele período tumultuado da história do Brasil. Mas ao observamos com mais detalhes a figura do pai do grande escritor, que morreu quando Ariano tinha apenas três anos de idade, descobrimos uma história muito intensa, interessante e trágica!
 
O BACHAREL SERTANEJO
 
Há dez anos, com a ajuda do amigo Sérgio Dantas, autor de três maravilhosos livros sobre o cangaço, eu dei início a uma inacabada pesquisa por quatro estados nordestinos sobre a vida e morte do cangaceiro paraibano Chico Pereira. Esta motivação vinha do fato de ser imputado a este cangaceiro e seu bando, em fevereiro de 1927, o assalto a fazenda Rajada, em Acari, na região do Seridó Potiguar. Na época esta fazenda pertencia a Joaquim Paulino de Medeiros, meu bisavô e durante grande parte da minha juventude escutei inúmeras vezes os relatos deste episódio através de vários parentes queridos.
 
No desenrolar das pesquisas vi que a história de Francisco Pereira Dantas, o verdadeiro nome de Chico Pereira, possuía ligações com a trajetória política de João Suassuna. Até mesmo a sua morte, ocorrida em 1928 na zona rural de Currais Novos, em um rumoroso caso de violência estatal, que manchou a biografia do então governador potiguar Juvenal Lamartine de Farias, também possui ligações com o pai de Ariano.
 
Mas de maneira totalmente independente do fato de João Suassuna ser pai do autor de “Auto da Compadecida”, busquei conhecer mais sobre sua vida.

João Suassuna no início de sua carreira
João Suassuna no início de sua carreira

Nascido João Urbano Pessoa de Vasconcelos Suassuna, veio ao mundo em Catolé do Rocha, Paraíba, no dia 16 de janeiro de 1886. Anos depois estudou na conceituada e tradicional Faculdade de Direito de Recife, onde se bacharelou em 1909. O início de sua carreira como advogado foi em Mossoró, no Rio Grande do Norte. Depois João Suassuna assumiu o posto de juiz nas cidades de Umbuzeiro e Campina Grande, ambas na Paraíba. Na sequência foi Procurador da Fazenda Nacional no seu estado natal.
 
Em 1 de dezembro de 1913, quando tinha 27 anos, casou com Rita de Cássia Vilar Suassuna, então com 17 anos, a quem chamava carinhosamente de Ritinha. Quando Castro Pinto esteve a frente do executivo paraibano (1912-1915), João Suassuna assumiu cargos de importância na máquina governamental.
 
Em 1917, após este período de governo, voltou a ser juiz, desta vez na cidade de Monteiro (PB). Foi nesta época que João Suassuna adquiriu uma propriedade chamada “Malhada da onça”, pra onde seguia ocasionalmente. A fazenda ficava em Desterro, local de nascimento de sua mulher, na época uma comunidade pertencente à cidade paraibana de Teixeira. Em 1919 deixou a magistratura e foi trabalhar no antigo Instituto Federal de Obras Contra as Secas – IFOCS e nesta época adquiriu a Fazenda Acauã, na época localizada na zona rural de cidade de Sousa[1].

Fazenda Acauã na atualidade - Fonte - http://artenapedrapolida.blogspot.com.br/
Fazenda Acauã na atualidade – Fonte – http://artenapedrapolida.blogspot.com.br/

No começo da década de 1920, João Suassuna foi convidado pelo então governador Sólon de Lucena para assumir a Inspetoria do Tesouro do Estado, depois foi eleito deputado federal. Estava no exercício do mandato parlamentar no Rio de Janeiro, então Capital Federal, quando foi eleito “Presidente da Parahyba”, o que corresponde hoje ao cargo de governador.
 
O mandato de João Suassuna se caracterizou em grande parte por uma valorização das ações desenvolvidas pelos grandes latifundiários de terras do interior, possuidores de grandes riquezas baseadas no cultivo do algodão e na pecuária. Estes “coronéis” atuavam através de uma estrutura política arcaica, que se valia entre outras coisas do mandonismo, da utilização de grupo de jagunços armados, da conivência com grupos de cangaceiros e outras ações.
 
Foi nesta época, no palácio do governo da Paraíba, que servia de residência oficial do chefe do executivo daquele estado, mais precisamente no dia 16 de junho de 1927, que nasceu um dos nove filhos do casal João e Rita. Foi batizado como Ariano.

João Pessoa
João Pessoa

João Suassuna entregou o cargo em 22 de outubro de 1928 a João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque e assumiu novamente uma das vagas de deputado federal pela Paraíba.
 
PROBLEMAS À VISTA!
 
João Pessoa discordava da forma como o grupo político que o elegera conduzia a política do seu estado e logo surgiram sérias divergências com os latifundiários. Um dos maiores embates estava na cobrança de taxas de exportação do algodão. Por esta época os coronéis exportavam o produto principalmente através do porto de Recife, provocando enormes perdas de divisas tributárias para a Paraíba. Procurando evitar esta sangria financeira e efetivamente cobrar os coronéis, João Pessoa implantou diversos postos de fiscalização nas fronteiras da Paraíba, irritando de tal forma estes caudilhos, que pejorativamente passaram a chamar o governador de “João Cancela”.
 
