sexta-feira, 29 de maio de 2009

O espetáculo do Cangaço

 Pré-estreia do Chuva de Bala acontece em 10 de junho

O ensaio geral e pré-estreia do Chuva de Bala no País de Mossoró, RN já tem data definida: 10 de junho, às 21h, no adro da Capela de São Vicente.

A peça será encenada neste local durante a programação do Mossoró Cidade Junina, São João realizado pela Prefeitura Municipal e promovido pela A-Sim Assessoria. A montagem do Chuva de Bala está praticamente concluída.

No momento, o diretor João Marcelino monta a última cena do espetáculo, a batalha entre o bando de Lampião e os resistentes. Os ensaios estão acontecendo no ginásio de esportes do Clube Nassau, com um elenco de 110 pessoas, sendo 70 atores da cidade, 20 atiradores do Tiro de Guerra 07-010 e 20 crianças do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PET), unidade do bairro Alto de São Manoel. O Chuva de Bala será encenado em três finais de semana de junho: 11 a 14; 18 a 21; e 25 a 28, sempre às 21h.

O espetáculo

O Chuva de Bala, em sua oitava edição, é construído a partir do texto escrito pelo poeta e dramaturgo mossoroense Tarcísio Gurgel, tendo como diretor João Marcelino, que já dirigiu o espetáculo outras cinco vezes, e como músico Danilo Guanais. O espetáculo tem como foco principal a história do povo mossoroense, os heróis da resistência, os costumes, a cultura e a arte dos herdeiros dos Monxorós! O Chuva de Bala exaltará a grande epopeia sertaneja ocorrida em 1927.

De um lado o poder constituído representado pelo prefeito Rodolfo Fernandes, pelo Padre Mota e pelo Tenente Laurentino, do outro as Atividades Cangaceiras capitaneada por Virgulino Ferreira da Silva, Lampião. À ponte desses dois núcleos encontra-se o Cel. Antonio Gurgel, representando a Propriedade Privada.

O desejo do Capitão Lampião é frustrado, perdendo Colchete em batalha e Jararaca, depois de preso e exposto publicamente. Jararaca transforma-se em Santo, sendo hoje o seu túmulo o mais visitado em Mossoró, que ganhou fama por ser a única cidade a expulsar o temível Cangaceiro. Dionízio do Apodí representará o Rei do Cangaço e Marcos Leonardo o grande herói, Prefeito Rodolfo Fernandes. Tony Silva, Luciana Duarte e Lígia Kiss, encarnarão as hilárias contadoras de história: Tonha, Totonha e Toinha, respectivamente.A encenação conta essa história num estilo de Teatro Musical Épico Campal.

Os figurinos de época são criados pelo premiado figurinista Marcos Leonardo, com preparação de atores pela atriz Tony Silva e coreografando pela primeira vez, a dupla Roberta Shumara e Adriana Castro.

O palco com trinta e cinco metros de largura e com painéis de malhas transparentes, criados por João Marcelino, irá compor o espaço cenográfico que será iluminado pelo desenhista de luz Thiago Fernandes, pelas projeções de imagens computadorizadas produzidos pelo designer Wilberto Amaral e pelo filme “Memória de Gatinho” dirigido por Marcelino. O engenheiro de som, Eduardo Pinheiro, presenteará a platéia com sofisticados efeitos sonoros num sistema Surround 5.1 (o primeiro espetáculo a utilizar tal sistema).

Mixmidia Assessoria de Imprensa

Foto: Alex Régis
Fonte: Tribuna do Norte

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Lampião ainda é vivo...

...no coração do nordeste

Poesia de Rosa Ramos Regis da Silva, Natal, RN
1ª Colocada no XIV FESERP em Janeiro deste ano.

Sendo filho de José e Maria,
qual Jesus, Uma diferente cruz,
Que não era a cruz da fé,
Leva o menino, que é
Fruto do nosso Nordeste.

E, assim sendo, de "peste"
Por muitos foi nomeado,
Sendo, portanto, odiado
E tido por cafajeste.

As brincadeiras da infância
Tinham a ver com o que via.
E à medida que crescia
Uma ou outra circunstância
Dentre muitas, traz a ânsia
De lutar com veemência
Por sua sobrevivência.

Assim, talvez revoltado,
Tenha, então, se transformado
Em um ser de violência.
Injustamente tratado
Pelos donos do poder,
Virgulino vê crescer,
Em si, raiva.
E, revoltado,
Deixa o trabalho de lado.


E surge, então, no Sertão
O famoso Lampião
Mui respeitado e temido!
odiado, mas querido
Por combater a opressão.

Mesmo não tendo a intenção,
Lampião subverteu
A ordem imposta.
E se deu
Que quase todo o Sertão
Nordestino o "Capitão do Cangaço"
dominou.


E novas vias traçou,
Movido pela descrença,
Com a sua forte presença
Por onde o mesmo passou.

E os caminhos traçados
Em busca da igualdade,
pagando o mal com maldade,
Vez por outra eram cruzados
Por soldados que, pecados,
Tanto quanto os cangaceiros,
Tinham em seus bagageiros.

E quando havia confronto,
Era lutar sem desconto,
Nas serras, nos tabuleiros.
Condenou-se Lampião
Mas, hoje, após tantos anos,
Continuam os desenganos
Que faziam o coração
Do cangaceiro de então
Pulsar forte e loucamente.


E o nordestino sente
que quase nada mudou.
O cangaço, sim, passou,
Mas o descaso é presente.

Se quase nada mudou,
Chegamos à conclusão
Que a terra que a Lampião,
Um certo dia, gerou,
Está lá, continuou,
No Sertão ou no Agreste,
Trajando a mesma veste
De torrão bravo e ativo.
Lampião ainda é vivo no coração do nordeste

De repente outro DVD

A trilha do Cangaço "2



Lançado no mês passado pela Pajeú Produções com os Repentistas Valdir Teles e Sebastião da Silva.

Os dois Artistas da Cultura Popular, mostram no DVD um pouco da história do Rei do Cangaço. Lampião. O DVD vem recheado de Poesias cantadas, Declamações e um pouco da história de Lampião, mostrando a casa onde nasceu (hoje Museu Lampião), indo até a Grota de Angicos, onde foi assassinado juntamente com Maria Bonita e mais nove cangaceiros que faziam parte do seu bando. Mostra também a Cova de Jararaca, um dos cangaceiros de Lampião que fica na cidade de Mossoró-RN, além de algumas curiosidades contadas pelo guia na trajetória da Trilha do Cangaço que está localizada na cidade de Poço Redondo-SE.

Não podemos esquecer as participações dos Poetas Antonio Andrade (Um dos maiores responsáveis) na realização desse trabalho; a Declamação magistral de Mariana Teles e a Poesia declamada na voz do "Crânio" de Mossoró, o Poeta Antonio Francisco, que conta em Verso como aconteceu o combate dos mossoroenses à Lampião não o deixando que invadisse a cidade.

Adquira com Valdir Teles no tel: (87) 9938 - 1144
ou com Sebastião da Silva (84) 9408 - 1967.

Cangaço...

...É prosa, é Poesia! 

"O Cangaço na poesia brasileira", é o mais novo trabalho do escritor e poeta Carlos Newton Júnior.

Além da seleção, escreveu um estudo sobre o tema que sai como prefácio. O trabalho foi publicado pela editora Escrituras, de São Paulo, As pesquisas de Carlos Newton foram bater na obra de 35 poetas, entre eles quatro norte-riograndenses: Dorian Gay Caldas, Homero Homem, Márcio de Lima Dantas e Newton Navarro.

Poderíamos incluir um quinto, pois o próprio selecionador e antologista, pernambucano de nascimento, mas radicado em Natal há muitos anos, comparece com um poema seu, "Os cangaceiros".

Capa
O time de poetas selecionados por Carlos Newton Júnior constitui um verdadeiro escrete da poesia brasileira.

Nomes como João Cabral de Melo Neto, Murilo Mendes, Jorge Lima, Ariano Suassuna, Alexei Bueno, Marcus Acci oly, Carlos Pena Filho, Francisco Carvalho, César Leal, Ascenso Ferreira, Janice Japiassu, Sérgio de Castro Pinto, Virgílio Maia, Audálio Alves, José Nêumanne Pinto, Bráulio Tavares, Walmir Ayala.


Dos quatro poetas do Rio Grande do Norte, a antologia traz dois poemas de Dorian Gray Caldas, "Cabeleira" e "O ataque de Lampião a Mossoró"; um de Homero Homem, "Conversa de cangaceiros a cavalo no dia em que atacaram Mossoró" dois de Márcio Lima Dantas, "Peleja interior de Virgulino Ferreira" e "O brilhante Jesuíno".

De Newton Navarro, foi separado "O ABC do Cantador Clarimundo", segundo livro publicado pelo poeta, edição de 1953, e que tem prefácio de Luís da Câmara Cascudo.