Os embates políticos entre o governador e os coronéis foram crescendo. A maior liderança entre estes poderosos foi sem dúvida o coronel José Pereira Lima. Verdadeiro imperador da região oeste da Paraíba, na área da fronteira com Pernambuco, tendo como base, a cidade de Princesa e este discordava com veemência das ações de João Pessoa. Do embate entre estes dois homens, resultou um dos maiores conflitos armados do Brasil Republicano.

Sentado vemos Marcolino Diniz, um dos líderes de Princesa e seus "cabras"
Sentado vemos Marcolino Diniz, um dos líderes de Princesa e seus “cabras”

A contenda teve início em 28 de fevereiro de 1930, quando ocorreu a invasão da cidade de Teixeira por parte da polícia paraibana, com o aprisionamento dos membros da conceituada família Dantas, ligada por profundos laços de parentescos e interesses ao coronel José Pereira. Apesar de governador João Pessoa não contar com o apoio do Palácio do Catete, onde o titular, Washington Luís não viabilizou uma efetiva ajuda às forças policiais paraibanas, o governador paraibano foi à luta.
Em meio aos conflitos da chamada “Guerra de Princesa”, no dia 26 de julho de 1930, um sábado, João Pessoa estava na Confeitaria Glória, em Recife, quando foi atingido por dois disparos desfechados pelo advogado paraibano João Duarte Dantas.
 
Da mesma família Dantas da região de Teixeira, consta que após realizar uma viagem João Dantas encontrou seu escritório na capital paraibana violado. Entre os objetos roubados estavam cartas e poemas eróticos, além de fotografias sensuais, trocados com a sua amante, a poetisa Anayde Beiriz. Estes materiais teriam sido roubados por membros da polícia paraibana, sob as ordens de João Pessoa, sendo publicados e colocados em locais públicos. Diante dessa exibição João Dantas foi à confeitaria vingar a sua privacidade violada[2].

João Duarte Dantas
João Duarte Dantas

Após o crime, João Pessoa se tornou um grande herói para o povo paraibano e seu assassinato foi o estopim da conhecida Revolução de 1930. Neste meio tempo cresceu descontroladamente o radicalismo na Paraíba e muito sangue correu[3].
 
A PARTIDA
 
Por ser João Suassuna casado com uma prima de João Dantas, ter sido eleito deputado federal com o apoio dos Dantas da cidade de Teixeira e do coronel José Pereira, o pai de Ariano ficou na mira dos familiares, amigos e correligionários do falecido João Pessoa.
 
No dia da morte do então governador paraibano na Confeitaria Gloria, João Suassuna se encontrava no Recife. Já sua família, inclusive o menino Ariano de três anos, estava na capital paraibana, em uma casa alugada ao Dr. Mariano Falcão, na Rua das Trincheiras. Diante do aumento da tensão na capital, Rita Suassuna e seus nove filhos vão se refugiar no 22º Batalhão de Caçadores, ou 22º BC, atual 15º Batalhão de Infantaria Motorizada. Em pouco tempo João Suassuna conseguiu apoio do rico empresário Frederico João Lundgren e consegue apoio do Exército para trazer sua família para uma casa mobiliada, pertencente a este empresário e localizada na cidade pernambucana de Paulista. Um dado interessante foi que a escolta da família Suassuna era comandada pelo tenente Agildo Barata[4].

  
João Pessoa morto
João Pessoa morto

O deputado João Suassuna recebeu a comunicação que havia sido denunciado como cúmplice no assassinato de João Pessoa e teria que ir ao Rio de Janeiro para se defender na Câmara dos Deputados. No Porto do Recife ele embarcou no paquete “Zelândia” e lá estava toda a sua família para as despedidas. Mesmo tendo naquela ocasião apenas três anos de idade, Ariano Vilar Suassuna sempre relatou ao longo de sua vida que jamais esqueceu a partida do seu pai para a Capital Federal, pois aquela foi a última ocasião que o viu com vida. 
 
João Suassuna chegou a Capital Federal no dia 22 de outubro de 1930, se apresentou a Câmara Federal. Lá soube que tramitava na comissão de constituição e justiça um pedido do deputado estadual pernambucano João Paes de Carvalho Barros, para que fosse concedida uma licença para abrir uma investigação sobre a participação de Suassuna como cúmplice no assassinato de João Pessoa. Logo o pedido foi indeferido pelo presidente da casa, o deputado federal João Santos[5].
 
TEMPO DE REVOLTA
Não tarda e a convulsão política eclode. A conhecida Revolução de 1930 teve seu início em 03 de outubro de 1930, uma sexta feira, com movimentos sincronizados que foram levados a efeito no Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Paraíba.

João Suassuna (com papéis e na mão), tendo ao seu lado esquerdo Washington Luís no Porto de Cabedelo, Paraíba
João Suassuna (com papéis e na mão), tendo ao seu lado esquerdo Washington Luís
no Porto de Cabedelo, Paraíba

Mesmo diante desta situação, o deputado João Suassuna se coloca ao lado do presidente Washington Luís, junto com mais de uma centena de políticos. Todos se encontraram na tarde do dia 4 de outubro no Palácio da Guanabara, atual sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro, onde morava o mandatário que em breve seria deposto[6].
 
Os dias seguiam com mais notícias preocupantes vindas da Paraíba e de Pernambuco. Na capital paraibana, na madrugada do dia 4 de outubro, poucas horas após o movimento ter-se iniciado, os revolucionários atacaram o 22º BC e ali morreu o general legalista Alberto Lavenère Wanderley, comandante da 7ª Região Militar. Já o 23º BC da cidade de Sousa, opôs resistência aos revolucionários. Logo em seguida sublevaram-se o 25º BC de Teresina, o 24º BC de São Luís e o 29º BC de Natal.

Revolucionário de 1930 - Fonte - ultimosegundo.ig.com.br
Revolucionário de 1930 – Fonte – ultimosegundo.ig.com.br

Em Recife o movimento encontrou uma resistência maior por parte das forças legalistas, que haviam se colocado de prontidão ao surgirem notícias da revolução. A vitória dos revolucionários, contudo, foi garantida pelo apoio popular à insurreição, tendo ocorrido, inclusive, distribuição de armas aos populares. Já na manhã do dia 5 de outubro, o movimento havia triunfado em Pernambuco, antes mesmo que os reforços provenientes da Paraíba chegassem a Recife. No dia seguinte a posição dos revoltosos se consolidou quando o presidente do estado, Estácio Coimbra, abandonou o governo[7].
 
TIRO MORTAL
Enquanto as notícias das sublevações e lutas pelo Brasil afora preocupavam os cariocas e o governo Washington Luís seguia para seus últimos dias, João Suassuna se dividia entre saber notícias de sua família e a atividade parlamentar.
 
Nesta época o deputado paraibano morava no quarto 63, do Novo Hotel Belo Horizonte, localizado na Rua Riachuelo, 130, no bairro de Botafogo.

Rua Riachuelo, em Botafogo, Rio de Janeiro - Fonte - www.rioquepassou.com.br
Rua Riachuelo, em Botafogo, Rio de Janeiro

Suassuna tinha o hábito de sempre descer ao “hall” principal para ler os jornais ainda pela manhã. Naquela quinta feira, 9 de outubro de 1930, ele estava nesta atividade quando apareceu uma visita. Era o farmacêutico paraibano Caio Gusmão, que há quatro meses residia no Rio. Eram cerca de oito e quarenta da manhã, quando o deputado decidiu seguir junto com seu visitante para o Palácio Tiradentes, sede da Câmara Federal. Estava vestido de paletó de casimira cinza e sapatos pretos[8].
 
Os dois caminharam um bom trecho pela Rua Riachuelo, quando Suassuna  olhou para o céu e comentou…
 
- Parece que vai chover e vou buscar minha capa no hotel!
 
Deu meia volta, avançou alguns passos, mas nesse momento foi atingido por um disparo de arma de fogo. Suassuna tentou sacar um revólver “Colt” que conduzia, mas caiu no chão já morto por apenas aquele único tiro. O fato ocorreu na altura do número 111, próximo a esquina com a Rua dos Inválidos[9].
 
Caio Gusmão nada pode fazer, o corpo ficou em decúbito dorsal, com o revólver do falecido ao lado e a sua mão manchada de sangue[10].
 
Logo encheu de gente. Rapidinho se espalhou a notícia sobre quem havia sofrido aquele atentado e o espanto dos transeuntes foi geral. Populares chamaram a “Assistência”, o SAMU da época, que logo chegou, mas nada puderam fazer em favor de João Suassuna.

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Em pouco tempo o delegado do 12º Distrito Policial, o Dr. Eunápio Hardman Castello Branco, em companhia do comissário Antônio Pizarro de Morais, chegou ao local e depois vieram várias outras autoridades policiais. Das primeiras investigações descobriram que o assassino fugiu pela Rua Paula Matos, em direção ao Morro de Santa Tereza. Foi comentado aos policiais que o atirador possuía estatura mediana, vestia paletó branco, usava boné de casimira negra e calçava “tennis”[11].
 
Desde os primeiros momentos que os jornais cariocas apontavam que a razão do assassinato de João Suassuna era vingança pela morte de Joao Pessoa e mesmo com revoltas pipocando no país, os revolucionários de 1930 ainda não tinham conquistado a Capital Federal. Começou então a caçada ao assassino.
 
Inicialmente em uma vila, um policial encontrou um revólver de grosso calibre do tipo “buldogue” e uma pistola modelo “Liberty”. Além de toda a roupa utilizada pelo pistoleiro na hora do crime. Logo os investigadores perceberam pelas pistas deixadas que um cúmplice estava dando apoio ao matador.
Fosse pela importância de João Suassuna, ou por eficiência (ou uma soma destes dois fatores), o certo é que ás onze e meia da noite do dia 9 de outubro, policiais da 2ª Delegacia Auxiliar capturaram o assassino.

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Este se chamava Miguel Alves de Souza e havia sido preso no grande sobrado que pertencia ao engenheiro Joaquim de Souza Leão, localizado na Rua São Clemente, 261, bairro de Botafogo, a poucos metros da tradicional Igreja e Colégio Santo Inácio. Assim foi preso Miguel Alves confessou o crime[12].