FONTE: Jornal Tribuna do Norte - Woden Madruga

Volta Seca

Um Cangaceiro (sergipano) de Lampeão 

Por: Luis Antônio Barreto

São desencontradas as informações sobre Volta Seca, cangaceiro sergipano e um dos mais conhecidos e destacados cabras do bando de Lampeão. Em 29 de abril de 1929, quando assistiu missa em Poço Redondo, com seus “rapazes,” o próprio Virgulino Ferreira da Silva entrega ao padre Artur Passos, então vigário de Porto da Folha, uma folha de papel pautado, escrita a lápis, com os nomes, os apelidos e as idades dos integrantes do seu grupo de dez cangaceiros.

No precioso papel, que é documento daquela que pode ser considerada a primeira entrada de Lampeão em Sergipe, o último a ser citado, com o nome de Antonio Alves de Souza, e a idade de 18 anos, com a observação “menino,”, e tem o apelido de Volta Seca.

Preso no início de 1932 e levado para a Casa de Detenção da Bahia, Volta Seca foi procurado por alguns sergipanos interessados em recolher informações sobre o cangaço no Nordeste e sua presença em Sergipe.

Joel Macieira Aguiar, representando o Jornal de Notícias, acompanhado de Hernani Prata e de João Prado, estudantes de Direito na Bahia, encontrou Volta Seca tocando realejo, entrevistando-o, em começo de abril de 1932, fixando estes dados pessoais: sergipano, nascido no Saco Torto, povoado de Itabaiana, filho de Manoel Santos, que trabalhou no Engenho Contadouro, de propriedade de Antonio Franco, frequentou o Engenho Central, onde trabalhava Antonio de Engraçia, conheceu Aracaju, e conheceu bem sua terra, Itabaiana, e Malhador. Volta Seca declarou, ainda, que entrou para o cangaço com 12 anos, a convite do próprio Lampeão, em Gisolo, no sertão da Bahia.

12 anos depois, em março de 1944, Joel Silveira, já um jornalista importante no Rio de Janeiro, viaja a Salvador, e na Penitenciária da Bahia entrevista Volta Seca e outros cangaceiros presos, como Ângelo Roque, Deus Te Guie, Caracol, Saracura, Cacheado. Joel Silveira anota o nascimento de Volta Seca em Itabaiana e diz que ele entrou no cangaço com 14 anos. Um documentário sonoro, feito na década de 1950, gravado em 1957, narrado por Paulo Roberto, locutor da Rádio Nacional, afirma que Volta Seca tinha o nome de batismo de Antonio dos Santos, e que entrara para o cangaço com apenas 11 anos.

A Todamérica grava o documentário comercialmente, apresentando Volta Seca como compositor e intérprete de diversas músicas que estão ligadas ao ciclo dos cangaceiros, como: Se eu soubesse; Sabino e Lampeão; Mulher Rendeira; Acorda Maria Bonita e outras.

Há, portanto, divergência de nome, idade e data de entrada de Volta Seca no grupo de Lampeão.

Considerado valente, tendo brigado com o próprio chefe, Volta Seca não mereceu elogios do padre Artur Passos, no encontro de Poço Redondo em 1929. O padre, que demonstrou simpatia com Moderno (Virgínio Fortunato, cunhado de Lampeão) e com o próprio Virgulino, não gostou de Volta Seca, e sobre eles diz: “Não têm, inclusive Lampeão, cara repelente, como imaginamos nos bandidos em geral, devendo frisar, porém, o olhar especial de um deles, o fedelho de 16 a 18 anos, que os acompanha.”

Padre Arthur Passos


No contato com Joel Silveira, Volta Seca, sob o testemunho de antigos companheiros, reafirmou sua coragem, disposição, e narrou episódio de uma briga com o chefe, em 1931, por causa de um socorro dado a Bananeira, ferido em combate. Lampeão achava que o atraso poderia ocasionar problemas sérios, de confrontos com a polícia, enquanto Volta Seca agia solidariamente, sem querer deixar para trás o companheiro atingido por tiros. O ambiente ficou tenso, e por pouco os dois cangaceiros não se enfrentaram.

A fama de valentia, contudo, ampliou-se dentro e fora do grupo, apesar de Volta Seca ganhar, também, uma imagem lúdica, de compositor e de cantor, responsável por salvar parte do repertório dos grupos de cangaceiros. O disco da Todamérica é um bom exemplo, e foi reproduzido, em parte, décadas depois, por um álbum, long-play, dos Estúdios Eldorado, de São Paulo, com o título de A Música do Cangaço. Nele, além das canções atribuídas e cantadas por Volta Seca, já citadas, figuram artistas como Luiz Gonzaga, Sérgio Ricardo, Teca Calasans e Antonio Carlos Nóbrega.

Além de tocar realejo, compor e cantar, Volta Seca foi submetido, na prisão, ao trabalho forçado de fazer flores e outras artesanais, predominantemente feitas por mulheres. Ele não se abateu, casado, pai de um filho, ele esperava cumprir sua pena de 20 anos, para deixar a prisão e recomeçar a vida. E o fez pela música, ainda hoje uma referência, tomada por empréstimo por Luiz Gonzaga e por outros artistas nordestinos, que concorreram para fixar uma estética do cangaço, da qual Frederico Pernambucano de Mello é especialista.

Publicado no Portal Infonet em 27/02/2009. 

*Adendo Lampião Aceso: O povoado Saco do Torto hoje é situado no município de Malhador, após a emancipação deste. 

Morte do tenente Geminiano

Emboscada Perfeita

Estava aquartelada em Tucano força comandada pelos tenentes Abadias de Andrade e Geminiano José dos Santos (Foto abaixo).

Abadias conhecedor da zona, se ofereceu para partir em perseguição aos cangaceiros quando tomou conhecimento da ameaça à estância hidromineral de Cipó. Notando, todavia, que seu colega Geminiano mostrara interesse em sair no encalço dos bandidos. Abadias permaneceu na base para dar instrução a um grupo de contratados recém-ingressados nas forças.

Geminiano parte acompanhado pelo sargento José de Miranda Mattos à frente de 15 soldados. Ia travar sua última batalha. Em sítio denominado Brejo do Iracupá, a 18 km de tucano, recebeu informação de que o bando estava a poucos minutos de viagem. De Iracupá os soldados seguem para Poço Redondo, onde chegaram as 7 da noite. Aqui recebem informações de que os bandoleiros haviam tomado outro caminho. A polícia perde o rastro. Por volta das 2 da madrugada a força chega a localidade por nome Mosquito. Ao amanhecer ficaram os milicianos sabendo que os bandidos se achava na retaguarda. Na fazenda Mandacaru um vaqueiro (coiteiro) informa a Geminiano que Lampião não havia passado por ali.Mentia.

Geminiano não percebe e cai numa esparrela fatal.Felipe de Castro, ao contrário, diz que Lampião foi quem mandou o vaqueiro avisar a Geminiano de sua passagem pela fazenda Mandacaru. Sem desconfiar das informações fornecidas pelo guia, a volante cai numa cilada.

A força avança. Chega às 7 horas da manhã na Lagoa dos Negros.Lampião seguira montado cerca de 2 km (deixando propositalmente bem visíveis rastros de animais). Apeia de certa altura com um terço dos bandidos se entrincheira na borda do mato. Determina ao restante dos cabras que siga cerca de 500 metros e aguarde o resultado do fogo que fariam pela retaguarda.Ouvi-se um tiro. O bandido chamava atenção do comandante do troço de soldados. Em seguida afastando-se da estrada, o bando dividiu-se em duas alas, flanqueando a força. Esta, pegada de surpresa, mal teve tempo de manejar as armas para a luta.Lampião e seus sequazes, escondidos entre mandacarus, xique-xiques e macambiras, de cócoras, faziam fogo cerrado.Geminiano de corpo aberto em pé, atirava, seguido pelo sargento e pelos soldados.

Os primeiros a tombar são os soldados Manoel Araújo e Manoel Fernandes.Os bandidos levam vantagem desde o primeiro disparo, atiravam de todos os lados, pulando, rolando no chão, soltando urros, deixando escapar obscenidades, dando vivas ao padre Cícero e cantando Mulher Rendeira, com inacreditável destreza, como contou mais tarde na capital os que conseguiram escapar.Atingido por uma bala, tomba morto o tenente Geminiano. Outra bala fulmina o sargento substituto do oficial comandante, Miranda Mattos.

Morre também no combate: André A. Souza, Manoel Aragão, Argemiro F. dos Reis e Arnaldo Cláudio de Souza, entre outros. Os sobreviventes não mais que 5 praças, desarvorados, fogem.Na observação estudiosa do cangaço, a fuzilaria que envolveu a força foi a mais perfeita emboscada de que se teve notícia.Voltam pouco depois ao cenário onde se travou a batalha e defrontam como o espetáculo inacreditavelmente macabro: a cabeça do tenente, retirada do corpo não foi encontrada também nenhuma parte do corpo escapou de ser esfaqueada..