Este era paraibano de Alagoa Grande, tinha 30 anos, havia chegado ao Rio pelo vapor “Itapuy” no dia 18 de julho de 1929, trabalhava como tratador de cavalos de cavalos e depois se tornou empregado do engenheiro Joaquim de Souza Leão.
 
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Em uma entrevista concedida ao jornalista Ricardo Farias, publicada no caderno especial do jornal paraibano “A União”, edição de 12 de fevereiro de 2013, página 3, Ariano Suassuna comentou que o assassino de seu pai foi preso na casa do concunhado de João Pessoa[13].

Provavelmente os algozes de João Suassuna tinham a ideia que a polícia carioca jamais concluiria que na casa de gente tão graúda, como a Dr. Joaquim de Souza Leão, encontrariam um elemento que havia matado covardemente um homem pelas costas.
 
TRAMA ASSASSINA
 
No dia 10 de outubro, enquanto as autoridades “apertavam” Miguel para ele dar conta do assassinato, no Senado Federal, para onde seguiu o corpo de João Suassuna, ocorreram várias homenagens.

O ex-governador potiguar, então senador, José Augusto Bezerra de Medeiros, proferiu um interessante discurso sobre a vida do falecido político paraibano. Houve uma missa de corpo presente, várias autoridades estiveram no velório e foram colocadas muitas coroas de flores. João Suassuna foi enterrado no tumulo número 611, no cemitério São João Batista, em Botafogo. Mas nem sua mulher e nenhum de seus nove filhos estiveram presentes!

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Enquanto isso na delegacia, Miguel Alves de Souza confessou que recebeu o apoio de outro paraibano chamado Antônio Granjeiro. Este era carteiro dos Correios e Telégrafos no Rio, lhe forneceu as armas e apoiou na sua fuga. Granjeiro foi logo preso[14].
 
Os dois comparsas entregaram então Otcacílio de Lucena Montenegro, um funcionário do Tribunal de Contas, como a pessoa que procurou Granjeiro, lhe deu o dinheiro para a compra das armas do crime e a ordem para procurar alguém disposto a apertar o gatilho.
 
E quem era Octacílio de Lucena Montenegro?
 
Na mesma entrevista concedida ao jornalista Ricardo Farias, do jornal paraibano “A União”, em fevereiro de 2013, Ariano Suassuna comentou que foi Octacílio quem intermediou junto a Granjeiro o assassinato de seu pai e que Octacílio era sobrinho do então coronel do Exército Aristarco Pessoa, irmão de João Pessoa[15].
 
Demorou mais alguns dias para prenderem Octacílio, mas ele foi finalmente detido na Tijuca. Para dirimir dúvidas, o investigador Silvio Terra fez uma acareação na 2ª Delegacia Auxiliar entre Octacílio, Granjeiro e Miguel Alves e para o policial ficou patente a participação de Octacílio. Mas este negou peremptoriamente sua participação.
 
Para os policiais Antônio Granjeiro, homem pobre e com numerosa família (tinha onze filhos), era considerado “doentio e muito sugestionável” e as preleções de Octacílio, que entre outras coisas dizia
 
“-Será que não existe um paraibano que seja capaz de vingar a morte de João Pessoa?” surtiram efeito desejado. Granjeiro foi atrás de Miguel e o crime ocorreu.
 
Entre outras acusações Granjeiro foi apontado como o homem que seguiu João Suassuna, conheceu sua rotina, comprou as duas armas usadas no crime e chegou a enviá-las para um armeiro quando foram detectadas defeitos nelas. Foi ele quem adquiriu a munição e no dia 7 de outubro, dois dias antes do crime, foi com Miguel Alves praticar tiro ao alvo nas margens da hoje superpovoada lagoa Rodrigo de Freitas, próximo ao Jóquei Clube do Rio.

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Os três acusados, entre estes um carteiro e um tratador de animais, foram defendidos pelo ninguém menos que advogado Clóvis Dunshee de Abranches, considerado um dos maiores criminalistas do Brasil na época e famoso pelo rumoroso caso Sylvia Seraphin Thibau[16].
 
Mas nesta época nem foi tão necessário a participação de um jurista tão renomado para defender estes homens, pois logo os revolucionários chegaram ao Rio de Janeiro, depuseram o presidente e assumiram o poder. No vácuo institucional, em meio às alegrias da vitória, os três homens responsáveis pela morte de João Suassuna foram soltos[17].
 
EM BUSCA DE JUSTIÇA
 
Foi Rita Suassuna que não deixou a morte de seu marido cair no esquecimento.
Tempos depois ela enviou uma carta extremamente intensa e emocionada ao então Presidente Getúlio Vargas e este mandou reabrir o caso. Em pouco tempo a morte de João Suassuna voltou às páginas dos periódicos cariocas.

Antônio Granjeiro, esposa e filhos em 1933
Antônio Granjeiro, esposa e filhos em 1933

Foram decretadas as prisões de Antônio Granjeiro e Miguel Alves. O primeiro foi preso em casa, no Rio. O segundo foi capturado na Paraíba e recambiado de navio para a Capital Federal[18].
Já os autos do processo simplesmente haviam sumido. Para completar o quadro os jornais noticiaram que novos depoimentos alteraram a situação de Octacílio de Lucena Montenegro e ele sequer prestou mais algum depoimento[19].
 
O promotor Francisco Belizário Velloso Rabello se preparou para o julgamento acusando os réus de “assassinato premeditado e sem direito a defesa”. Apoiando a promotoria, a pedido de Rita Suassuna, estava o advogado e ex-senador paraibano José Gaudêncio[20].
 
Já o advogado Clóvis Dunshee de Abranches apresentou em favor dos réus a alegação que o crime por eles cometido “ocorreu em um período de intensa perturbação política devido à morte de João Pessoa” e isso gerou nos assassinos de João Suassuna “uma forte perturbação dos sentidos e da inteligência”[21].

O advogado Clovis Dunshee de Abranches
O advogado
Clóvis Dunshee de Abranches

Visando reforçar a defesa, o advogado Dunshee de Abranches conseguiu do “Centro Paraybano” no Rio de Janeiro, entidade de apoio aos paraibanos que viviam na Capital Federal, mas também servia de local de encontros políticos, uma carta em defesa dos réus. Produzida por Arthur Victor, presidente da instituição, a carta é uma longa peça acusatória contra João Suassuna, que mostra bem os processos da política radical daqueles tempos.
 
Entre outras coisas está descrito que Irineu José do Nascimento, padrasto de Miguel Alves, e um 1º sargento reformado da polícia paraibana, havia sido fuzilado “por ordem de João Suassuna”, deixando sua mãe e três irmãos no desamparo. Sua família foi obrigada a fugir para Pernambuco, onde sofreram “sérias perseguições” por parte de Estácio Coimbra, então governador daquele estado.

Já Antônio Granjeiro nasceu em 1888, chegou ao Rio em 1912, entrou nos Correios e Telégrafos e foi transferido para Diamantina (MG). Depois de retornar para o Rio começou a participar das atividades do “Centro Paraybano” e na época que iniciou os movimentos políticos contra o governo Washington Luís, o destemido Granjeiro era uma espécie de segurança e forte entusiasta pela causa liberal.

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A carta do presidente do “Centro Paraybano” menciona um episódio envolvendo Granjeiro, na época que o corpo de João Pessoa chegou para ser enterrado ao Rio de Janeiro. Quando da passagem do féretro por uma grande avenida, em meio à multidão, o carteiro gritou a pleno pulmões um “De joelhos!” e docilmente se ajoelhou diante do caixão do governador assassinado e seu gesto seguido por muitos presentes. Aparentemente isso o tornou uma figura de destaque do “Centro Paraybano”[22].
 
O julgamento começou ao meio dia de uma quarta feira, 18 de novembro de 1931, sob a presidência do juiz Nelson Hungria. O corpo de jurados era formado por sete homens e, apesar da atenção que aquele júri despertava entre os cariocas, tudo ocorreu de forma rápida e os dois réus foram absolvidos por 5 a 2 e a promotoria recorreu[23].
 
NOVO JULGAMENTO
 
Em 8 de janeiro de 1933 houve um novo julgamento, desta vez sendo presidido pelo juiz Antônio Eugênio Magarinos Torres, tendo como promotor Rufino de Loy e novamente a frente da defesa o competente Clóvis Dunshee de Abranches. Percebemos que, tal como o julgamento ocorrido em 1931, este segundo embate jurídico atraiu a atenção dos cariocas, sendo francamente noticiado na imprensa local.

O juiz Arthur Eugênio Magarinos Torres Filho. Nasceu em Campos (RJ) em 16 de janeiro de 1889 e faleceu em 8 de julho de 1960 - Fonte - http://autorescampistas.blogspot.com.br/
O juiz Arthur Eugênio Magarinos Torres Filho. Nasceu em Campos (RJ) em 16 de janeiro de 1889 e faleceu em 8 de julho de 1960

O promotor Rufino fez uma longa acusação. Já o advogado de defesa, com enorme desenvoltura, busca destruir todos os argumentos da promotoria. Mostrou com extrema eloquência a sofrida história de vida dos réus, apontando-os como “nordestinos pobres”. Trás para o tribunal o clima de revolta e instabilidade política de outubro de 1930, torna a ler a carta do “Centro Paraybano” e coloca os réus fora da classe dos “criminosos vulgares”. Cita vários juristas, psiquiatras e médicos para explicar como as emoções políticas tinha haver com o assassinato de João Suassuna. Ele relembrou a epopeia dos “18 do Forte”, fazendo uma relação deste caso para justificar o clima emocional dos réus diante da morte de João Pessoa[24].
 
Dunshee de Abranches fez até mesmo considerações para o crime de regicídio. Em determinada hora, como era praxe no tribunal no Rio, houve a parada para o “chá”[25].
Depois do retorno e finalização dos debates, os jurados se recolheram para decidir o futuro dos réus. Em 30 minutos trouxeram para o juiz Magarinos Torres o “Veredictum”, condenando Miguel Aves de Souza há seis anos e Antônio Granjeiro a quatro anos de detenção[26].

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O julgamento teve outros desdobramentos. A família Pessoa, através do filho de João Pessoa, o jornalista Epitácio Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, abriu fogo com suas baterias jurídicas, processando o promotor Rufino de Loy. Entre outras coisas consideradas um acinte pela família e ditas pelo promotor na tribuna, estava que os réus “eram conhecidos da família Pessoa”. Não sei o resultado deste processo.
 