O sargento Miranda Mattos teve seus olhos arrancados a ponta de punhal, enquanto a gordura do ventre do oficial abatido, assim como as vísceras, serviam para engraxar o armamento dos cangaceiros.Não se pode imaginar ato mais brutal por parte de criatura humana!É de se crer que tais atrocidades - o esquartejamento dos corpos do tenente, soldados e sargento, deixando vísceras e membros espalhados nas caatingas - tenham sido represália à profanação do corpo do bandido Gavião, cuja cabeça fora decapitada há alguns meses passados daquele encontro.


Fonte: "Lampião na Bahia", Oleone Coelho Fontes.
Transcrição: Júlio César.

Fotos: "Lampião e as Cabeças Cortadas"
Antonio Amaury C. de Araújo e Luiz Ruben F. de A. Bonfim pág 87 e 88.

Alagadiço - Frei Paulo - Sergipe

Um povoado rico de histórias, mas esquecido 

Por: Vivianne Paixão
Quem pega a rodovia 235, com destino ao município de Frei Paulo, a 71 quilômetros da capital, corre grande risco de passar despercebido por uma minúscula placa: “Alagadiço a 8 Km”. Uma identificação tímida, que contrasta com a grandiosidade da riqueza histórica e cultural do povoado. Foi lá que Virgulino Ferreira, o Lampião, esteve por quatro vezes e deixou naquelas bandas o seu capanga Zé Baiano, também conhecido como “Pantera Negra dos Sertões” e considerado um monstro impiedoso.


Toda essa saga está retratada no livro “Lampião e Zé Baiano no povoado Alagadiço”, do pesquisador Antônio Porfírio de Matos Neto, natural da região. Registro de um patrimônio sergipano “poupado” do seu devido valor pelo Estado, que poderia muito bem transformar Alagadiço em mais um destino turístico (e, por que não dizer, gerador de emprego e renda) da rota do cangaço.

 
"O povo daqui é carente demais e a única maneira que acho que iria ajudar a melhorar a vida dele seria através do turismo.  A rota do cangaço de Xingó deveria existir aqui também. Temos uma narrativa incrível em que seis conterrâneos conseguiram acabar com um dos bandos de Lampião e eu estou buscando de todas as maneiras possíveis trazer essa rota para a nossa comunidade, que está disposta a contar e recontar toda a sua história”, avisa Porfírio. (Foto)


A derrocada de Lampião começou por volta de 1930 neste pequeno povoado de Frei Paulo, hoje com cerca de três mil habitantes. Conta a história que o Rei do Cangaço entrou pela primeira vez acompanhado de dez cangaceiros, fazendo a maior arruaça, derrubando portas, roubando jóias e alguns pertences dos moradores. “Ele chegou na minha casa eu era criança. Perguntou se meu pai estava, me assustei e perguntei a ele se meu pai o conhecia. Ele logo me deu um grito mandando eu chamá-lo. Depois ele ainda mandou que eu lavasse as ‘percatas’ (sandálias) do bando e que eu tirasse leite da vaca, coisa que eu nem sabia como fazia”, rememora a dona de casa Ivete Matos, 81 anos.

Alagadiço tinha uma posição privilegiada e, por não possuir destacamento reforçado da polícia, favorecia o trânsito dos bandidos de um lado a outro do Estado. Assim, Lampião andava tranquilamente pela redondeza. Em 1932, ele retornou ao povoado. Desta vez não molestou ninguém, apenas levou algumas coisas dos moradores. Um ano depois, Virgulino entrou de novo em Alagadiço e foi diretamente à casa de Antônio de Chiquinho querendo obter informações sobre a volante que pretendia acabar com o seu bando.

Zé Baiano

No ano de 1934, Lampião apareceu em Alagadiço pela última vez, deixando essa região sob o comando do grupo de Zé Baiano. Filho natural de Chorrochó, ele passou a aterrorizar os moradores daquele local. Coube a esse destemido cangaceiro a posse das terras compreendidas entre os municípios de Frei Paulo, Ribeirópolis, Pinhão e Carira, em Sergipe, e ainda Paripiranga, na Bahia.

O “Pantera Negra dos Sertões” era um negro, alto, forte, nariz achatado, queixo comprido, cabelos ruins e maltratados, que usava óculos e tinha uma voz grossa. Após ter ficado sabendo da traição amorosa da sua companheira, a qual ele assassinou a pauladas, passou a marcar mulheres indefesas com um ferrão de iniciais “J.B.”, como se fossem gados. Requinte de perversidade.

Com fama de impiedoso, o famigerado “ferrador de mulheres” era tido como um dos mais ricos do bando – formado por Demudado, Chico Peste e Acelino. Durante anos cometeu atrocidades, saqueou e impôs a sua própria lei em Frei Paulo e municípios vizinhos. A polícia não descansava procurando os temíveis bandidos que se escondiam em casas de fazendeiros. Estes, se não contassem à polícia, eram chamados de coiteiros, e se falassem eram apelidados de dedo duro na boca do cangaceiro.

A mata era o maior refúgio desses facínoras. No corpo de uma árvore – viva até hoje – eles silenciavam suas armas e na chamada “Toca da Onça”, na Fazenda Caipora, evitavam o ataque de inimigos com troca de tiros, já que de lá de cima tinham uma visão panorâmica e privilegiada de toda a região.
Certa vez, o inesperado para Zé Baiano aconteceu. Por ser coiteiro do seu bando, o comerciante Antônio de

Chiquinho, cansado das perseguições da polícia – chegou até a ser preso – e da desconfiança dos cangaceiros, tramou um plano para eliminar o grupo do impiedoso “ferrador”. E foi numa entrega de alimentos, solicitada pelo Baiano, que o comerciante convidou os conterrâneos Pedro Sebastião de Oliveira (Pedro Guedes), Pedro Francisco (Pedro de Nica), Antônio de Souza Passos (Toinho), José Francisco Pereira (Dedé) e José Francisco de Souza (Biridin) para, juntos, darem fim ao bando. No dia 7 de julho de 1936, os seis amigos conseguiram dar cabo aos quatro temíveis bandoleiros na Lagoa Nova (localidade de Alagadiço). Os conterrâneos mantiveram o feito em sigilo durante cerca de 15 dias, temendo a represália de Lampião contra o povoado.

Antônio de Chiquinho, certo de que Lampião voltaria a Alagadiço para se vingar da morte do seu amigo, preveniu-se do embate e perfurou as paredes da sua casa – hoje uma creche comunitária –, tendo assim melhor visão da rua para atirar quando ele aparecesse. Porém, para a sua sorte, Virgulino Ferreira resolveu deixar pra lá o acerto de contas graças a Maria Bonita, que o alertou sobre a presença de um canhão no povoado, onde cabia um menino dentro acocorado – um minicanhão que, inclusive, está guardado no acervo do historiador Antônio Porfírio.


Ações de Porfírio

O autor do livro “Lampião e Zé Baiano no povoado Alagadiço” cresceu ouvindo as histórias que eram contadas pelos mais velhos e, muito curioso, mergulhou fundo em cada narração. Diante de tanta riqueza cultural, resolveu organizar todas as informações em um livro. “Eu não podia deixar morrer a nossa cultura. Foram seis civis filhos de Alagadiço que conseguiram acabar com quatro bandidos de Lampião, e isso é que é importante destacar”, comenta Porfírio.

A produção independente de “Lampião e Zé Baiano no povoado Alagadiço” foi vendida por completo. “Para minha surpresa o meu livro esgotou as vendas. Foram mais de dois mil exemplares”, relata o pesquisador que, além da publicação, construiu um museu dentro do seu próprio sítio. “Essa também foi outra grande surpresa, porque eu não esperava que viesse tanta gente visitar. Vêm pessoas de outros estados, curiosas para saber da história. Isso é gratificante”, diz Porfírio.

O escritor adquiriu os materiais do museu dentro do próprio povoado, dos lugares onde os cangaceiros se escondiam ou dos próprios moradores. Algumas peças foram compradas fora de Sergipe. “Muitos punhais, armas e indumentárias dos cangaceiros eu encontrei aqui, dentro do tronco de uma árvore e na Lagoa Nova. Também tenho no acervo o minicanhão que salvou Alagadiço de ser exterminado por Lampião, e três cartas escritas por Dadá, mulher de Corisco, ao compadre Joãozinho de Donana, que criou a filha deles por dois anos na cidade de Pinhão”, relata.

Na Lagoa Nova, onde Zé Baiano e os seus capangas tombaram, Porfírio construiu o "Memorial do Cangaço de Alagadiço", também com recursos próprios. “O dono da fazenda me cedeu o espaço e eu contratei os pedreiros para construir. É uma construção bem simples. Na verdade o que deveria ser construído mesmo era um grande e bonito mausoléu”, lamenta o historiador.