A TROCA
 
Evidentemente que para Rita Suassuna o resultado do julgamento foi decepcionante, uma verdadeira lástima. Mas o pior foi a viúva de João Suassuna saber que Antônio Granjeiro passou pouco mais de um ano na cadeia e ainda conseguiu que os seus “serviços” pela causa liberal fossem “plenamente recompensados” com a sua liberdade. Mesmo condenado no tribunal, este verdadeiro “alpinista político”, que queria ascensão com o sangue alheio, foi reincorporado aos Correios e Telégrafos em junho de 1934 e voltou a sua primitiva função de carteiro no Rio de Janeiro.
 
Já o assassino Miguel Alves de Souza se perdeu no “oco do mundo”!
 
Na época a família Pessoa foi muito eficaz em criar em torno da morte de João Pessoa, toda uma condição de perpetuação da memória desta família na Paraíba. Começa que a atual denominação da capital paraibana é “João Pessoa”, fato único entre as capitais estaduais brasileiras. Depois basta fazer uma pequena pesquisa no Google e se percebe o alto número de ruas e logradouros com nomes e sobrenomes ligados a família do governador morto na Confeitaria Glória.

Foto provavelmente da década de 1960, onde mostr Rita Suassuna e seus filhos, da esquerda para direita, Ariano, Saulo, João, Lucas e Marcos
Foto provavelmente da década de 1960, onde mostra Rita Suassuna e seus filhos,
da esquerda para direita, Ariano, Saulo, João, Lucas e Marcos.
– Fonte – Foto via Dorgival Macedo Junior

Já Rita Suassuna, depois de várias mudanças e provações, levou seus filhos para a cidade de Taperoá, no sertão paraibano. Ali, em uma região onde isso era a praxe, lutou para que seus cinco filhos homens jamais partissem para vingar a morte do pai. Entretanto a família de João Suassuna sempre perpetuou a memória de João Suassuna e isso se incorporou no jovem Ariano, mesmo com tão pouca idade na ocasião da morte de seu pai.
 
Mesmo sem saber mensurar o quanto o peso da morte de João Suassuna contribuiu para moldar o Ariano Suassuna escritor, eu creio que de certa maneira ele realizou a sua “vingança” através dos seus escritos.
 
Se a família Pessoa buscou se perpetuar em nomes de ruas e logradouros na Paraíba, certamente Ariano se imortalizou na mente e nos corações de milhões de paraibanos, nordestinos e brasileiros com as suas obras. O autor deste trabalho acredita que por muitas décadas e séculos no futuro, o nome e as obras de Ariano Suassuna serão obrigatórias para o entendimento do Nordeste.

Contudo, eu tenho certeza que ele, Ariano Vilar Suassuna, trocaria tudo o que conseguiu com as letras para ter tido a oportunidade de ter visto seu pai conhecer seus filhos, ter acompanhado a sua vida e estar ao lado de João Suassuna no dia de sua morte. 

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NOTAS  
 
[1] Em 1945 o antigo IFOCS passou a se chamar Departamento Nacional de Obras Contras as Secas – DNOCS. A Fazenda Acauã é um importante patrimônio histórico rural paraibano. Com 300 anos de história, é a mais antiga fazenda de gado e algodão do Sertão da Paraíba. Está localizado a 409 quilômetros da capital, atualmente se localiza na zona rural da cidade de Aparecida. Ariano Suassuna morou no casarão, durante parte de sua infância, e se inspirou em Acauã para escrever suas obras. Ver http://sednemmendes.blogspot.com.br/2013/05/visitando-o-sitio-historico-da-fazenda.html
 
[2] Segundo material existente no site www.http//pb1.com.br , o vereador Fernando Milanez, sobrinho-neto de João Pessoa, afirmou que a versão de que o assassinato teria sido um crime passional é um “absurdo”, porque, segundo ele, João Pessoa nem conhecia João Duarte Dantas. Para a família de João Pessoa, o ex-presidente foi vítima de ambição e mentira, e a causa do assassinato teria sido política. Independente do motivo, João Dantas, junto ao seu cunhado, Augusto Caldas, que não havia participado do crime, foram presos na Casa de Detenção do Recife. Em 6 de outubro de 1930, nos primeiros dias da Revolução de 1930, os dois teriam sido assassinados. A versão oficial indicou suicídio. Ver – http://pb1.com.br/noticias_dentro.php?pt1=898
 
[3] No início de 1929 ainda estava em vigência a conhecida “política do café com leite”, em que políticos de Minas Gerais e de São Paulo se alternavam na presidência da república. O então Presidente Washington Luís, indicou o governador São Paulo, Júlio Prestes, como seu sucessor. Apenas três estados negaram o apoio a Prestes: Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba. Os três se uniram a políticos de oposição de diversos estados e formaram, em agosto de 1929, um grupo de oposição denominado Aliança Liberal. No dia 20 de setembro do mesmo ano foram anunciados os candidatos oposicionistas às eleições presidenciais. Getúlio Vargas seria candidato a Presidente do Brasil e João Pessoa seria o candidato a vice-presidente. Após perder as eleições, que foram realizadas em março de 1930, a Aliança Liberal alegou que a vitória de Prestes era decorrente de fraudes. Ver – http://pb1.com.br/noticias_dentro.php?pt1=898
 
[4] O empresário pernambucano Frederico João Lundgren (1879-1946) foi uma espécie de desbravador em seu tempo. Tratado como coronel, gerou 22 filhos, teve várias mulheres e se tornou uma espécie de lenda do comércio ao levar tecidos e outras mercadorias a dezenas de pequenas cidades do interior do país. Herdeiro de uma tecelagem, Lundgren teve, em 1908, a ideia de criar uma cadeia de varejo pela qual pudesse vender seus produtos. Era o começo das conhecidas Casas Pernambucanas. Ver – http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/0726/noticias/a-sobrevivente-m0053283 e http://tokdehistoria.com.br/2014/05/12/oxente-hitler-arquivos-e-documentos-mostram-que-os-nazistas-estiveram-na-paraiba/
 
[5] Ver jornal “O Paiz”, Rio de Janeiro, edição de 4 de outubro de 1930, página 4.
 
[6] Ver jornal “O Paiz”, Rio de Janeiro, edição de 5 de outubro de 1930, na 1ª página. Apesar do Palácio do Catete ser a antiga residência dos Presidentes da República, quando tomou posse Washington Luís decidiu residir no Palácio da Guanabara.
 
[7] Ver – http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_de_1930
 
[8] Este hotel não existe mais, entretanto a estrutura ainda existe, está conservada e o local ainda é utilizado como hotel. Trata-se do Hotel Monte Alegre e fica localizado na mesma Rua Riachuelo, esquina com a Rua Monte Alegre.
 
[9] Este local fica bem próximo a atual sede da renomada Editora Folha Dirigida.
 
[10] Os jornais listam que além de sua aliança, de 200 mil réis em dinheiro, um relógio e abotoaduras de ouro, João Suassuna levava a licença para portar sua arma e alguns papéis. Entre estes uma carta fechada para a esposa.
 
[11] Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro, edição de 9 de outubro de 1930, 1ª página e o jornal “O Paiz”, Rio de Janeiro, edição de 10 de outubro de 1930, página 2. Desde os primeiros momentos as investigações ficaram a cargo do investigador Silvio Terra, figura lendária da polícia investigativa carioca, cujo nome atualmente batiza a Academia de Polícia Civil do Rio de Janeiro.
 
[12] Joaquim Souza Leão era um puro exemplo de um membro oriundo da mais alta elite agrária açucareira pernambucana. Era sobrinho de desembargador, de senador do Império, do Visconde de Campo Alegre e filho de Antônio de Souza Leão, rico fazendeiro pernambucano da região de Moreno e que havia recebido do Imperador Pedro II o título de Barão de Morenos. Um de seus filhos foi embaixador. Ver – http://morenoengenho.blogspot.com.br/
 
[13] Ver – http://issuu.com/auniao/docs/caderno_especial_parte_1
 
[14] Ver o jornal “O Paiz”, Rio de Janeiro, edição de 11 de outubro de 1930, página 2 e o jornal “Diário carioca”, Rio de Janeiro, edição de 7 de janeiro de 1933, 1ª página.
 
[15] Segundo Ariano Suassuna, na década de 1950, quando ele entrou na Faculdade de Direito de Recife, conheceu o filho do Joaquim Pessoa Cavalcante de Albuquerque, irmão de João Pessoa, que isentou o pai da morte de João Suassuna. Mas não o tio Aristarco Pessoa e nem a participação de Octacílio de Lucena Montenegro no crime. Ver – http://issuu.com/auniao/docs/caderno_especial_parte_1
 
[16] Sylvia Seraphin Thibau era uma jornalista, escritora e poetisa, era casada com o médico João Thibau Júnior e mãe de dois filhos. Sylvia foi acusada pelo jornal carioca “A Crítica” de ter traído o marido, mantendo um caso com o também médico Manuel Dias de Abreu, mais tarde inventor da abreugrafia. Irritada, ela foi à redação do jornal armada, para matar o editor, Mario Rodrigues, no dia 26 de novembro de 1929. Como Mário não estava no jornal, Sylvia acabou atirando no filho dele, o também jornalista Roberto. No local, assistindo ao crime, estava o irmão da vítima, Nelson Rodrigues, então com 17 anos. O processo criminal foi acompanhado por uma feroz campanha promovida pelo jornal, que chamava a ré de “literata do Mangue” e “cadela das pernas felpudas”. Seu julgamento foi o primeiro no Brasil a ser transmitido ao vivo pelo rádio. O advogado Clovis Dunshee de Abranches alegou que Sylvia havia se descontrolado por ter sido caluniada e conseguiu a sua absolvição. Ela suicidou-se em 1936, depois de abandonada por um tenente-aviador por quem havia se apaixonado. Ver http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADlvia_Serafim_Thibau
 
[17] Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro, edição de 4 de novembro de 1930, página 9. Neste jornal temos uma longa declaração de Silvio Terra, se defendendo de acusações feitas por Octacílio de Lucena Montenegro através dos jornais. As acusações de Octávio apontam que este havia sido torturado pelos policiais para confessar sua participação na morte de Ariano Suassuna. Não encontrei a edição de jornal com a publicação de Octávio contra Silvio Terra. Mas encontrei a carta de defesa do investigador aos seus superiores e publicada nos jornais do Rio. Este investigador é muito claro, direto e contundente em suas afirmativas, além de negar veementemente o uso de tortura contra os detidos. O então coronel Bertoldo Klinger, líder revolucionário, elogiou o posicionamento do policial. Ver também “A Noite”, Rio de Janeiro, edição de 11 de julho de 1931, página 3.
 