Porfírio também construiu no seu sítio uma biblioteca. “Um lugar onde o povo daqui, principalmente os adolescentes, possa ler mais sobre a história do seu povoado. Ainda não estou com o acervo completo, tenho apenas dois mil livros, sendo a maioria especializada em literatura sergipana. Se engana quem acha que a comunidade pobre não gosta de coisa boa. A minha biblioteca, graças a Deus, é muito freqüentada pelos moradores”, garante.
Segundo o pesquisador, todas essas suas iniciativas foram pautadas com o intuito de resgatar a cultura e a cidadania dos seus conterrâneos. “O povoado aqui não tem atrativo nenhum e essas coisas servem como divertimento para eles. Uma história bonita como essa de Alagadiço tem que ser trabalhada”, diz Porfírio, que pretende, em breve, colocar um circo também dentro do seu sítio. “É para eles terem oficina de teatro. Vou aplicar o método Paulo Freire, com a pedagogia do oprimido”, explica.


Memória

Ante a alta relevância dos fatos ocorridos em Alagadiço, o cineasta de Fortaleza, Wolney Oliveira, não perdeu a oportunidade e gravou um longa-metragem na localidade, que irá às telas do cinema no próximo ano, quando a morte de Lampião completa 70 anos. Ao que tudo indica, as pessoas de outros estados vão conhecer Alagadiço antes mesmo que os próprios sergipanos.

Enquanto isso, toda a riqueza cultural do povoado de Frei Paulo permanece guardada nas lembranças dos seus moradores mais antigos e no livro de Antônio Porfírio. “Eles eram rapazes pacíficos, apenas entraram na luta porque um amigo deles botou, mas eles não faziam mal a ninguém, eram meninos direitos e não eram de briga. Tive nove irmãos e só esses dois morreram devido a luta. Foi logo depois da morte de Zé Baiano que deu uma febre forte em um, e no outro deu uma doença braba, e disso eles morreram”, recorda Uília de Almeida, 103 anos, com relação aos seus irmãos Toinho e Dedé, cangaceiros do bando de Zé Baiano.
Lembranças que muitas vezes assustam até mesmo quem nunca viu Zé Baiano, muito menos Lampião.  
“Eu escuto direto uma zoada como se estivessem andando nas ruas, fazendo a maior bagunça. Ouço eles andando de carro de boi e também um monte de gados e cavalos correndo e acabando com tudo. Mas só escuto, não vejo nada. Só fiquei assustado uma vez quando vi um vulto passando, aí eu cacei a cabeça e não achei”. Conta o roceiro José Gilson de Oliveira, 57 anos, dono da fazenda na Lagoa Nova, onde Zé Baiano foi morto e teve sua cabeça decepada.

Guerra de Canudos

Considerado hoje um dos principais povoados do município de Frei Paulo, Alagadiço teve sua origem por volta do século XIX, pelo senhor João Pereira da Conceição, que organizou uma praça e denominou o local, por ser uma área bastante alagada, principalmente no período chuvoso.

Um fato interessante da história do povoado foi o ocorrido com um dos seus primeiros moradores, o senhor João Sabino dos Santos, que, após desertar da batalha de Canudos, foi ali residir, em 1896. O governo da Bahia o procurava para cumprir prisão, como fez com todos os desertores. Foi quando, no final da batalha, localizaram-no desfrutando da paz e aconchego ao lado de sua mulher, Angélica dos Santos, grande devota de Nossa Senhora da Conceição, a quem fez a promessa de rezar uma novena se lhe fosse concedida a bênção de seu marido não ser preso.

Prece atendida, Sabino dedicou-se à construção de uma capelinha e Angélica adquiriu uma bela imagem de Nossa Senhora da Conceição para cumprir a promessa de nove dias de festa cristã. Celebração que acontece até os dias de hoje no mês de dezembro.

Publicado em 02/11/2008 no Jornal da Cidade, SE. 

Memórias do cangaço em Sergipe

Nossa Senhora da Glória
Por Caio César Santos Gomes

Entre fins do século XIX até meados da década de 1940, o sertão brasileiro serviu de palco para um movimento de caráter social que aterrorizou populações e deixou profundas marcas na memória dos indivíduos, que vão além de prejuízos materiais e mortes. Os bandos independentes que originaram o movimento do cangaço tiveram como figura principal o cangaceiro, sendo Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, o mais famoso e temido por todo o sertão. Em meio às andanças pelos sertões do Nordeste brasileiro, Lampião e seu bando percorreram vários estados, inclusive Sergipe.

Em 22 de abril de 1929, o Jornal Gazeta de Sergipe, na edição de número 424, noticiou a entrada de Lampião em Sergipe pela região do atual município de Canindé de São Francisco, de onde seguiu para Poço Redondo, vindo posteriormente para Nossa Senhora da Glória, em 20 de abril de 1929. Essa passagem de Lampião pela cidade de Nossa Senhora da Glória, ocorrida em um sábado, dia da feira local, provocou uma onda de pânico na população que temia saques e derramamento de sangue.

Alguns dos atores sociais que vivenciaram a data, como é o caso de Gerino Tavares, que na época tinha 24 anos de idade, relembram como foi o 20 de abril de 1929 em Nossa Senhora da Glória. De acordo com o depoente, a passagem de Lampião e os cangaceiros pela localidade ocorreu de forma “tranqüila”, uma vez que em Nossa Senhora da Glória, o capitão do sertão agiu de forma diferente, contrariando a expectativa da população local, que temia uma passagem violenta. Outros entrevistados confirmam a passagem tranqüila, como é o caso de Maria Gerovina Aragão, que relembra:

Eles ficaram e almoçaram e depois que almoçaram saíram. Saíram e ficaram na rua olhando isso e aquilo outro, mas não mataram nem nada, só fizeram medo e acabou”,

referindo-se ao comportamento dos cangaceiros na cidade após almoço que ela ajudou a preparar na casa do seu padrinho, o intendente João Francisco de Souza.

Em uma publicação sobre a história da cidade, da década de 1980, produzida pelo Banco do Nordeste, encontramos o depoimento de Maria Nila de Almeida, que ratifica a informação da passagem tranqüila e ainda aponta atos de generosidade praticados por Lampião na cidade, distribuindo moedas entre as crianças, inclusive a própria, que na época “já era uma franguinha de moça”. Nesta mesma publicação o senhor Manoel Messias relembra como foi ver Lampião em sua frente, quando este foi fazer a barba com Zé Bisonho. Segundo Manoel Messias, Lampião deixou dois cangaceiros na porta da barbearia para impedir que a multidão curiosa invadisse o local.

Além da passagem dos cangaceiros pela sede do município, de acordo com o testemunho oral, Lampião e seu bando circulavam pelos povoados da região, deixando marcas da sua passagem. Para Maria Eurides Santos, a passagem de Lampião pela sua casa, no povoado Lagoa Grande, deixou um registro de medo em sua memória, uma vez que o cangaceiro em meio a ameaças mandou seus pais encherem de mantimentos uns bornais que eles carregavam. Após o ocorrido, Maria Eurides lembra que Lampião ordenou que uma vizinha sua apagasse as pegadas deixadas no chão a fim de evitar que alguma volante os seguisse pelo rastro deixado. As marcas do chão foram apagadas, mas as da memória da depoente permanecem até hoje.

Um outro dado da historiografia sobre o cangaço em Nossa senhora da Glória revela a passagem da volante baiana de Zé Rufino pela fazenda Malhada, em direção à Poço Redondo em busca de informações sobre o paradeiro de Lampião. A caçada ao cangaceiro fez com que Zé Rufino e sua volante se tornassem alvos de coiteiros e espiões. Por isso, em sua caminhada rumo a Poço Redondo, sabendo do risco que corria Zé Rufino e seu grupo, mudaram de rumo e seguiram para Nossa Senhora da Glória, onde acampou na Fazenda Malhada e ali foi informado que a volante sergipana de Zé Luís tinha estado na região à procura dos cangaceiros.

No ano em que a morte de Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros na chacina de Angicos, em Poço Redondo, completa 70 anos e a cidade de Nossa Senhora da Glória festeja 80 anos de emancipação política, informações como estas revelam um lado pouco conhecido da história local e a relação com o cangaço. A passagem de Lampião e seu bando pela cidade já é conhecida pela população, porém esses detalhes que somente os testemunhos de quem viveu a época podem revelar, mostram um lado ainda desconhecido do fato, mas que tornam a história não só mais rica, mas também mais viva e comovente.

Publicado originalmente no JORNAL DA CIDADE / Aracaju em 10/08/2008  

Lampião e seus cabras: Representações do cangaço na cultura popular

Representações do cangaço na cultura popular 

Por: Caio César Santos Gomes

Os estudos sobre o cangaço estão presentes nas diversas áreas da pesquisa histórica, uma vez que essa temática foi e continua sendo um ponto de discussão sobre o qual emergem diversos questionamentos que contribuem para a produção de pesquisas acadêmicas e profissionais.

Do ponto de vista da historiografia, muitos estudos referentes ao cangaço já foram produzidos, o que corrobora a importância de tal assunto para a história regional e nacional. A maioria dos estudos realizados se debruça sobre o movimento em questão, bem como o resultado material de suas ações pelos sertões do nordeste brasileiro. Porém, cabe salientar que a presença o cangaço tem sua importância reconhecida não apenas devido às proporções que o movimento tomou ao longo de décadas. Uma das marcas deixadas pelo cangaço foi a forte influência nas formas de representação cultural.

O movimento do cangaço tem uma presença marcante em diversos segmentos da cultura popular do Nordeste brasileiro. As influências podem ser facilmente percebidas, merecendo destaque a literatura pela vasta produção sobre o assunto. Mas essas influências não estão restritas ao campo da literatura, elas também aparecem com bastante solidez no teatro, na música, nos grupos de bacamarteiros, na culinária, no artesanato, no cinema, enfim, numa série de manifestações que retratam o cotidiano popular.

O artesanato regional é um forte repositório dos elementos figurativos e representativos do movimento. Em qualquer ponto turístico da Bahia ao Ceará é possível encontrar diversas lembrançinhas que remetem a figura dos cangaceiros. Outro repositório são as feiras livres, que vendem a céu aberto vários utensílios típicos da época e que remonta ao período do banditismo social e a ação dos cangaceiros nos sertões como os típicos chapéus e sandálias em couro, armas brancas como facas e facões, lamparinas, esteiras, chapéus de palha, enfim, uma série de elementos que eram utilizados no dia-a-dia por Lampião e seu bando.

Uma das maiores formas de representação e difusão do cotidiano do cangaço são as quadrilhas juninas, desde aquelas que apresentam o casal de cangaceiros Lampião e Maria Bonita, até as que trazem no nome a referência ao cangaço. Um dos refrões mais conhecidos do grande público: “Acorda Maria Bonita! Levanta vem fazer o café, que o dia já vem raiando e a polícia já ta de pé.” é presença garantida na maioria das quadrilhas juninas, e mostra como era o dia-a-dia de um grupo de cangaceiros: acordar cedo, preparar algo para comer e logo em seguida sair em fuga para escapar das forças volantes.

A existência dos elementos representativos do cangaço na cultura popular como observamos, é uma realidade que a todo tempo se mostra presente no nosso dia-a-dia. Por vezes, é comum que esses detalhes passem despercebidos aos nossos olhos, mas basta observar ao nosso redor e veremos que ainda se mantém viva as tradições e as memórias de Lampião e seus cabras em na região, e cabe a pesquisa histórica e principalmente as futuras gerações preservar esse patrimônio tão rico e memorável que são as tradições, as representações, enfim, a cultura popular, maior marca da identidade de um povo.

Caio César Santos Gomes - Graduado em História pela Universidade Tiradentes (UNIT); Pós-graduando em Ensino de História pela Faculdade São Luís de França (FSLF)

I ENCONTRO NORDESTINO DE CORDEL EM BRASÍLIA

Evento debaterá ações para o setor e trará para cidade grandes nomes do repente e do cordel.

O Teatro da CAIXA recebe nos próximos dias 28 e 29 de maio, o I Encontro Nordestino de Cordel em Brasília. Organizado pela Associação dos Cantadores Repentistas e Escritores Populares do DF e Entorno (Acrespo), patrocinado pela CAIXA, e apoiado pelo Ministério da Cultura, o Encontro apresenta, com entrada franca, seminário, mesas-redondas, lançamento de livro, exposições de publicações em cordel e shows.


São esperadas para a abertura oficial, no dia 28, as presenças do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, do Ministro da Cultura, Juca Ferreira e da presidente da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Ramos Coelho.

O I Encontro Nordestino de Cordel em Brasília tem por objetivo valorizar, difundir e fortalecer as manifestações culturais do Nordeste a partir da linguagem do Repente e da Literatura de Cordel. Para isso, foi montada uma completa programação que engloba desde o debate e a proposição de ações estruturantes para o setor, até lançamento de livro, exposições de Cordéis e shows com cordelistas, repentistas e cantadores. À exceção da abertura oficial, restrita para convidados, os outros eventos são abertos ao público.

A atividade âncora do Encontro é a realização, no dia 29, do Seminário “Políticas Públicas para o Cordel”, que reunirá artistas, editores, professores, pesquisadores, gestores públicos, políticos, empresários, dirigentes de entidades do terceiro setor, entre outros interessados nos temas. O Seminário discutirá, em duas mesas-redondas, duas importantes ações para o setor: A proposta de criação da Cooperativa Nacional de Cordel em âmbito nacional como instância de integração, mobilização e proposição de ações comuns entre os diversos atores e iniciativas existentes no País ligados ao Cordel e suas linguagens afins; e, A mobilização em torno do pedido de registro, junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do Repente e da Literatura de Cordel como patrimônios imateriais brasileiros.

Na parte artística, a Acrespo, organizadora do Encontro, celebra a relevância da ocasião apresentando ao público diversas manifestações que dialogam com o cordel. O Encontro abre espaço para o lançamento em Brasília, do livro “Lula na Literatura de Cordel”, do escritor Crispiniano Neto (RN) e para a exposição no foyer do Teatro de folhetos, CDs e outras publicações de editoras especializadas em literatura de Cordel. Por fim, o I Encontro Nordestino de Cordel em Brasília encerra com uma homenagem especial ao consagrado poeta popular do Nordeste brasileiro, Patativa do Assaré, no ano em que se comemora o seu centenário de nascimento.

PROGRAMAÇÃO

28/05 (quinta-feira) - Abertura oficial para convidados
18h- Recepção de Convidados – área externa da CAIXA Cultural
• com a Orquestra Marafreboi (Ceilândia/DF).

19h - Abertura Oficial – Teatro da Caixa Cultural Mestre de Cerimônia: Chico Simões (Mamulengueiro).
• Execução do Hino Nacional em Frevo pela Orquestra Marafreboi e pelos alunos de música do Ponto de Cultura Menino de Ceilândia (Brasília).
• Apresentação dos repentistas Chico de Assis (DF) e Antônio Lisboa (PE).
• Fala do Presidente da Academia Brasileira de Cordel, Gonçalo Ferreira.
• Apresentação dos Repentistas Ivanildo Vila Nova (PE) e José Luis (RN).
• Fala em verso de Crispiniano Neto (Repentista/Secretário de Cultura do Estado do RN).

21h - Coquetel de lançamento do livro “Lula na Literatura de Cordel” – foyer do Teatro da CAIXA e abertura da exposição de livros e publicações de cordel.

29/05 (sexta-feira) Seminário “Políticas Públicas para o Cordel”
9h – Abertura - fala de representantes institucionais: Francisco de Assis (Presidente da Acrespo) e Fabiano dos Santos (Secretaria de Articulação Institucional do Ministério da Cultura).

9h30 - Mesa-Redonda: “Criação da Cooperativa Nacional de Cordel – desafios e perspectivas”.Mesa: Crispiniano Neto, cordelista e Secretário de Cultura do Rio Grande do Norte; Francisco de Assis, repentista e Presidente da Acrespo; e Tarciana Portella, chefe da Representação Nordeste do Ministério da Cultura.Mediador: Gonçalo Pereira (Presidente da Academia Brasileira de Cordel).

10h30h - Debate com o público participante.

12h00 - Encaminhamentos sobre a proposta de criação da Cooperativa de Cordel (Crispiniano Neto, Francisco de Assis)

12h15 – Encerramento com apresentação dos Emboladores de Coco Roque (PE) e Teresinha (RN).

12h30 - Intervalo para almoço.

14h – Mesa-Redonda: “A importância da Literatura de cordel e do repente como Patrimônio Imaterial”.Mesa: Luiz Fernando Amaral, Presidente do Iphan; e os repentistas Antonio Lisboa (PE) e João Bosco Bomfim (CE).Mediador: Crispiniano Neto (Natal-RN).
16h00 - Debate com o público participante.
17h30 – Encerramento. TRIBUTO A PATATIVA DO ASSARÉ Homenagem aos 100 anos de nascimento do poeta Patativa de Assaré

19h30- Apresentação de Cordelistas e Repentistas:
Paulo de Tarso (CE).
Ivanildo Vila Nova (PE) e José Luiz (RN).
Moreira de Acopiara (SP).
Antonio Lisboa (PE) e Ismael Pereira (CE).
Zé do Cerrado (PB) e Zé Maria de Fortaleza (CE).
Antonio Francisco (RN).
João Santana (DF) e Valdenor de Almeida (PB).
Arievaldo Viana (CE) Marcus Lucenna (RJ).