[18] Miguel Alves estava incluso no crime previsto no Artigo 294, parágrafo 1º, com agravantes do Artigo 39, parágrafos 2º, 7º, 8º e 13º. Já Granjeiro era acusado nos mesmos artigos, acrescentando o artigo 18, parágrafo 3º. Lembrar que estas acusações faziam parte Código Penal anterior ao que atualmente está em vigência. Ver jornal “Diário de Notícias”, Rio de Janeiro, edição de 7 de janeiro de 1933, 1ª página.
 
[19] Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro, edição de 11 de julho de 1931, página 3. Os jornais da época não informam quem, quando e onde ocorreram estes depoimentos que livraram Octacílio de Lucena Montenegro deste processo. Nem comentam nada mais sobre o sumiço dos autos e sequer é mais comentado por qualquer razão o nome do Joaquim de Souza Leão como presumidamente envolvido no crime. Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro, edição de 11 de julho de 1931, página 3.
 
[20] Ver jornal “A Esquerda”, Rio de Janeiro, edição de 21 de setembro de 1931, página 4.
 
[21] Ver jornal “Diário de Notícias”, Rio de Janeiro, edição de 19 de agosto de 1931, página 2.
 
[22] Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro, edição de 11 de setembro de 1931, página 3. Por mais estranha que esta história de ficar de joelhos diante do caixão de João Pessoa possa parecer, naquela época, naquelas circunstâncias, isso aconteceu de verdade. Na capital paraibana o nível de fanatismo em 1930 era tal, que se alguém tocasse em um local público uma certa música criada para homenagear o morto ilustre, e alguém gritasse um sonoro “De joelhos!”, aí de quem não cumprisse a ordem. Ou era surrado, ou preso! Em outros estados também ocorreram muitas manifestações radicais. No Rio Grande do Norte, como consequência direta das mudanças da mudanças políticas da Revolução de 1930, a campanha estadual de 1934 foi uma das mais violentas da história política potiguar, com vários mortos em meio a inúmeras arbitrariedades.
 
[23] Ver jornal “Diário Carioca”, Rio de Janeiro, edição de 19 de novembro de 1931, página 3. É interessante comentar sobre o juiz Nelson Hungria Hoffbauer. Este nasceu em Além Paraíba, Minas Gerais, em 1891, iniciou sua vida pública como promotor de Rio Pomba, em seu estado natal. Nomeado juiz em 1924, foi magistrado por 46 anos, tendo sido nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal em 1951, do qual chegou à presidência e se aposentou em 1961. Hungria é tido como um dos luminares de nossa cultura jurídico-penal, onde deixou escrito 17 obras e 150 monografias. Foi considerado o líder intelectual da redação do Código Penal de 1940, além de ter participado da elaboração do Código de Processo Penal, da Lei de Contravenções Penais e ainda da Lei de Economia Popular. Seus Comentários ao Código Penal (8 volumes) influenciaram gerações de juristas brasileiros e constituíram referência obrigatória para a compreensão de nosso sistema jurídico penal. Ver –  http://www.memorial.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=114
 
[24] A Revolta dos 18 do Forte de Copacabana foi uma revolta tenentista ocorrida na cidade do Rio de Janeiro em 5 de julho de 1922. Foi a primeira revolta tenentista da República Velha. Teve a participação de 17 militares e um civil. Suas causas principais estão no descontentamento dos tenentes com o monopólio político do poder no Brasil por parte das oligarquias (principalmente ricos fazendeiros) de Minas Gerais e São Paulo. Embora o movimento tivesse sido planejado em várias unidades militares, somente o Forte de Copacabana e a Escola Militar se levantaram no dia 5 de julho de 1922. O forte foi bombardeado e a rendição dos rebeldes foi exigida.  O tenente Siqueira Campos e um grupo de militares rebeldes pegaram armas e marcharam pelas ruas em direção ao Palácio do Catete (sede do governo federal na época). Durante a marcha alguns militares desistiram, ficando apenas 17 que receberam o apoio na rua de um civil, totalizando 18. Os rebeldes foram cercados pela tropa do Governo Federal. Após forte tiroteio em frente ao posto 3 da praia de Copacabana, somente Siqueira Campos e Eduardo Gomes sobreviveram e foram presos. Os outros dezesseis integrantes do movimento foram mortos no combate.
 
[25] Regicídio é o assassinato de um rei, seu consorte, de um príncipe herdeiro ou de outras formas de regentes, como presidentes e primeiro ministros. Ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Regic%C3%ADdio
 
[26] Ver o periódico “Diário de Notícias”, Rio de Janeiro, nas edições de 7 e 8 de janeiro de 1933, sempre nas 1ª páginas. Igualmente ver o jornal “Diário Carioca”, Rio de Janeiro, edição de 7 de janeiro de 1933, 1ª e 5º páginas.

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