Serviço

I Encontro Nordestino de Cordel em Brasília
Data: dias 28 e 29 de maio de 2009
Horário: ver programação
Local: Teatro da CAIXA - SBS Qd 4 lote 3/4, anexo do edifício Matriz da CAIXA
Recepção: 3206-9448 - Administração: 3206-9450

Maiores Informações:
Produção do Evento Seminário “Políticas Públicas para o Cordel”
Data: 29 de maio de 2009
Horário: das 9h às 17h30 (ver programação)
Local: Teatro da CAIXA - SBS Qd 4 lote 3/4, anexo do edifício Matriz da CAIXA
Inscrição gratuita: pelo telefone (61) 3522- 5202 ou pelo e-mail encontrodecordel@gmail.com

Tributo a Patativa do Assaré
Data: 29 de maio de 2009
Horário: 19h30 (ver programação)
Local: Teatro da CAIXA - SBS Qd 4 lote 3/4, anexo do edifício Matriz da CAIXA
Entrada franca
Classificação Etária: Livre

Assessoria de Imprensa do evento: Amanda Guerra e Luis Flávio Luz 
(61) 8484- 3390/ (61) 7815- 5472 / (21) 7868- 6006.
ID 97*1912 ID 97*1913.
Assessoria de Imprensa Caixa Econômica Federal
CAIXA Cultural - Brasília/DF (61) 3206-8030 / 9895(61) 9202-2144. imprensa.cultura@caixa.gov.brwww.caixa.gov.br/caixacultural

terça-feira, 26 de maio de 2009

Desta eu não sabia


Porquê Sergipe segue sem um museu do Cangaço

Há muito tempo Vera Ferreira, neta de Lampião e Maria, tem desejado implantar o Memorial do Cangaço, espaço que comportará todo o seu acervo e enfim a história de seus avós. Sabe-se que desde então o projeto não sai do papel, e não fica claro o impasse: se é só o dinheiro etc. Mas na gestão do ex governador Albano Franco descobrimos o porque da não realização. 

A matéria é do ano passado, não consegui um exemplar impresso em compensação o site disponibiliza semanas após a retirada de circulação das bancas.

Lampião setenta Publicado em: 30/07/2008 no Jornal da cidade Aracaju - SE.

Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião que durante muitos anos aterrorizou o nordeste brasileiro, completou neste final de semana 70 anos de falecido em Sergipe, quando foi abatido pelo comandante da Força Volante, o coronel José Bezerra, numa gruta entre os municípios de Piranhas e Poço Redondo, o primeiro em Alagoas e o segundo em Sergipe. Sete décadas depois do seu fim, a figura de Lampião ainda continua sendo discutida se foi um bandido ou a vítima de violências que o revoltaram no agreste onde vivia.
 

O capitão Virgulino, como era conhecido, formou um grupo de parceiros e durante anos invadiu fazendas, cidades e povoados onde matava quem reagia a ele e roubava os pertences em dinheiro, armas ou objetos. Os bandoleiros nadavam a cavalo e agiam constantemente em suas agressões aos sertanejos de todos os estados. Coiteiros eram denominados alguns fazendeiros da região que atemorizados pelos ataques se aliavam aos bandidos facilitando a sua ação criminosa e até oferecendo dinheiro a eles para protegê-los. 

Um desses ricos fazendeiros residentes em Propriá enchia sacos de cédulas para oferecer aos bandoleiros quando estes entravam na cidade. Lampião tinha uma companheira que se chamava Maria Bonita, com quem teve sua única filha chamada Expedita que foi criada pelo tio João Ferreira. Expedita ainda mora em Aracaju e sua filha Vera escreveu o único livro que existe sobre Lampião em parceria com um jornalista local que editou a obra ainda hoje consultada pelos pesquisadores.

Vejamos agora a "melhor" parte da matéria!

O
governador Albano Franco quis criar o Museu do Cangaço em Aracaju para fins turísticos, colecionando pertences do bando, mas foi desaconselhado pelo seu secretário do Planejamento, Marcos Melo, que o advertiu a não valorizar a memória de bandoleiros. Lampião acabou, mas a sua figura ainda é relembrada.

O que terá pensado João Alves que sucedeu Albano Franco e o que pensa atualmente Marcelo Déda com relação a implantação do tão aguardado museu?
 
Marcos Antônio de Melo atualmente ocupa a Cadeira de número 40 da Academia Sergipana de Letras (ASL).

Terra de cangaceiro 2

O cangaço na vida de Poço Redondo 
Por: Alcino Alves Costa

Ao contrário dos que garantem e afirmam ser o cangaço um flagelo que teve seu início por volta de 1870, pode-se afirmar com segurança que ele surgiu nos campos do sertão nordestino desde os idos do Brasil Colonial.

O cangaço e as secas foram os grandes flagelos dos povos sertanejos. Todo o nordeste se rendeu aos horrores daquela tenebrosa sociedade do crime. A seca dizimava os campos e a vida pastoril. O cangaço fazia nascer e florescer brutais criminosos, mestres do bacamarte e do clavinote. Alguns desses sanguinários matadores se tornaram célebres personagens da história sertaneja. Estão nos livros as aventuras de Inocêncio Vermelho, João Calango, Jesuíno Brilhante, Né Dadu, Sinhô Pereira, Luiz Padre e aquele que foi a sua maior e mais luminosa estrela: Virgulino Ferreira da Silva – Lampião.

Em se estudando o cangaço não se pode desconhecer uma verdade pura e cristalina que é aquela de se verificar que essa epopéia nordestina legou o seu povo a um terrível sofrimento, uma provação sem precedente e que varou anos e mais anos, só vindo ter fim na histórica chacina de Angico, no Riacho do Tamanduá, conhecido famosamente como Riacho do Angico, em Poço Redondo, local onde morreram Lampião, Maria Bonita, e ainda, nove de seus companheiros.

Pode-se atestar, com toda convicção, que o cangaço, através da sanha perversa e homicida do cangaceiro, e até das volantes do governo, eram pestes que só traziam dores e sofrimentos para os povos catingueiros.

Nada neste mundo se compara ao sofrimento e agonia que viveu a nossa indefesa gente cabocla, vivendo, por tão longos anos, a mercê daquela turba sanguinolenta que sentia especial prazer em judiar, esfolar e matar as pobres, desvalidas e desafortunadas famílias caipiras.

Cangaceiro e soldado achavam-se os senhores da vida e da morte dos que habitavam as terras dos cafundós dos sertões.

Positivamente, cangaço e volante foram desgraças que enlutaram o povo sertanejo. Que os digam as 83 mortes acontecidas no Estado de Sergipe, sendo 69 delas acontecidas no Sertão do São Francisco. Infelizmente, o nosso sofrido e heróico Poço Redondo teve a desventura de ver suas terras empapadas pelo sangue de 55 pessoas assassinadas pelas armas bandoleiras e pelos soldados de volante.

Os tempos de Lampião causaram estragos irreparáveis na vida do homem do campo. O flagelo do cangaço foi o responsável pela perda total da tranqüilidade e paz do simplório campônio que viu estupefato e indefeso o seu mundo sertanejo preso, dominado, oprimido e torturado pelos senhores do crime e pelos senhores da lei, tão ferozes como aqueles.

O sangue sertanejo embebeu a terra cabocla de Poço Redondo. Desesperada e indefesa, a população do lugarzinho de China deixou suas casas e se jogou pelo mundo, não ficando uma só família, um só morador naquela abandonada e triste povoação. O êxodo foi total. Por duas vezes – 1932 e 1937 – essa diáspora do povo de Poço Redondo aconteceu. As ruas e praças ficaram abandonadas, nelas não se via um ser humano. As taperinhas com suas portas e janelas abertas e os animais silvestres descansando em seus telheiros, sem nenhum receio de serem atacados pelos caçadores. Os pebas e tatus faziam suas moradias nas salas, varandas, quartos e cozinhas das casas desertas. Quem visse Poço Redondo estava vendo um cenário de dor e infinita tristeza.

Fugindo da maldição daqueles terríveis tempos, os tempos do cangaceiro e das volantes, os habitantes de Poço Redondo deixaram o seu mundo amado e foram viver em outros lugares, principalmente Canhoba, Telha, Propriá e a então Serra Negra do tenente João Maria de Carvalho.

Essa comovente aventura conhecida como “As carreiras” é um marco glorioso na história de Poço Redondo que após a morte de Lampião viu seu povo retornar e refazer o seu lugarzinho tornando-o com o andejar dos anos um lugar de respeito e destaque em todo Sertão do São Francisco.

Filho do sofrimento e da pobreza, mesmo assim, a coragem e a fé dos filhos e habitantes de Poço Redondo fizeram-no um grande e considerado município que é um dos fortes pilares do Sertão do São Francisco e de Sergipe.

Publicada: 19/06/2008 no JORNAL DA CIDADE

Uma seleção do melhor da Almanaque Brasil


Obra traz histórias publicadas nos últimos 10 anos da revista

Por Livia Deodato

No dia de ontem, mas no ano de 1940, o tenente Zé Rufino marcha mais de mil quilômetros atrás do último cangaceiro vivo. Todo o bando de Lampião havia morrido ou se entregado dois anos antes. Antes de pegar a estrada ao lado de sua mulher, Dadá, Corisco corta a cabeleira. Leva consigo apenas um revólver, 300 contos de réis e dois quilos de ouro. No dia 25 de maio, Zé Rufino finalmente o alcança, mas Corisco não se rende: "Sou homem pra morrer, não pra me entregar." É metralhado pelas costas. Ouro e dinheiro jamais foram vistos.

Há dez anos, Elifas Andreato e João Rocha Rodrigues se debruçam sobre as mais intrigantes e genuínas histórias que recontam o Brasil de Norte a Sul. Desde 1999, origem de expressões populares, efemérides dos 365 dias do ano (junto aos seus respectivos santos), características marcantes dos signos do zodíaco e particularidades só vistas em terras tupiniquins ilustram a revista Almanaque Brasil, distribuída em voos da TAM e por meio de assinaturas. "Os 150 mil exemplares mensais desaparecem em menos de 15 dias. É um sucesso danado", comemora Elifas.

Pois a parceria bem-sucedida entre a companhia aérea, cujo slogan é o Orgulho de Ser Brasileiro, e a Andreato Comunicação e Cultura acaba de render uma compilação que reúne os mais relevantes fatos publicados nesta década. Brasil - Almanaque de Cultura Popular, que terá lançamento fechado para convidados hoje no MAM e já se encontra disponível nas livrarias, é uma espécie de "melhores momentos" das dezenas publicadas mês a mês desde 1999. "Extraímos o que achamos mais interessante, sem deixar de contemplar as efemérides sempre presentes em almanaques, assim como as brincadeiras como, por exemplo, a seção intitulada Estação Colheita, em que apresenta o que ?se colhe? em cada mês", relata Elifas. "Se antes era retratada a visão dos sertanejos, agora é comprovação científica", diverte-se. Em tempo: até o dia 31 é época de laranja, pimentão verde, seriguela e tangerina.

Logo após a apresentação de Ziraldo, tão divertida quanto todo o almanaque, é destrinchada a história dessa publicação no mundo e no Brasil - a etimologia teria vindo do árabe al-manakh, lugar onde os camelos se ajoelham para beber água em meio a uma viagem. A crônica Como se Inventaram os Almanaques, escrita por Machado de Assis em 1890, também presente na obra, profetiza: "E hão de chover almanaques. O Tempo os imprime, Esperança os edita; é toda a oficina da vida."

Serviço
Brasil - Almanaque de Cultura Popular. De Elifas Andreato e João Rocha Rodrigues. Ediouro. 256 pág.
R$ 54,90. MAM. Parque do Ibirapuera, portão 3. Hoje, 20 h, (Só para convidados).

FONTE: Estadão

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Lugares da memória

Inaugurado o Mini Museu de Alagadiço


Foto Antonio Correia Sobrinho



Eu e o confrade Marcelo Rocha estivemos presente sábado passado (23/05) na cerimônia de inauguração do "Mini Museu do Cangaço" idealizado e mantido pelo escritor Sergipano Antônio Porfírio, autor do Livro "Lampião e Zé Baiano no povoado Alagadiço".

Evento este que mais uma vez movimentou a vida pacata da localidade, prestigiado por alguns pesquisadores e amantes do Cangaço além de diversas autoridades locais.

O mini museu tem em anexo uma pequena e valiosa Biblioteca contendo quase que 60% de literatura Sergipana, com destaque para a obra completa de Tobias Barreto, além de trabalhos de meus conterrâneos, os lagartenses Sílvio Romero, Laudelino Freire e Joel Silveira.



Pelas fotos acima os amigos vão notar e reprovar o acesso "indevido" que tivemos ás peças apresentadas, o contato foi inevitável, também não concordamos. Apesar de não serem "comprovadamente" utilizadas pelo cangaço elas não deveriam estar expostas sem proteção de uma redoma ou vitrine, os amigos sabem que o contato com o suor e outras substâncias do ar aceleram o processo de oxidação dos metais que de fato tem mais de setenta anos.

Detalhes a parte, parabenizamos mais esta ação do confrade Porfírio que vem ampliar e dignificar ainda mais a rota do cangaço em Sergipe. Tudo indica que em Julho ocorrerá a segunda edição do encontro Cultural de Alagadiço com shows artísticos, Grupos Folclóricos além de presenças e palestras de importantes figuras e estudiosos do cangaço.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Personagens históricos do Cariri cearense


Os Macedo
Melito Sampaio Alencar e seus irmãos, Brigadeiro José Sampaio Macedo e Dr.Otacílio Macedo são responsáveis pelas melhores estórias do Crato.


Dr. Otacílio
Todos muito inteligentes, dotados de um humor irônico, sarcástico.O Melito contava suas piadas ou fazia suas presepadas extremamente sério. Não ria de forma nenhuma. Só interiormente! Costumava fazer ponto na Praça Siqueira Campos pela manhã. Era produtor, dono de engenho.O Brigadeiro era reformado da Aeronáutica, tendo sido o primeiro comandante da Base Aérea de Fortaleza. Participou da Revolução de 32, como legalista, combatendo as forças paulistas com ataques aéreos.  

Em 1934 comandou uma tropa de 54 homens que tentou prender o famoso Lampião.

Chegou a travar tiroteio, sendo atingido no tornozelo, deixando-o com uma seqüela. Lembro-me, bem menino, tê-lo visto fazendo rasantes no Crato, dando “loops” e “parafusos”. Voava quase na vertical, parava o motor e o avião vinha caindo em parafuso. Era a chamada “folha seca”. Tudo isso em teco-teco! Aliás, o primeiro pouso de avião no Crato foi na década de trinta, pilotado pelo Brigadeiro.O avião ainda estava taxiando, quando populares correram para junto do avião.

Um deles, parente do Brigadeiro, foi degolado pelo avião. Outra façanha do Brigadeiro foi estabelecer as bases para a implantação do Correio Aéreo Nacional, juntamente com o Marechal Casimiro Montenegro Filho. Enquanto o, então, tenente Montenegro vinha estabelecendo as bases do sul para o Ceará, o Brigadeiro fazia o percurso contrário. Também era produtor, no Crato, dono de engenho.

O Dr. Otacílio era médico, excelente orador e jogador profissional de baralho. Mas a sua grande vocação mesmo era o jornalismo. Patrono da cadeira nº 13 do Instituto Cultural do Cariri. Ficou famosa a entrevista que ele conseguiu com o Lampião, quando esteve em Juazeiro do Norte. Foi a melhor entrevista concedida pelo famoso cangaceiro. Os irmãos Macedo tinham mesmo uma tendência a envolver-se com o Lampião...

Brigadeiro e Melito.
O interessante é que não se falavam entre si, mas não deixavam de participar das conversas, na praça. Com um detalhe: para se dirigirem um ao outro, precisavam de um “intérprete”. Caso o Brigadeiro quisesse dizer alguma coisa para o Melito, falava para o “intérprete”. Este repetia tudo, mesmo estando a uma distância de menos de meio metro um do outro. Em seguida o Melito respondia, e o “intérprete” repassava para o Brigadeiro...O Luís conviveu muito de perto com todos eles. Recorda-se com muito carinho das estórias dos Macedo.

O Brigadeiro José Macedo fez muita história no Crato. Era uma figura polêmica e não fazia questão de contemporizar. Não gostava nem um pouco do Padre Cícero. Por isso diziam que ele havia bombardeado o acampamento do Caldeirão, do Beato José Lourenço, apadrinhado do Padre Cícero.

Nas conversas, na Praça Siqueira Campos, quando questionado, dizia irritado:-  
“Que nada! Eu lá joguei bomba naqueles fanáticos! O que eu fiz foi dar uns vôos rasantes, dizer muitos desaforos e jogar uns panfletos. Naquele tempo os aviões nem carregavam bombas. Além do mais a topografia do local não permitia vôos para bombardeamentos”.

Fonte: http://sonocrato.blogspot.com/

domingo, 17 de maio de 2009

Guerra no Sertão sergipano

A batalha de Maranduba
Em princípios de janeiro de 1932, na fazenda Maranduba, no sertão do Sergipe, Lampião repetiu o fato militar da Serra Grande, em 1926, ao derrotar uma numerosa força militar, integrada por famosos combatentes contra o cangaço.


Fotos de Marcos Carvalho

Na opinião de um desses destacados militares, o Tenente Manoel Neto, da força pernambucana, em Maranduba “ele nunca tinha visto tanta bala como viu ali”. A intensidade do tiroteio travado entre Lampião e o seu bando e as forças militares foi de tal intensidade que um contemporâneo dos acontecimentos registrou o fato de que “uma coisa que foi muito comentada e com curiosidade, foi que no local em que aconteceu o fogo de Maranduba, durante vários anos, das árvores e dos matos rasteiros não ficaram folhas. Tudo era preto, como se tivesse passado um grande fogo. As árvores ficaram completamente descascadas de cima abaixo, de balas”.


Foto de Marcos Carvalho

Tal como ocorrido em Serra Grande, Lampião preparou uma emboscada com o objetivo de liquidar, de uma só vez, todo o efetivo militar. Mais uma vez, os chefes da força policial subestimaram a competência de Lampião e acreditaram que a superioridade que detinham em homens e armas seria um fator de desequilíbrio na batalha.

Alguns historiadores tentam "minimizar" a vitória obtida por Lampião depois de uma feroz batalha, admitindo, apenas, de que, no final das contas, houve “perdas humanas tanto entre os cangaceiros como entre as forças volantes, porém com maior prejuízo para estas ...”

Para que se tenha uma idéia do que representou esta batalha para ambos os lados e para a história das lutas sociais do Nordeste, dois pontos devem ser ressaltados:

O primeiro ponto importante refere-se à participação, nesta batalha, dos aguerridos e temíveis Nazarenos. Os nazarenos, uma força policial dedicada em tempo integral na busca e, se possível, destruição de Lampião e seu bando, já eram lendários nos sertões nordestinos, por suas ações militares. Nesta batalha participaram sob o comando do Tenente Manoel Neto.

O segundo ponto a ser destacado é que, apesar da longa, dolorosa e sangrenta campanha contra Lampião e da experiência militar adquirida, mais uma vez os chefes militares deram provas de que sua inteligência sempre ficou abaixo dos arroubos da valentia. A raiva, a fúria e a arrogância foram confrontadas com o sangue-frio, a paciência e a inteligência de Lampião. Rodrigues de Carvalho chegou a afirmar, analisando estas e outras batalhas que Lampião tinha praticado “façanhas de deixar muito curso do Estado Maior com água na boca”.

No caso específico de Maranduba, o historiador Rodrigues de Carvalho não hesita em afirmar que, apesar da superioridade em homens e armas, por parte das forças militares, Lampião demonstrou uma superioridade tática sobre seus adversários. Escreve ele: “E a verdade deve ser dita: quem primeiro abandonou o campo de luta foi a força”. E, mais adiante: “O fato é que durante a extensão da tremenda refrega, que foi por toda a tarde, pode dizer-se sem medo de cometer injustiça, o domínio da situação pertenceu ao ardiloso facínora. Estava todo o tempo, como se diz vulgarmente, serrando de cima”

O cangaceiro Angelo Roque (Labareda) que participou nesta batalha, em depoimento prestado a Estácio Lima e publicado no livro O Mundo Estranho dos Cangaceiros, descreve o que aconteceu, neste dia, no seu linguajar típico:

“... Nóis cheguêmo na caatinga de Maranduba, pru vorta di maio dia, i tratemo di discansá i fazê fogo prôs dicumê, i nóis armoçá. Mas a gente num si descôidava um tico, i nóis sabia qui as volante andava pirigosa. Inquanto nóis discansava, botemo imboscada forte, di déiz cabra pra atacá us macaco qui si proximasse.
Nóis cunhicia us terreno daqueles mundão, parmo a parmo. Us macaco num sabia tanto cuma nóis. Todos buraco, pedreguio, levação, pé di pau, pru perto, nóis sabia di ôio-fechado, i pudia tirá di pontaria sem sê vistado. Nisso, vem cheganou’a das maió macacada qui tivemos di infrentá. I us cumandante todo di dispusição prá daná: Manué Neto, qui us cangacêro tamém chamava Mané Fumaça, Odilon, Eucride, Arconso i Afonso Frô.

Fotos: Sérgio Augusto de Souza Dantas
Tamém um Noguêra. Nesse bucadão di macaco tava u Capitão ou Tenente Liberato, du izérto. Dizia us povo qui ele era duro di ruê. I era mesmo. Brigava cuma gente grande, i marvado cumo minino. Mas porém, valente cumo u capêta. Di nada sirvia a gente gostá i tratá com côidado um mano qui êle tinha na Serra Nêga. Essa Força toda dus macaco si pegô mais nóis na Maranduba. Nóis era trinta e dois cabra bom.
 U Capitão Virgulino tinha di junto, nessa brigada, us principá cangacêro: Virgino, Izequié, Zé Baiano, Luiz Pêdo i seu criado Labareda. Dus maiorá só fartava mesmo Curisco sempre gostô di trabaiá sozinho, num grupo isculido di cangacêro, mais Dadá. Briguemo na Maranduba a tarde toda i nóis cum as vantage cumpreta das pusição, apôis us macaco num pudia vê nóis. A volante di Nazaré deve tê murrido quaji toda. Caiu, tamém, matado di ua vêis, um dus Frô, qui si bem mi alembro, foi u Afonso. Cumpade Lampião chegô pra di junto do finado i abriu di faca a capanga dêle, i achô um papé qui tinha iscrito um decreto dizeno qu ele já tinha dado vintei quatro combate cum u cumpade Lampião.
Veio morrê nu vinte i cinco. A valia qui tivemo nessa brigada foi us iscundirijo. Morrero, aí, trêiz cangacêro i trêiz ficô baliado. Us istrago qui fizemo nessa brigada foi danado ! Matemo macaco di horrô !”

Do depoimento de Labareda e de outros testemunhos da batalha de Maranduba,alguns pontos devem ser destacados:
1. O completo conhecimento que Lampião e os cangaceiros tinham do terreno onde foi travado o combate.
2. A competência tática de Lampião em contraposição à incompetência dos chefes militares.
3. A participação dos nazarenos, comandados pelo Tenente Manoel Neto, um veterano nas lutas contra Lampião e o cangaço.
4. As baixas entre nazarenos: seis mortos e oito feridos.
5. As baixas entre os cangaceiros: três mortos e quatro feridos.
6. Um detalhe importante: as tropas militares eram superiores em número, na proporção de três para um.

Enfim, a batalha de Maranduba constituiu-se num acontecimento invulgar na história recente do Nordeste. Na opinião de Rodrigues de Carvalho, este combate pode ser considerado como sendo o mais “renhido e porfiado de todos os cheques armados desta controvertida campanha contra o banditismo no eixo Sergipe-Bahia. Foi uma chacina horrível pelas deploráveis consequências que tivera para as forças legais empenhadas no combate. O número de baixas fatais foi muito grande, exagerado mesmo, em relação ao número de combatentes empenhados na refrega”

Diante da tragédia que significou esta derrota das forças militares diante de Lampião e seu grupo, a historiografia oficial tenta minimizar o fato. O Capitão João Bezerra, personagem central do nebuloso episódio de Angicos, no seu livro de memórias, ao referir-se ao episódio de Maranduba, afirma apenas que neste local foi travado um “encarniçado combate com grandes perdas de parte a parte entre mortos e feridos”. Quase a seguir, duas páginas adiante, ele retifica a sua informação, dizendo que Lampião tinha sido “destroçado em Maranduba”.

Fonte: Souza, Jovenildo Pinheiro, em Sertão Sangrento: Luta e Resistência.
Transcrição: Ronnyeri (Comunidade Cangaço Discussão Técnica).

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Adendos por Ivanildo Silveira:

Vê-se, nas fotos abaixo, que o "Combate", aconteceu quase em campo aberto. Lampião, como grande estrategista que era, postou seus homens, entrincheirados em "Sete Pés de Umbu", de modo que os soldados ao entrarem no campo de fogo, ficaram cercados. de acordo com os ensinamentos do renomado escritor /pesquisador do Cangaço Dr. Sergio Augusto de Souza Dantas em seu livro "Lampião: Entre a Espada e a Lei pág 313, ainda existem, remanescentes, dois pés de umbuzeiro, no local onde aconteceu o Combate. Eis as arvores abaixo.


 Foto: Sérgio Augusto de Souza Dantas
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Correções de suma importância, fornecidas por Hildebrando Nogueira Neto (Netinho)

Amigos, tenho que fazer algumas ressalvas sobre o depoimento de Angelo Roque e do historiador Rodrigues de Carvalho:

1) Não houve seis mortos e oito feridos entre os Nazarenos.
De Nazaré morreram 4 homens: Hercílio de Souza Nogueira e seu irmão Adalgiso de Souza Nogueira (primos dos irmãos Flor), João Cavalcanti de Albuquerque (tio de Neco Gregório) e Antônio Benedito da Silva (irmão por parte de mãe de Lulu Nogueira, filho de Odilon Flor).

2) Não houve feridos entre os Nazarenos. Alguns componentes da Força de Pernambuco, oriundos de diversas cidades do sertão pernambucano.

3) Afonso Flor (irmão de Manoel Neto) faleceu em Recife na Revolução de 30 numa luta contra revoltosos vindo da Paraíba, portanto não poderia estar em Maranduba em 1932, como afirma o bandido Angelo Roque.

4) Os irmãos Odilon e Euclides Flor não estavam em Sergipe no início do ano de 1932. Se encontravam em Alagoas e Pernambuco respectivamente.